
A JMJ de Lisboa estará aberta a todos, garante o presidente dos bispos católicos. Foto © JMJ Panamá/Emmanuel Chacon.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou nesta quinta-feira, 15, que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a realizar em Lisboa, em 2023, deve estar aberta a todos os jovens, independentemente da religião. Citando o exemplo de judeus e muçulmanos, acrescentou que a JMJ é uma uma organização da Igreja Católica por iniciativa do Papa, para todos os jovens. “Quereríamos muito que não fossem apenas jovens católicos”, pois só desse modo a Igreja terá “alguma coisa para trazer e levar aos jovens de todo o mundo”.
Falando na conferência de imprensa no final da 200ª assembleia plenária da CEP, o também bispo de Setúbal respondia a uma pergunta do 7MARGENS sobre a possibilidade de o programa prever espaço para a participação de jovens nas “periferias existenciais” em relação à moral ou à doutrina da Igreja.
“Não podia ser de outro jeito”, respondeu. “É uma obrigação das jornadas estarem abertas” a todos, acrescentou, adiantando ainda que a programação deverá ser “muito mais maleável” por causa da pandemia.
Não se referindo especificamente a questões morais, o presidente da CEP insistiu no exemplo de jovens de outras religiões, citando o que se passou na última JMJ (no Panamá, em 2019), em que organizações judias e muçulmanas também receberam jovens participantes.
O bispo Ornelas também admitiu a eventualidade de num novo adiamento da JMJ – a iniciativa estava prevista para 2022, mas a pandemia obrigou a atrasar um ano. “Não podemos excluir nada”, admitiu. O essencial é garantir que nessa altura já haja condições para viajar e estar juntos em segurança.
“É hora dos leigos, mas o relógio parece que parou…”
Na assembleia plenária, os bispos fizeram ainda uma primeira reflexão sobre os novos ministérios que podem vir a ser instituídos na sequência de um motu proprio do Papa Francisco, de Janeiro último. Além de ter estabelecido a possibilidade de as mulheres passarem a ser, canonicamente, leitoras e acólitas (podendo proclamar os textos bíblicos ou colaborar no serviço do altar, durante as eucaristias), o documento abre também as portas ao reconhecimento e instituição de outros ministérios, sempre abrangendo também as mulheres.
Catequistas, ministros(as) da comunhão ou do acolhimento, acolhimento, animadores de grupos de jovens, serviço da caridade, são algumas áreas ou serviços que podem vir a ser consagrados como passíveis de instituição formal. Será um passo para “favorecer a comunhão e partilha dentro da Igreja”, disse o presidente da CEP na conferência de imprensa.
José Ornelas admitiu que podem ser criados “muitos outros” ministérios e deu o exemplo: há paróquias que não têm um padre e são leigos que ficam instituídos como líderes da comunidade para presidir às celebrações.
Os bispos não querem, no entanto, tomar decisões sozinhos e vão abrir um processo de debate progressivo aos organismos nacionais da CEP e às dioceses.
“Será um percurso para os próximos meses”, disse ao 7MARGENS o bispo de Bragança, D. José Cordeiro, especialista em liturgia e membro da Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade (CELE), já depois da assembleia dos bispos. Pode ser que o processo de consulta esteja concluído até à próxima assembleia plenária da CEP, no Outono, admitiu.
“É prematuro colocar nomes” aos novos ministérios, pois está tudo em aberto, disse. Mas deverão ser ministérios sempre nas três áreas de serviço da Igreja: a proclamação da palavra, a liturgia e a caridade.
Este é um processo importante para “escutar a Igreja, pois há muito mais para além da ministerialidade”, diz o bispo José Cordeiro. Trata-se de confirmar que “a hora é dos leigos, porque às vezes parece que o relógio parou”, ironiza.