
Manifestação pelo Clima, na greve climática estudantil, em Lisboa, a 29 de novembro de 2019. Foto © Greve Climática Estudantil.
É um gesto único e inédito aquele que tiveram o Papa Francisco, o patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, e o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, ao assinarem uma mensagem conjunta para a proteção da criação — um termo que desde os anos 1990 faz caminho entre os cristãos no debate sobre as questões ambientais e ecológicas.
“Demo-nos conta que, perante esta calamidade mundial, ninguém está a salvo até que todo o mundo esteja salvo, que as nossas ações realmente afetam os outros, e que o que fazemos hoje influencia o que acontecerá amanhã”, lê-se no texto dos três responsáveis cristãos, divulgado esta terça-feira.
A mensagem convida a considerar a calamidade mundial como uma oportunidade, que “não se pode desperdiçar”. “Devemos decidir que tipo de mundo queremos deixar para as gerações futuras. Devemos escolher viver de forma diferente; devemos escolher a vida”, escrevem Francisco, Bartolomeu e Justin.

Os três lembram que se maximizam os interesses do presente “às custas das gerações futuras” e apontam que se, por um lado, a tecnologia abriu novas possibilidades de progresso, por outro induziu a “acumular riquezas desenfreadas” com pouca preocupação com as outras pessoas ou com os limites do planeta. “A natureza é resistente, mas delicada. Temos a oportunidade de nos arrepender, de voltar atrás com decisão”, apontam.
A mensagem retoma várias vezes o conceito básico de que as mudanças climáticas não são apenas um desafio futuro, mas uma questão imediata e urgente de sobrevivência — já no presente. “Diante de uma profunda injustiça: as pessoas que sofrem as consequências mais catastróficas destes abusos são as mais pobres do planeta e foram as menos responsáveis por causá-las”, apontam.
Na mensagem conjunta dos três responsáveis cristãos destaca-se o pedido de “colaboração cada vez mais estreito entre todas as igrejas no seu compromisso com o cuidado da criação”.
“Juntos, como comunidades, igrejas, cidades e nações, devemos mudar de rumo e descobrir novos caminhos de trabalhar juntos para abater as barreiras tradicionais entre os povos, para parar de competir por recursos e começar a colaborar”, escreveram.

O Papa Francisco, Bartolomeu I e o arcebispo Welby convidam os líderes mundiais a rezarem antes da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), que será realizada em Glasgow, de 1 a 12 de novembro próximo.
“Esta é a primeira vez que nós os três sentimo-nos compelidos a abordar juntos a urgência da sustentabilidade ambiental, o seu impacto na pobreza persistente e a importância da cooperação global. Juntos, em nome das nossas comunidades, apelamos ao coração e à mente de cada cristão, cada crente e cada pessoa de boa vontade. Oramos pelos nossos líderes que se encontrarão em Glasgow para decidir o futuro do nosso planeta e do seu povo. Mais uma vez, lembramo-nos das Escrituras: “Escolhe a vida, para que tu e a tua descendência vivam” (Dt 30:19). Escolher a vida significa fazer sacrifícios e exercer moderação.”