
Ativistas de esquerda protestam contra os violentos ataques em Huwara. Foto © Shir Torem/Flash90.
A iniciativa de crowdfunding, lançada por um judeu ortodoxo e ativista político de esquerda a favor dos palestinos moradores da vila Huwara, devastada no domingo 26 de fevereiro por colonos israelitas, conseguiu reunir em três dias o equivalente a perto de 400 mil euros.
Centenas de colonos israelitas invadiram Huwara no domingo, queimando dezenas de carros e prédios e ferindo dezenas de residentes, como represália pelo assassínio de dois irmãos (israelitas) vítimas de um atirador furtivo quando passeavam naquela vila palestina da Cisjordânia. No dia dos confrontos, um palestino foi morto numa cidade a sul de Huwara.
O jornal Jewish News de 2 de março cita o organizador da recolha de fundos, Yair Fink, um ex-candidato do Partido Trabalhista, como tendo afirmado, depois de lamentar o assassínio dos irmãos Hillel e Yigal Yaniv: “Mesmo num momento de profunda raiva e tristeza, nunca devemos perder a nossa humanidade. Esse não é o nosso judaísmo”.
Separação de poderes em causa
O governo israelita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, uma coligação do partido Likud (conservador) com vários partidos ultraortodoxos fundamentalistas e outros de extrema-direita, tem vindo a ser acusado por personalidades do centro político e da esquerda liberal de quebrar as bases fundacionais do Estado de Israel e de destruir os consensos políticos e sociais que presidiram à sua formação. Em causa estão sobretudo as suas iniciativas no campo legislativo tendentes a reforçar o controlo do Executivo sobre o Tribunal Constitucional e todo o aparelho judicial, a transformar Israel num Estado confessional e a impor legislação inspirada no judaísmo ultraortodoxo e anti-LGBT.
Os protestos e manifestações de cidadãos israelitas contra o que é apelidado de “golpe de Estado legislativo” iniciaram-se em janeiro deste ano e têm vindo a crescer, obrigando a polícia a carregar, na quarta-feira, 1 de março, sobre os manifestantes que bloqueavam estradas. Na ocasião, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu comparou os manifestantes aos colonos que devastaram Huwara.
Neste clima e na sequência dos confrontos de domingo, o ministro das Finanças, Betzalel Smotrich, sentiu-se à vontade para vir a público concordar com o pedido formulado por um alto dirigente administrativo israelita para que Huwara fosse “eliminada”. Questionado sobre qual a razão que o levara a concordar com essa declaração, o ministro afirmou taxativamente: “Porque acho que a vila de Huwara deve ser exterminada”.
Nesta mesma linha, o Parlamento israelita (Knesset) aprovou em primeira leitura, na sua sessão de dia 1 de março, o projeto de Lei do Governo israelita que permitirá aplicar a pena de morte a palestinos que ataquem judeus israelitas.
Os dois primeiros meses deste ano terão sido dos mais violentos das últimas décadas do conflito israelo-palestino: 63 palestinos mortos (na sua maioria devido a incursões do exército israelita na Cisjordânia) e 14 judeus israelitas mortos, vítimas de ataques em Jerusalém oriental ocupada, ou na Cisjordânia.