
O Quénia regista a pior seca dos últimos 40 anos, e há 942.000 crianças com menos de 5 anos a necessitar de cuidados médicos urgentes, devido ao risco de desnutrição aguda. Foto © Ocha/Charlotte Cans.
O governo do Quénia autorizou na semana passada a importação e cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM), proibida no país desde 2012, para enfrentar o agravamento da seca na região. Líderes religiosos e representantes de várias organizações não governamentais consideram que a decisão foi “precipitada” e poderá agravar os problemas já existentes, em vez de fazer parte da solução.
Wilybard Kitogho Lagho, bispo de Malindi, no sudoeste do Quénia, disse ao Catholic News Service que existe “pressão internacional” para a legalização dos OGM com o objetivo de vencer a escassez de alimentos decorrente das secas. Lagho alertou, no entanto, que essa opção “impede de discutir e resolver as causas” que estão na origem das mesmas, e que a decisão foi tomada num “momento errado”, em que as pessoas se encontram “mais vulneráveis”.
Fredrick Wafula, coordenador da Cáritas na diocese de Garissa, no nordeste do país, manifestou outros receios. “Estamos muito familiarizados com os métodos de agricultura orgânica, mas temos muito pouco conhecimento sobre a tecnologia geneticamente modificada. Não sabemos qual será o impacto desses produtos sobre o nosso meio ambiente e a saúde das pessoas”, assinalou.
“A segurança alimentar não é apenas sobre a quantidade, mas também sobre a qualidade dos alimentos”, pode ler-se num comunicado assinado por uma dezena de organizações não governamentais, entre elas a Greenpeace Africa, e onde se pede “que a proibição seja restabelecida”.
Até porque, acrescentam, esta decisão “vai abrir o mercado aos agricultores americanos que recebem grandes subsídios”, o que irá enfraquecer os pequenos produtores quenianos, noticia a Africa News.
Ex-ministro da Agricultura, o Presidente do Quénia, William Ruto, foi eleito no passado mês de agosto e prometeu revitalizar o setor, que corresponde a 20% do PIB do país.
Após anunciar a nova medida, o Governo emitiu um comunicado afirmando que pretendia “redefinir significativamente a agricultura no Quénia”, com a autorização de “culturas resistentes a pragas e doenças”, e alegando ter confiado nos conselhos da Organização Mundial da Saúde e da FAO antes de tomar a sua decisão.
O país regista a pior seca dos últimos 40 anos, e há 942.000 crianças com menos de 5 anos a necessitar de cuidados médicos urgentes, devido ao risco de desnutrição aguda. De acordo com a National Drought Management Authority (NDMA), agência pública queniana, cerca de 4,35 milhões de pessoas vão precisar de assistência alimentar urgente entre outubro e dezembro.