
A perda de vidas e a devastação em Derna – e em grande parte da Líbia – são uma tragédia inimaginável, com milhares de pessoas desaparecidas e dezenas de milhares deslocadas. Foto: Direitos reservados.
A Amnistia Internacional (AI) apelou esta segunda-feira, 25 de setembro, para que as Forças Armadas Árabes da Líbia (LAAF) – grupo que controla o leste do país, incluindo a cidade de Derna, devastada pelas cheias – “levantem imediatamente todas as restrições indevidas impostas aos meios de comunicação social e procedam à facilitação de ajuda humanitária a todas as comunidades afetadas” na região.
“A perda de vidas e a devastação em Derna – e em grande parte da Líbia – são uma tragédia inimaginável, com milhares de pessoas desaparecidas e dezenas de milhares deslocadas. Bairros e famílias inteiras foram arrastadas para o mar. No entanto, em vez de facilitar o acesso humanitário às comunidades atingidas, a LAAF está silenciar as críticas, reprimindo a sociedade civil e fugindo às responsabilidades“, revela Diana Eltahawy, diretora regional adjunta da AI para o Médio Oriente e Norte de África, citada num comunicado da organização.
Na sequência das inundações que se seguiram ao rebentamento de duas barragens a 11 de setembro, as reivindicações para que exista responsabilização estão a crescer entre os sobreviventes e os defensores dos direitos humanos. No dia 18 de setembro, milhares de residentes e trabalhadores voluntários de resgate e salvamento manifestaram-se na Praça Sahaba, em Derna, pedindo apoio para os esforços de reconstrução e reabilitação, bem como a demissão dos políticos locais e nacionais. Mas. de acordo com testemunhas ouvidas pela Amnistia Internacional, tem havido detenções de críticos e manifestantes por parte da LAAF, no meio dos seus esforços para controlar o acesso dos meios de comunicação social. E após estes protestos, as restrições impostas aos jornalistas aumentaram.
Segundo a AI, o grupo armado chegou a ordenar aos jornalistas que abandonassem a cidade, revertendo a sua decisão no dia seguinte, mas dando instruções aos restantes jornalistas para não se aproximarem das equipas de salvamento. Vários jornalistas referiram ter sido sistematicamente seguidos por agentes militares da LAAF e testemunharam pedidos de funcionários a intérpretes para não traduzirem conteúdos que criticassem as autoridades.
A Amnistia Internacional recebeu ainda informações sobre atrasos na chegada da ajuda humanitária a algumas zonas afetadas, em parte devido à multiplicidade de postos de controlo estabelecidos pela LAAF. Algumas equipas médicas da parte ocidental da Líbia e pelo menos uma equipa internacional de salvamento receberam instruções para partir.
“Desde o conflito armado de 2011, comandantes influentes e membros de milícias e de grupos armados razoavelmente suspeitos de terem cometido crimes ao abrigo do direito internacional não só usufruem de total impunidade, como também foram integrados em instituições estatais e receberam financiamento estatal”, assinala o comunicado da organização de defesa dos direitos humanos, para concluir: “A violenta resposta da LAAF às manifestações e às críticas expõe ainda mais a sua falta de vontade de garantir a verdade, a justiça e a reparação das vítimas”.