Já não somos livres?

| 3 Fev 2023

Teatro, Índia, Máscara,Arte, Pandemia

“Para quê tantos estudam tanto e ensaiam tanto, chegando a preparar-se durante meses para fazerem um papel? Para que servem tantos castings para recrutar pessoas para fazerem de conta que são algo que outros não conseguem simular?” Foto: Teatro em Cochim, Índia. © Miguel Veiga.

 

O título deste pequeno artigo é uma pergunta que me coloco muitas vezes a propósito de variados acontecimentos. Contrariamente ao que é habitual, este ano decidimos fazer uma viagem grande em Janeiro e, por isso, só à distância me fui apercebendo de alguns factos, se assim se pode dizer, nacionais, honra seja feita às novas tecnologias que nos enviam jornais e revistas em tempo útil, porque escolho não ter redes sociais. De facto, mesmo do outro lado do mundo, estamos tão perto no nosso imaginário, que até parece que continuamos a andar pelo nosso país e, neste caso, pela nossa capital.

Eis senão quando me apercebi de que um ator já não pode ser ator. Agora parece que o desempenho de papel tem de ser a vivência da própria pele. Se eu precisar de representar um amputado de membro inferior, tenho de cortar uma perna; se eu representar uma pessoa com psicose, tenho de ser psicótica; se eu representar uma pessoa cancerosa, tenho de ter um cancro. Será assim? Mas acima de tudo, vale a pena questionar o que é ser ator. O que é, mesmo historicamente, o teatro.

Para quê tantos estudam tanto e ensaiam tanto, chegando a preparar-se durante meses para fazerem um papel? Para que servem tantos castings para recrutar pessoas para fazerem de conta que são algo que outros não conseguem simular? Que mundo é este, afinal? E quem são estas outras pessoas que sucumbem a manifestações de quem apenas quer provocar conflitos, destacar-se pelas piores razões e impor uma linha ideológica sem lógica, que só vinga porque se enquadra muito provavelmente num lobby poderoso que já perdeu as estribeiras e não sabe que mais há de fazer para se evidenciar.

Na verdade, temos de nos respeitar uns aos outros na condição de cada um. Sejamos o que formos, precisamos de procurar viver com a dignidade de quem se aceita e de quem aceita todos, desde que por esses (todos) seja também aceite. O mundo em que vivemos e a qualidade de estar nele, depende dessas nossas atitudes e dessa nossa consistência de ser. É incongruente querer preparar um mundo melhor e fazer tudo para que o planeta azul se transforme num inóspito deserto de humanidade; é insuportável ter de enfrentar a injustiça e ficar impotente perante ela, sem poder fazer o que quer que seja para a evitar; é, no mínimo, indigno conviver com pessoas que se prestam a isto porque, se não for isto, nunca terão palco nem plateia por mérito próprio…

Não conheço nenhum dos envolvidos, nem os agressores nem as “vítimas”, mas sinto-me na obrigação de fazer pensar quem estiver de olhos fechados e de alertar para os precedentes que se abrem contra a liberdade de cada um, esse bem tão precioso e por quem tantos têm dado a vida numa luta absolutamente extraordinária e difícil, que tantas vidas em tantos cantos do mundo já custou.

Basta! Temos excessos – de cobardias; de indignidades; de incoerências… Queremos apenas liberdade, isso que é um dos enormes tesouros do existir e que não se cansam de nos tentar “roubar”, das mais variadas formas e através dos métodos mais “criativodecadentes”.

 

Margarida Cordo é psicóloga clínica, psicoterapeuta e autora de vários livros sobre psicologia e psicoterapia. Contacto: m.cordo@conforsaumen.com.pt

 

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Em Lisboa

Servas de N. Sra. de Fátima dinamizam “Conversas JMJ”

O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Igreja Católica de França terá assembleia sinodal de 3 em 3 anos

Bispos reestruturam conferência episcopal

Igreja Católica de França terá assembleia sinodal de 3 em 3 anos novidade

Os bispos franceses anunciaram um vasto conjunto de iniciativas e linhas de ação com vista a combater os abusos sexuais na Igreja. Ano e meio depois da apresentação do relatório sobre o tema, os bispos abriram a assembleia da Conferência Episcopal (CEF) à participação de representantes dos fiéis. Uma assembleia sinodal realizar-se-á de três em três anos, em torno de matérias relevantes para a vida da Igreja e da sociedade.

Um lamento de sangue e beleza

Cinema

Um lamento de sangue e beleza novidade

Toda a Beleza e a Carnificina é um documentário de 2022 da realizadora Laura Poitras, que nos leva a percorrer vários períodos da vida e obra da fotógrafa Nan Goldin (1953). (Crítica de Sara Leão).

Jovens vão dizer aos bispos o que querem discutir, num modelo inédito de catequeses da JMJ

Inspirado no processo sinodal

Jovens vão dizer aos bispos o que querem discutir, num modelo inédito de catequeses da JMJ

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 vai inaugurar um novo modelo de catequeses com os bispos, em que os jovens serão “os verdadeiros protagonistas”. Pela primeira vez na história das Jornadas, os jovens de todo o mundo são desafiados a refletir previamente sobre os temas dessas catequeses (as quais mudam de designação e passam a chamar-se encontros) e a partilhar com a organização da JMJ os resultados dessa reflexão. Os encontros, que ocuparão as manhãs de dias 2, 3 e 4 de agosto, serão preparados tendo em conta esses contributos.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This