Criaram e-mail e equipa de apoio

Jesuítas querem que as vítimas do padre Rupnik se manifestem

| 19 Dez 2022

padre Johan Verschueren, jesuita, delegado do superior geral para as casas internacionais da Companhia de Jesus, em Roma, foto jezuieten.org

Dizendo-se preocupado principalmente “com quem sofreu”, o padre Johan Verschueren convidou “quem quiser fazer uma nova denúncia ou quiser discutir reclamações já feitas” a contactá-lo. Foto © jezuieten.org.

A Companhia de Jesus convidou as pessoas que se considerem vítimas de abuso por parte do padre Marko Ivan Rupnik a contactar aquela ordem, tendo disponibilizado um endereço de correio eletrónico para esse fim.

Numa declaração divulgada neste domingo, 18, pelo delegado do superior geral para as casas internacionais da Companhia de Jesus, em Roma, o padre Johan Verschueren, este reconheceu que as informações e notícias publicadas suscitaram “muitas perguntas”, o que o levou a divulgar uma cronologia de factos, “na esperança de fornecer algum esclarecimento”.

Dizendo-se preocupado principalmente “com quem sofreu”, convidou “quem quiser fazer uma nova denúncia ou quiser discutir reclamações já feitas” a contactá-lo, garantindo que “será ouvido com compreensão e empatia”.

Recordou, nesta linha, que “já há alguns meses”, os jesuítas estabeleceram “uma equipa de pessoas, mulheres e homens, de várias disciplinas e de diferentes áreas do saber, para lidar com essas situações”. “Eles estão, e de facto estiveram, disponíveis para ouvir, apoiar e ajudar”, acrescentou, sem especificar quem constitui essa comissão.

Os contactos por e-mail podem ser feitos para o endereço teamreferente.dir@gmail.com . “As pessoas podem escrever em inglês, francês, italiano, espanhol, holandês e alemão”, refere o padre Verschueren, o qual recordou as palavras do superior geral da Companhia, no encontro com jornalistas na última semana, de empatia e proximidade com as vítimas do padre Rupnik. Não adiantou, no entanto, qualquer elemento relativamente a um ponto dessa declaração do geral que apontava para “procedimentos exigidos pelas leis civis ou canónicas”, os quais dizia estarem a ser “escrupulosamente iniciados”. Assegurou, no entanto, que a Companhia de Jesus “quer criar uma cultura de salvaguarda”, comprometendo-se a seguir “os mais altos padrões”, no exercício do “ministério”.

A cronologia que o padre Verschueren colocou em apêndice à sua declaração não acrescenta nada de essencial relativamente ao que já se conhecia. Apenas precisões: a matéria da denúncia de abuso do sacramento da confissão (absolvição de cúmplice de relações sexuais) tinha surgido, afinal, em outubro de 2018, na então Congregação para a Doutrina da Fé. Foi julgada, o padre Rupnik foi objeto de condenação com excomunhão automática em maio de 2020, tendo a pena sido levantada ainda nesse mês [ver 7MARGENS].

A informação facultada pelos jesuítas permite compreender porque é o padre Johan Verschueren que surge a assinar a declaração. Foi ele quem aplicou  aquilo que agora aparece designado por “restrições” ao padre Rupnik, nos dois processos apreciados pela Congregação da Doutrina da Fé (um condenatório e outro – o da relação de Rupnik com a Comunidade Loyola – arquivado por prescrição). Coube-lhe essa tarefa por ser o superior maior das comunidades de jesuítas responsáveis por 11 importantes instituições da Companhia em Roma, como a Universidade Gregoriana, o Instituto Bíblico de Jerusalém, o Observatório Astronómico do Vaticano ou a revista centenária La Civiltà Cattolica. E também do Centro Aletti que é o baluarte onde há 30 anos se movimenta o padre Marko Rupnik, centro de que foi fundador e diretor até 2020 e do qual continua a ser a figura carismática e sempre presente, conforme o 7MARGENS noticiou desde o início do caso.

 

Freira abusada bateu a muitas portas. Ninguém abriu

Marko Ivan Rupnik, inferno, ressurreição, Ljubljana

Descida aos infernos e ressurreição; obra de Rupnik e dos artistas do Centro Aletti no Colégio São Stanislau em Ljubljana (Eslovénia), de 2006. Foto © Giovanna60, via Wikimedia Commons.

Ao mesmo tempo que os jesuítas abriam a conta de e-mail, na expectativa de que as vítimas do padre Rupnik se apresentem a denunciá-lo, uma destas vítimas, de nome fictício Anna, dava uma longa entrevista ao jornal italiano Domani em que escancarava a sua história de abusos físicos, de consciência e sexuais e o modo como se comportaram figuras relevantes da Igreja, quando ela se dispôs a denunciar a situação.

A ex-religiosa da Comunidade Loyola, “uma das primeiras” a integrá-la, leva a reconstruir um perfil de abusador que explorava as fragilidades e medos de uma jovem estudante de medicina, admiradora e entusiasta dos trabalhos artísticos de Marko Rupnik, ainda o Centro Aletti vinha longe. Leva, sobretudo, a ver os caminhos tortuosos e até escabrosos como o abusador utilizava a própria teologia da arte e da beleza para ter na mão essa – e, segundo diz, várias outras consagradas. E, quando o esquema corria riscos, como a chantagem e a violência podiam ser a consequência.

Anna depôs em 2021 na investigação desencadeada pela Congregação para a Doutrina da Fé. Não tendo tido notícia de qualquer desfecho ou consequência do que ali contou e da investigação que ali correu, entendeu, em junho último, repetir a denúncia, dirigindo-se desta vez ao superior geral dos jesuítas, padre Arturo Sosa.

Segundo conta ao jornal Domani, enviou cópia, entre outros, ao cardeal Luis Ladaria, prefeito do (agora) Dicastério para a Doutrina da Fé; ao cardeal vigário de Roma, Angelo De Donatis; ao padre Johan Verschueren, o mesmo que agora apelou às denúncias; ao padre Hans Zollner, um perito no estudo do fenómeno dos abusos e que há dias manifestou a sua compreensão em relação às vítimas, como noticiado no 7MARGENS; à diretora do Centro Aletti, Maria Campatelli, e a outros membros da Companhia de Jesus e do Centro Aletti. “Não tive resposta de nenhum deles”, diz a ex-freira.

Sobre a excomunhão com que Rupnik foi castigado pelo Dicastério da Doutrina da Fé relativamente a um caso relativamente recente, Anna comenta: “Dói-me profundamente, porque confirma a convicção que sempre tive, de que o padre Marko continuou a abusar das mulheres que conheceu durante todo este tempo. Ele tinha que ter sido interrompido há trinta anos. Estou perplexa por Rupnik ainda não se sentir responsável pelas consequências que as suas ações tiveram na minha vida e na de tantas outras irmãs que podem falar.”

 

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