Banda sonora de A Missão tocada ao vivo, debates com o padre que acompanha homossexuais, incursões no país real – e em Espanha. Os jesuítas anunciaram o seu programa paralelo na JMJ. E começam pela mudança da toponímia.

O superior geral da Companhia de Jesus, em Dezembro, em Lisboa, a segurar o estandarte com as bandeiras de todos os países representados no Magis. Foto © Rúben Marques/PontoSJ
O Largo Trindade Coelho, em Lisboa, onde está a igreja com o mesmo nome, passará a chamar-se Largo da Misericórdia durante os últimos dias de Julho e os primeiros de Agosto. A mudança toponímica deve-se aos jesuítas, que ali irão concentrar dezenas de actividades durante os dias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa entre 1 e 6 de Agosto. Concertos ao vivo, entre os quais a banda sonora do filme A Missão, debates, início de passeios que aliam a cultura e a espiritualidade, tudo se concentrará naquele lugar do centro de Lisboa, lugar de passagem dos cerca de cinco mil jovens que os jesuítas mobilizaram para a JMJ.
Entre 22 e 31 de Julho, entretanto, cerca de dois mil jovens ligados a movimentos e estruturas da Companhia de Jesus (entre os quais 120 portugueses) participarão num encontro da chamada pré-jornada, que decorrerá no Colégio São João de Brito, que para o efeito se passará a chamar Vila Magis. O título da iniciativa remete para a palavra latina que significa “mais, maior” e que era frequentemente utilizada pelo fundador dos jesuítas, Inácio de Loiola.
Oriundos de 80 países, os jovens ligados aos jesuítas – incluindo dos colégios, centros, campos e paróquias portuguesas – viverão no Magis um programa centrado no tema “Vamos criar um Futuro Cheio de Esperança”.
Dos dez dias que dura a iniciativa, cinco (entre 24 e 29 de Julho) serão dedicados a uma imersão na realidade portuguesa e espanhola: 80 grupos de 20 a 30 pessoas de pelo menos três nacionalidades diferentes participarão em outras tantas experiências (51 em Portugal e 29 em Espanha), como explicou em Lisboa, no final da tarde de quinta-feira, o padre Samuel Beirão, coordenador do Magis em Portugal.
“Pretende-se envolver os peregrinos de uma forma simples num contexto concreto e local, fomentando a criação de comunidade”, explicam os responsáveis, em dimensões como a ecologia e meio ambiente, a fé e espiritualidade, as artes e culturas; a peregrinação e o caminho, e a solidariedade e serviço. O programa prevê que os participantes – jovens e jovens adultos, entre os 18 e os 35 anos – participem em actividades tão diversas quanto a reabilitação e recuperação de bairros carenciados ou a descoberta da profundidade da oração através do corpo e da dança.
Depois dessas experiências, os jovens peregrinos regressam à Vila Magis e, no dia 30, farão um grande Festival das Nações que, em forma de espectáculo contará com a apresentação da cultura de cada delegação. E no dia 31, o superior geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, preside à “missa de envio” do Magis, por coincidência no dia litúrgico dedicado a Santo Inácio de Loiola.
Entre os portugueses, os jesuítas mobilizaram já perto de oito centenas de pessoas para participar nas actividades da JMJ e do Largo da Misericórdia – além dos 55 que estão a trabalhar como voluntários no Comité Organizador Local da JMJ ou nas actividades centrais da jornada, com o informa o Ponto SJ, portal dos jesuítas em Portugal.
14 quilómetros a pé ao encontro do Papa

Durante os dias da JMJ em Lisboa, um programa cultural e espiritual integrará o Festival da Juventude da Jornada, com um conjunto de propostas para os peregrinos que também pretende, diz a organização jesuíta, “encher a cidade de Lisboa de alegria e cultura”, no “Largo da Misericórdia”, “espaço aberto ao mundo inteiro a partir do coração da cidade”, que pretende corresponder “a uma experiência feliz de ser e estar em Igreja”. Este Largo apresenta-se como “um lugar aberto, acolhedor, bem disposto, onde é possível conversar e rir, sentir-se em casa e membro de uma comunidade plural”.
Entre os dias 1 e 4 de Agosto, das 13h às 23h (excepto durante os eventos oficiais da JMJ), no largo, na Igreja de São Roque, no Convento de São Pedro de Alcântara, na Igreja da Encarnação e na Brotéria, haverá concertos, espectáculos, conferências, ateliês, visitas culturais e momentos de oração – e ainda um “Youth Corner” ou esquina dos jovens, um mural virtual onde as vozes dos mais jovens se farão ouvir com toda a sua criatividade e alegria, com a sua irreverência e espírito crítico.
Entre as actividades previstas para aqueles espaços, contam-se, além da execução da banda sonora original do filme A Missão, pela Orquestra Artave, da Escola Profissional das Caldinhas, música com o padre Cristóbal Fones, do Chile, ou debates com o jesuíta dos Estados Unidos, James Martin, que acompanha grupos de cristãos homossexuais. Martin é também autor dos livros Jesus – Um Encontro Passo a Passo e Construindo Uma Ponte, entre outros livros seus publicados em Portugal. Uma das iniciativas que partirá do Largo é a série de visitas “Pedras Vivas”, inspiradas numa associação nascida em Itália e França, e que pretende aliar o património e a espiritualidade. Igrejas e outros lugares marcantes farão parte deste roteiro, que incluirá também, mas por parte do programa oficial da JMJ, visitas à Sinagoga e à Mesquita de Lisboa.
No sábado à tarde, quando os jovens participantes na JMJ se dirigem para o Parque Tejo, os participantes ligados aos jesuítas farão a pé o percurso que vai do Largo da Misericórdia até ao lugar do encontro com o Papa Francisco – ou seja, cerca de 14 quilómetros, umas três horas a andar. Enquanto isso acontece, os jesuítas portugueses – membros da ordem, neste caso – terão um encontro privado com o Papa Francisco, ele próprio membro da Companhia de Jesus.
O portal Ponto SJ lançou entretanto duas rubricas especiais para acompanhar a Jornada: o podcast Tens Companhia para ir à JMJ, que vai para o seu 23º episódio semanal, com notícias, informações e testemunhos de pessoas ligadas aos jesuítas envolvidas na preparação da JMJ ou que já participaram em edições anteriores; e o Ponto de Vista, que tem viajado pelo país à conversa com jovens entre os 18 e os 30 anos, para saber como vivem, pensam e olham os desafios do mundo e da Igreja. Publicado aos domingos, o Ponto de Vista esteve já em Coimbra, Portimão, Moura, Chaves e Lisboa. A última conversa da série irá para o ar a partir do Largo da Misericórdia na segunda semana de julho.