A origem da fórmula latina em título que antes do Vaticano II dizia o padre no fim da «missa», é uma expressão anterior ao séc. VIII: [missa] é o particípio do verbo latino [mitto] que significa enviar. Depois, este envio abarcou toda a Eucaristia. Posteriormente, ficou a seguinte tradução «livre»: «Ide, a missa acabou».

Foto: Eucaristia, site https://sallysjourney.typepad.com/
O 7Margens publicou, a 22 de agosto 2023, um texto em que referia um artigo de Cettina Militello sobre a urgência das alterações litúrgicas nas missas que considero muito importante no contexto actual do catolicismo.
As feministas
É deste modo que os meios eclesiásticos apelidam as mulheres que defendem a participação feminina na Igreja católica ocupando o lugar que lhes compete.
É um modo de menorizar esse direito, defendido tanto pelas mulheres como pelos homens. Defender o lugar que compete às mulheres na Igreja católica não é um «movimento feminino». É um direito que a todos diz respeito.
Infelizmente, não é só a não integração das mulheres o que deparamos na Igreja, hoje.
Após a minha reintegração no cristianismo / catolicismo, há cerca de uns dez, onze anos, – deixei há tempos de ir à missa.
Na diocese que frequentava formou-se nos bastidores um grupo de mulheres que formaram uma «capelinha», detentor das várias funções que geralmente são minimizadas pelos padres: distribuição de leituras; responsáveis pelo canto ou formação de um coro; recolha de ofertas dos participantes.
Estes grupinhos constituem um modo pernicioso da participação feminina, resultado de uma comunidade encerrada em si mesma, sem a participação de todos.
Embora poucas, há certas comunidades que me interessaria ir, mas o seu afastamento do meu local de residência impede-me de participar.
Como vivo num local central da cidade, há bastantes igrejas relativamente perto.
Em geral, predominava um ambiente soturno, fechado. Uma lengalenga quase alucinante, sem significado, é a resposta dos assistentes às várias proposições do padre – afirmações sem vida, gastas, repetidas até à exaustão. O «Credo», por exemplo, devido à sua longa extensão transforma-se numa torrente de palavras obsoletas, sem vida, ditas a uma velocidade vertiginosa. Se alguém perguntasse às pessoas o significado do discurso que decoraram, compreendê-lo-iam?
Quanto às Homilias, acho que não há, em geral, um esforço na sua preparação para a sua apresentação aos fiéis.
Por vezes é até lida. Em geral não é contextualizada; não há referências textuais relativas à filologia de um vocábulo ou outra qualquer expressão que surja no texto; não há o cuidado de relevar expressões características da cultura judaica, por exemplo, ou outras notas importantes para a compreensão do excerto; não se explica a subjectividade textual, inerente a qualquer excerto dos Evangelhos e que constitui a sua grande e belíssima riqueza. E que ajudaria a sua compreensão, a tal «chave do rito celebrado», como diz a teóloga já referida.
Os ouvintes, passado um determinado tempo, «desligam», como faz um aluno desinteressado no discurso do professor.
Não é dado um cuidado suficiente ao modo de ler, tão importante para compreender um texto. Há muitos ouvintes que não leram antes os textos. No entanto, qualquer pessoa pode ser leitora. É estarrecedor ouvir às vezes uma algaraviada de sons sem se compreender a sequência textual.
Cânticos, salmos, em geral não são cantados pela assembleia; ou não se canta ou somente um coro específico tem essa função, o que nem sempre acontece.
Os participantes, em geral, não cantam. Ora o Louvor, dar Graças a Deus devem ser cantados por todos. Por que há tanto emudecimento, nesta situação? É penoso, triste. É a força do hábito…
Geralmente são as mesmas pessoas – durante anos! – a ter a mesma função: leituras dos vários textos, passagem do saco das oferendas, diáconos homens, no altar. Nunca vi uma mulher a servir no altar – somente numa comunidade, o presbítero apresentava-se no altar com um grupo de pessoas que se sentavam em redor da Mesa. Noutra comunidade, era a sacristã que exercia essa função.
Em alguns casos, as mulheres levam a Eucaristia. Em geral, nunca estão no altar.
– Por que razão põe sempre em causa o que eu digo?
