
Barreira de separação entre bairros católicos e protestantes em Belfast, Irlanda do Norte (2018). Foto © Adam Jones, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons
Pela primeira vez desde que há 101 anos foi criada, a Irlanda do Norte conta com mais católicos do que protestantes. A maioria que se diz católica ou de formação católica não chega aos 45,7 por cento, mas supera os 43,5 por cento que se reconhece como protestante, revelam os dados preliminares do censo de 2021 divulgados pela Northern Ireland Statistics and Research Agency a 22 de setembro.
Há dez anos, o censo de 2011 apurou que 45,1 por cento da população era católica ou de educação católica e que uma maioria de 48,4 por cento era de origem protestante ou de outra formação cristã.
A questão religiosa esteve na origem da formação da Irlanda do Norte e da sua permanência como parte do Reino Unido quando a República da Irlanda obteve o reconhecimento da sua independência em relação a Londres. [ver 7MARGENS]
O primeiro primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Sir James Craig, dirigiu-se à assembleia legislativa descrevendo-o como um “parlamento protestante para um povo protestante”.
O Acordo de Sexta-feira Santa de 1998, que pôs fim a 30 anos de um conflito sangrento (mais de 3.500 mortos), dispõe que o estatuto constitucional da Irlanda do Norte só pode ser alterado com o consentimento da sua população, sendo que o Governo britânico é obrigado a convocar um referendo sobre a unidade irlandesa caso detete indícios de existir uma maioria a favor da integração da Irlanda do Norte na República da Irlanda.
Sem Parlamento nem Governo
As últimas eleições legislativas de maio deste ano deram a vitória ao Sinn Fein (29%), partido que foi formado como braço legal do IRA (a organização armada separatista identificada como defensora dos interesses dos católicos). O DUP (partido tradicionalmente maioritário, ligado aos sectores protestantes e fiel a Londres) registou uma quebra de quase 7 pontos percentuais ficando-se pelos 21,3 por cento.
O Sinn Fein é favorável à realização de um referendo sobre a inclusão da Irlanda do Norte na República da Irlanda e as suas posições têm vindo a colher o apoio dos eleitores, não apenas por causa desta opção, mas sobretudo pelas políticas sociais do seu programa e pelas suas críticas ao Protocolo para a Irlanda do Norte negociado pelo Governo de Londres no âmbito do Brexit e já este ano (junho de 2022) denunciado unilateralmente pelo Governo ainda chefiado por Boris Johnson.
O DUP recusou indicar um vice-primeiro-ministro para o governo de “coligação” que se deveria ter constituído de acordo com o disposto no Acordo de Sexta-feira Santa, tendo-se recusado inclusive a participar na eleição do presidente do Parlamento, o que impediu este de se instalar. Sem Parlamento nem Governo (o atual é um governo de gestão sem alguns dos ministros que dele faziam parte antes das eleições), vários analistas tendem a pensar que se aproximam novas eleições legislativas, das quais, porém, não se esperam resultados que permitam resolver a situação criada pelo Brexit e pela queda do DUP.