
“A violência contra os povos indígenas voltou a mostrar as suas garras de intimidação e morte”, alerta o Conselho Indigenista Missionário. Foto: Tiago Miotto/CIMI.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão da Igreja Católica no Brasil, tornou público esta semana um manifesto exigindo medidas urgentes para a proteção da vida dos indígenas e contra as invasões ilegais das suas terras. No documento, denunciam sucessivos casos de violência registados ao longo do último mês.
“A violência contra os povos indígenas voltou a mostrar as suas garras de intimidação e morte”, lê-se no manifesto, citado esta sexta-feira, 27 de janeiro, no site das Obras Missionárias Pontifícias, e onde se descreve como no dia 9 de janeiro homens armados dispararam contra dois jovens do povo indígena Mura, que estavam a colher castanhas no seu território, no município de Autazes (Amazonas).
No mesmo dia, no Maranhão, acrescenta o documento do CIMI, outros dois jovens Guajajara foram baleados na cabeça enquanto caminhavam por uma estrada que atravessa o território indígena Arariboia. Ambos tiveram de ser submetidos a cirurgias de emergência.
Uma semana depois, no dia 17 de janeiro, mais dois jovens, desta vez do povo Pataxó, foram brutalmente mortos a tiro no extremo sul da Bahia, refere ainda o texto do CIMI, acrescentando que, nessa mesma semana, um líder espiritual do povo Guarani foi sequestrado e torturado no oeste do Paraná, no contexto de conflitos decorrentes da falta de demarcação de territórios tradicionais.
Para o órgão da Igreja, não restam dúvidas: “o início do ano mostrou que a escalada da violência contra os povos indígenas continua a ser estrutural e avança com os seus traços habituais de crueldade e virulência”.
Assim, o CIMI pede ao novo Governo de Lula da Silva “que atue com energia, força e incontestabilidade desde o início, para proteger a vida dos povos indígenas e contrariar esta escalada de violência, impedindo qualquer cenário de impunidade”. Pede-lhe ainda que retome “a política de demarcação e proteção dos territórios indígenas”, porque “o desafio indiscutível de recuperar a convivência democrática no país passa claramente pela garantia dos direitos fundamentais dos povos indígenas”.
Recorde-se que, no início desta semana, os bispos católicos brasileiros já haviam divulgado um comunicado em que se mostravam “estarrecidos” com a situação vivida pelo povo yanomami e “profundamente solidários” com o mesmo, bem como com todos aqueles que estão a “tentar evitar mais mortes” na Amazónia [ver 7MARGENS].
O estado de emergência sanitária foi declarado pelo Governo brasileiro e criada uma comissão nacional de coordenação para combater a falta de assistência médica à comunidade indígena.