– Porque está a dizer mal da Igreja!
Esta pergunta que eu fiz a uma pessoa e a sua resposta representam bem a dificuldade de certos católicos em abrir as portas do Evangelho à vida, à diversidade de opiniões e de não aceitar outras interpretações.
Há uns anos atrás, eu e outras pessoas – por acaso só mulheres – formamos um Grupo de Estudo, a “Lectio Divina” para ler, analisar, comentar o excerto do Evangelho dominical.
Reflectir sobre o texto, verificar possíveis leituras, seleccionar a palavra-chave, cada um dar a sua opinião, orar e no fim fazer uns momentos de silêncio. Foi uma experiência interessante, mas terminou passado uns tempos. As pessoas deixaram de aparecer.
Ora quando chegava a minha vez de falar, era muitas vezes contestada por essa pessoa que dizia ter experiência da “Lectio Divina”, dava catequese e estava a pensar em tirar Teologia.
Quem era eu, há pouco ressurgida do cristianismo, a dar lições aos outros com grande experiência nesse campo?
Outro Cristianismo…

De tal modo eu senti tudo isto que resolvi, há pouco tempo, ir a um culto evangélico. Por acaso, realizado numa sessão ecuménica.
Sem me conhecerem de lado nenhum, fui acolhida tão naturalmente e graciosamente que nunca me esquecerei.
Então, num domingo, fui ao culto de uma igreja metodista.
Os cânticos e os salmos; o excerto do Evangelho desse Domingo – pelo menos estes dois elementos – eram projectados na parede a fim de serem cantados e lidos por todos os participantes.
O bispo que numa das sessões não participava activamente, sentava-se, como qualquer outra pessoa assistente. Vestia com simplicidade, sem nenhuma distinção «fulgurante» à moda católica. Tudo ali era festa, alegria, canto, participação de todos, em uníssono.
No entanto, num domingo em que se festejava o Dia da Mãe, o culto foi orientado pelos diáconos, homens e mulheres – em geral, ainda jovens – e na verdade não teve a profundidade a que assistira anteriormente. A Mãe de Jesus não foi referida. Ora há muitas maneiras de celebrar a Mãe de Jesus. Por exemplo, comentar as passagens dos Evangelhos em que ela surge e sobretudo, a sua presença na Cruz, com as outras mulheres que acompanharam o seu Filho.
Nos outros dois domingos em que participei, uma pastora orientava o culto, juntamente com uma mulher diácono e nesse dia houve uma Eucaristia muito simples, com uma oração: cada participante recebeu um bocado de pão e um pequeno cálice de vinho; noutra ocasião, foi a vez do bispo, juntamente com outra mulher diácono. A Homília foi num caso e noutro interessante. Vivas, as tais «pedras vivas» de que tantas vezes falamos.
Evidentemente que não podemos ser redutores, num caso e no outro. Mas é urgente – muito urgente – mudar a liturgia no «lado» católico.
O que faço agora?
Na verdade, nunca estive integrada completamente numa comunidade. Defeito meu? O mais certo. Face à minha experiência anterior, fiquei num estado de expectativa que já é de muitos anos atrás.
Mas não deixo de ser cristã. Leio e releio o excerto do Evangelho dos Domingos e às vezes da semana; procuro reflectir sobre o seu conteúdo; ouço as Homilias de um presbítero católico que me toca em particular; todos os dias dou Graças a Deus pelo dia, pela noite. Por tudo o que me acontece e me lembro, peço a Deus que me acompanhe.; na rua – ando bastante a pé – encomendo a Deus quem encontro em situações difíceis. E cada vez são mais na cidade… faço voluntariado e sirvo o mais que posso o Senhor; repito a «Oração de Jesus» ou um verso de um salmo que registei nas Notas. Por vezes, ouço o «Passo a Rezar». E que Deus me perdoe. Já estou velha, mas não vencida.
Os que eu amei já partiram – e mesmo os que eu conheci somente – são também objecto de uma doce recordação. Invoco também o Senhor para os dramas do mundo e para aquelas pessoas que me são indiferentes ou as que me têm uma certa inimizade. Sinto-me feliz.
Maria Eugénia Abrunhosa é licenciada em Românicas e professora aposentada do ensino secundário.