
A COP26 na estação central de Glasgow. Foto © Daniel from Glasgow, United Kingdom, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons.
Alok Sharma terminou quinta-feira mais cedo o plenário “para dar tempo aos ministros presentes” para trabalharem no acordo final que deveria ser aprovado esta sexta-feira, 12 de novembro, último dia da Cimeira do Clima de Glasgow. Mas, para além dos desejos do seu presidente e das inúmeras negociações e iniciativas em curso, um acordo capaz de retomar os objetivos da Cimeira de Paris continua a parecer uma miragem.
Muitas delegações presentes já estão preparadas para regressar aos seus países depois do fim-de-semana. Mas o presidente da Cimeira, Alok Sharma, embora tenha reconhecido, na sua declaração diária à Imprensa, que “ainda temos um desafio monumental pela frente”, continua a defender que até ao final do dia de hoje o acordo deve estar finalizado pois, nas suas palavras: “Coletivamente, não temos escolha a não ser enfrentar esse desafio.”
Nesta quinta-feira, 11 de novembro, Portugal anunciou ter aderido à Aliança pós petróleo e gás que defende a redução da produção de gás, petróleo e carvão, acabando a prazo com a sua exploração. A iniciativa é liderada pela Dinamarca e pela Costa Rica e o ministro dinamarquês do Ambiente, Dan Jørgensen, escreve no site em que ela é apresentada: “A ciência tornou muito claro que a era dos combustíveis fósseis deve terminar. Foi por isso que a Dinamarca escolheu uma data para acabar com a exploração de gás e petróleo e que em conjunto com a Costa Rica lançou” a aliança.
Aproximação sino-americana
O secretário-geral da ONU, António Guterres considerou, esta quinta-feira, 11 de novembro, positivas algumas das iniciativas já acordadas no campo da redução da desflorestação, das emissões de metano, da adoção de tecnologias amigas do ambiente e o acordo para o fim do uso do carvão, mas considerou-as “insuficientes”.
“As promessas soam a vazio quando a indústria dos combustíveis fósseis ainda recebe milhões de milhões” de dólares americanos “em subsídios”, ou quando vários “países ainda estão a planear construir centrais de queima de carvão”, disse Guterres.
Já antes, na quarta-feira, 10 de novembro, China e Estados Unidos, os dois maiores emissores do mundo de gases com efeito de estufa, divulgaram uma declaração conjunta que prevê uma cooperação estreita entre os dois Estados em ordem a cortes de emissões necessários para nos próximos 10 anos garantir a meta do aumento da temperatura média limitado aos 1,5 graus Celsius. Segundo explicou o enviado chinês para o clima, Xie Zhenhua, a declaração aponta para uma regulamentação “concreta e pragmática” na descarbonização, na redução das emissões de metano e no combate à desflorestação. Mas o documento nada refere quanto ao fim do uso do petróleo.
Vários responsáveis presentes na Cimeira, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres, acolheram a declaração com “algo positivo” que “vai no sentido certo” sobretudo por ela incluir referência à vontade dos dois países em reatar conversações através de um grupo de trabalho que “se reunirá regularmente para enfrentar a crise climática e fazer avançar o processo multilateral, com foco no aperfeiçoamento das ações concretas a desenvolver durante esta década.”
Na atual conjuntura das relações sino-americanas marcada por um crescendo de enfrentamentos em diversas áreas, a declaração parece indicar que os dois países estão dispostos a reconhecer a crise climática como um terreno em que o enfrentamento pode ser substituído pela cooperação.