![Miriam, 16, campo de refugiados em Borno, Nigeria [Photo credit Yvonne Etinosa Save the Children]](https://setemargens.com/wp-content/uploads/2022/10/Miriam-16-campo-de-refugiados-em-Borno-Nigeria-Photo-credit-Yvonne-Etinosa-Save-the-Children-1024x522.png)
Rapariga no campo de refugiados de Borno, na Nigéria, o país que atualmente tem o maior número de casamentos infantis, apesar de ter também uma lei que os proíbe. Foto © Yvonne Etinosa Save the Children.
A crise provocada pela pandemia de covid-19 e os seus impactos na desigualdade de género deverá levar a que mais 10 milhões de raparigas com idade inferior a 18 anos sejam forçadas a casar-se até 2030, revela um relatório da organização internacional Save the Children, divulgado esta terça-feira, 11, data que que se assinalou, pela 10ª vez, o Dia Internacional da Rapariga.
Embora cerca de 25 milhões de casamentos infantis tenham sido evitados em todo o mundo entre 2008 e 2018, a Meta de Desenvolvimento Sustentável de acabar com o casamento infantil até 2030 não será cumprida, avança o documento. “A pandemia, combinada com o agravamento da emergência climática, novos conflitos a juntar aos que já existiam, e a pior crise alimentar global em décadas” ameaçam agora ainda mais o cumprimento desse objetivo.
A nova análise da Save the Children conclui que as raparigas a viver em regiões afetadas por conflitos têm 20% mais probabilidade de se casar do que aquelas que vivem em áreas pacíficas. Assim, as raparigas que vivem no leste da Ásia e no Pacífico, na América Latina e no sul da Ásia enfrentam o maior risco de casamento infantil ligado a conflitos. A África Ocidental e Central – uma região afetada por conflitos e emergências climáticas, que levam à pobreza e à escassez de alimentos – tem as maiores taxas de casamento infantil do mundo.
A pesquisa revela que quase 90 milhões de meninas – ou uma em cada cinco, globalmente – vivem numa zona de conflito. A Nigéria é o país que atualmente tem o maior número de casamentos infantis, apesar de ter também uma lei que os proíbe.
“As crises humanitárias – sejam elas desastres climáticos, pandemias ou a atual crise global de alimentos – levam a muitos dos mesmos riscos que impulsionam o casamento infantil, como o aumento da pobreza e a eliminação de sistemas de proteção que deveriam estar em vigor para manter as raparigas protegidas da violência”, afirma Inger Ashing, CEO da Save the Children International.
“Com tantas meninas a enfrentar crises sobrepostas, este aniversário deve ser um alerta aos governos para que deem prioridade às raparigas e garantam que elas estejam protegidas do casamento infantil e de todos os impactos devastadores que ele tem nas suas vidas. Isso tem que começar dando às raparigas uma opinião sobre as decisões que as afetam”, defende a responsável.
Entre as recomendações apresentadas no relatório, a Save the Children pede aos governos que “aumentem o financiamento e os esforços para lidar com a violência de género contra meninas, incluindo o financiamento para proteção infantil em crises humanitárias”. Em 2021, o risco da violência de gênero foi classificado como grave ou extremo em 95 por cento das crises humanitárias. Apesar disso, as ações para enfrentá-la receberam menos financiamento do que qualquer outra forma de proteção oferecida como parte das respostas humanitárias, revela esta pesquisa.