
Um artigo publicado no jornal L’Osservatore Romano refere que o projeto de mineração em Boticas “há meses atormenta a população da região de Barroso”. Foto © Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, reproduzida a partir da página da associação no Facebook.
No momento em que o Governo deu, pelo menos do ponto de vista ambiental, luz verde à exploração de lítio na Mina do Barroso, no concelho de Boticas, o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, destaca as preocupações que tão polémico projeto levanta, invocando a encíclica do Papa Francisco Laudato Sí’.
Sob o título “Um polémico projeto de mineração em Portugal”, o artigo abre com uma pergunta: “Pode a proteção do meio ambiente ser causa de mudanças nesse mesmo ambiente?”. O articulista toma-a como “a questão que há meses atormenta a população da região de Barroso” e consiste numa espécie de dilema: a região é rica em lítio e este é vital para as baterias dos carros elétricos, que possibilitam reduzir a emissão de CO2; mas, por outro lado, a mineração a céu aberto que está previsto realizar, se os planos se concretizarem, poderá destruir a paisagem e os modos de vida tradicionais, que alimentam o turismo e dão ocupação às pessoas.
O representante da população de Boticas é perentório: este projeto, a avançar, será uma catástrofe para o município. E isto depois de Boticas ter visto o seu território ser considerado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) “património agrícola mundial”, um reconhecimento que poderá vir a perder.

Em jogo, estão muitos interesses (políticos e económicos): o Plano de Recuperação e Resiliência do Governo (a célebre “bazuca”), a política de descarbonização da Comissão Europeia e, naturalmente, os interesses da multinacional Savannah, que espera obter muito dinheiro com a exploração do lítio. No meio, está a população de um concelho do interior, que entre muitas dificuldades construiu um modo de vida adaptado às caraterísticas e condicionalismos locais.
O artigo do Osservatore Romano recorda a Laudato si’ e a chamada de atenção do Papa para a interligação dos seres humanos e da natureza como dom de Deus, que deve ser preservada de forma responsável. E termina com uma pergunta: “Atendendo ao caso da região do Barroso, é de perguntar se não há necessidade de uma nova abordagem às questões ambientais”.
Anunciada manifestação contra o “green mining”

Vários movimentos cívicos e ambientalistas, nomeadamente os que se têm movimentado contra os projetos de exploração de lítio em diferentes pontos do território, anunciaram, entretanto, que vão organizar um protesto conjunto contra a Conferência Europeia sobre Green Mining (mineração verde), que a presidência portuguesa da União Europeia se propõe organizar na próxima semana.
Segundo o Público, que deu a notícia nesta quarta-feira, 28 de abril, a iniciativa, ainda sem oradores anunciados, é organizada pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática (MAAC) e deverá ter lugar a 5 de maio, sendo apresentada como um “evento internacional de alto nível na área dos recursos minerais”.
Os 14 movimentos que se articularam para contestar a conferência exigem “a abolição do eufemismo Green Mining e do marketing Green Washing associado”, e apelam “ao acesso à informação verdadeira, clara e transparente que urge sobre as operações de fomento mineiro que envolvem Portugal e a União Europeia”.
Em manifesto, que o Público cita, os subscritores alegam que o conceito de Green Mining está “a ser usado pela indústria extrativa pela Comissão Europeia (CE) e pelos governos dos Estados-membros” como correspondendo “a uma mineração responsável e sustentável”. “Uma mineração que engloba em si a máxima eficiência na utilização da água, energia e minérios extraídos e que afirma assegurar a conservação dos recursos naturais e minerais para as gerações futuras”, acrescenta o documento.
“Ao mesmo tempo, [essa mineração] promete uma minimização dos impactos sociais, ambientais e patrimoniais provocados pelos efeitos da exploração”, dizem as organizações que contestam a ideia, alegando que o conceito de Green Mining está “a ser usado pela indústria extrativa, pela Comissão Europeia e pelos governos dos Estados-membros” como correspondendo “a uma mineração responsável e sustentável”. O manifesto apresenta argumentos que procuram mostrar como tal tipo de mineração constitui “uma falácia”.