
Assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, Abril 2022. Foto © Agência Ecclesia/PR
Tenho lido e refletido sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que aconteceu em Lisboa, não tendo encontrado pareceres negativos sobre a mesma, a não ser de pequenos grupos identificados como “extremistas”, tantos seguindo ideologias pró-fascistas. Com admiração encontro agnósticos e ateus que estiveram presentes ou não, mas louvando as homílias/discursos do bispo de Roma, Papa Francisco. De facto, se a organização foi soberba e dinamizada pelo bispo Américo Aguiar e entidades oficiais e os resultados tantas vezes “imateriais”, aquilo que Francisco nos veio dizer ultrapassa esses “benefícios”. Ele falou para todos e colocou as questões do mundo nas nossas mãos. E isso, é realmente “imaterial”. Existem tantos que por verem a celebração de uma missa com lésbicas ou homossexuais, pensam – como alguns pensam, mas muito poucos – que não são filhos e filhas de Deus? Ou porque desfraldam a bandeira do arco-íris, não são filhos e filhas de Deus? Desenganem-se, Deus nunca fez aceção de pessoas ou das suas tendências. Claro, que esses opositores também são filhas e filhos de Deus, então escutem as suas palavras, se quiserem bíblicas, mas também podem ser dos Padres da Igreja, ou se não for suficiente do próprio Francisco.
A questão mais pertinente daquilo que sai deste encontro é, contudo, o após-jornada. Como vão ser atendidas ou obscurecidas as palavras de Francisco. Já existe quem as leia e interprete à sua maneira, àquela que lhes convém. Até existe quem diga, e disse, que Francisco “está a destruir a igreja”. Por exemplo, quando Francisco disse “Todos, todos, todos” e sugeriu ao milhão e meio de peregrinos que repetissem, ouviu-se como um trovão: Todos, todos, todos, alguns interpretaram que “todos” seria vir “para” a Igreja, desde que cumprissem as suas ordens, ou seja, – para Portugal, por exemplo – poderiam vir para a igreja desde que cumprissem as suas ordens, uma igreja bolorenta, sequestrada pelo clericalismo, desde que os divorciados, deixassem de o ser, voltariam ao estado de casados com a mesma mulher ou o mesmo homem, as lésbicas e os homossexuais casassem com uma pessoa de outro sexo, e por aí adiante. Não foi nada disto a mensagem de Francisco, mas que todos e todas fossem homens/ mulheres de boa-vontade, de paz, do viver-bem, duma economia nova assente no bem-estar de todos, todos, todos, cada um vivesse de acordo com uma mensagem de amor.
É por demais sabido que a igreja católica portuguesa é clerical, com o bolor à frente dos olhos e que dificilmente irá ter uma posição como a de Francisco. Aqui está a grande questão, como vamos transformar esta situação, colocando a Igreja Católica Portuguesa na senda de Jesus? A igreja tem sido consecutivamente excludente, coloca à margem quem não pensa como as hierárquicas projetam, salvo algumas exceções. A hierarquia continua a saber tudo, com uma formação “seminaresca” inconsistente pelas próprias leis da hierarquia.
Gostaria de estar enganado, e se não estiver é porque o Espírito do Senhor vai soprar, qual vento sem amainar! E vai.
Joaquim Armindo é diácono católico da diocese do Porto, doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental.