
Aumento da prática religiosa pode ter a ver com o efeito da pandemia junto dos jovens e as interrogações que surgiram. Foto © truthseeker08 | Pixabay
Uma sondagem para a BBC junto dos jovens com menos de 30 anos nos países árabes do Norte de África indica que está a crescer o interesse pela religião e pela prática religiosa.
O estudo, baseado numa amostra aleatória de 23 mil pessoas, repetiu um outro de teor semelhante feito no final de 2018 e princípios de 2019, e foi levado a cabo pela rede Arab Barometer, por solicitação do serviço público de media do Reino Unido. Os resultados acabam de ser publicados pelo site de língua francesa da BBC News.
Ainda que a queda da categoria ‘sem religião’ não seja elevada, ela representa uma inversão de tendência relativamente à última recolha de informação, em que se tinha notado um crescimento de 18 por cento de jovens que se declaravam sem religião. A Tunísia, o Egito e Marrocos lideram as percentagens de baixas dos que se declaram sem religião.
Mohamed Gouili, professor de sociologia da Universidade de Tunes, ouvido pelo operador britânico explica o crescente interesse relativamente à religião e às práticas religiosas pela retirada de correntes muçulmanas extremistas, conjugada com a pandemia e as interrogações sobre a existência, que ela veio colocar.
Já no caso do Egito, para Nabil Abdel-Fattah, conselheiro do Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, o factor mais relevante para a mudança relativamente à religião “é o agravamento da crise económica, assim como a grave deterioração da educação”. Em comentário recolhido pela BBC, aquele especialista salientou o desvanecimento das esperanças juvenis da chamada Primavera Árabe, no plano político e de ascensão social.
Gouili está atualmente a fazer um estudo sobre a diversidade religiosa dos jovens na Tunísia. No trabalho de campo já realizado, observou que há uma percentagem significativa de jovens tunisinos que se converteram do islamismo a outras religiões, nomeadamente as cristãs, como o catolicismo e o protestantismo. Trata-se, segundo refere, de escolhas assumidas por jovens que entendem ter o direito de dar a conhecer as suas opções, sejam elas o regresso à religião de seus pais seja a opção por uma religião diferente da de seus pais.
A única exceção à tendência do conjunto de países estudados registou-se no Líbano, país em que três em cada dez jovens com menos de 30 anos se declara sem religião, um aumento de 13 por cento relativamente a 2018.
Um académico especialista de Estudos Religiosos de Beirute consultado pela BBC apontou também a crise económica e política, como fator explicativo, e, com ela, “o declínio de todas as razões para viver decentemente entre os libaneses”. Mas também, acredita ele, o sistema de confissões religiosas, que influenciam os órgãos de poder, em que o país vive há décadas”.