
Os aiatolás emitem fatwas, decisões da lei islâmica, sobre as mais variadas questões. Na imagem, um cartaz nas ruas de Teerão, com o aiatola Khomeini. Foto © Adam Jones from Kelowna, BC, Canada, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons
As autoridades governamentais do Irão querem utilizar inteligência artificial (IA) para ajudar os clérigos islâmicos a emitir fatwas, ou decisões da lei islâmica, a uma velocidade sem precedentes.
De acordo com o Financial Times, citado pelo site The Bite, as autoridades ligadas ao Estado na cidade sagrada xiita de Qom estão a incentivar os religiosos a experimentarem a IA na tentativa de parecerem mais progressistas, no momento em que o país assinala o primeiro aniversário dos protestos após a morte de Mahsa Amini, a jovem morta sob custódia policial por supostamente usar o lenço na cabeça de forma errada.
“Os robôs não podem substituir clérigos seniores”, afirmou Mohammad Ghotbi, líder de uma incubadora de tecnologia sob alçada do Estado em Qom, “mas podem ser um assistente de confiança, que pode ajudá-los a emitir uma fatwa em cinco horas em vez de 50 dias”.
Para Ghotbi e os seus aiatolas aliados, a IA poderia acelerar tanto a pesquisa dos textos islâmicos como a divulgação pública de fatwas, que tradicionalmente são emitidas sobre tudo, desde questões de patriotismo até a matérias de higiene pessoal — mas que, ao longo das últimas décadas, foram frequentemente emitidos em protesto contra assuntos culturais ocidentais, como a fatwa contra o escritor Salman Rushdie, descreve The Bite.
“O seminário deve envolver-se na utilização de tecnologia moderna e progressiva e inteligência artificial”, disse ao FT em Julho o aiatola Alireza Arafi, membro do poderoso Conselho de Guardiães do Irão e da sua assembleia de sábios. “Temos que entrar neste campo para promover a [civilização] islâmica.”
O próprio supremo líder iraniano, o aiatola Ali Khamenei, instou os clérigos a prestarem mais atenção às possibilidades que a IA oferece.