
“Os valores que me foram passados, as experiências que me fizeram sair da minha zona de conforto e descobrir novas facetas, as pessoas que fui conhecendo pelo caminho, tudo contribuiu para a construção da minha personalidade.” Foto © Inês Azevedo
Neste fim-de-semana, comemoramos os 100 anos do CNE (Corpo Nacional de Escutas). E de forma a tentarmos projetar os próximos anos deste nosso movimento, é necessário voltar atrás e olhar para os passos que já foram dados.
No meu mundo, o Escutismo sempre esteve presente. Sendo os meus pais escuteiros – e tendo sido neste contexto que se conheceram – não é de estranhar que os meus valores desde cedo se tenham alinhado com os que o Escutismo representa e promove.
Sou escuteira desde 2007 e, 16 anos mais tarde, por cá me mantenho. E faço-o porque entendo o impacto que este movimento tem e a maneira como me moldou enquanto pessoa e cidadã. Os valores que me foram passados, as experiências que me fizeram sair da minha zona de conforto e descobrir novas facetas, as pessoas que fui conhecendo pelo caminho, tudo contribuiu para a construção da minha personalidade.
O CNE, apesar de estar a celebrar os seus 100 anos, consegue manter-se atual e relevante, continuando a assumir-se como um movimento de educação para jovens, um dos maiores a nível nacional. Segundo a visão do nosso fundador, Baden Powell, de “criar um mundo melhor”, pretende-se educar os jovens para assumirem um papel ativo nas sociedades em que se inserem. É valorizado o trabalho em equipa, o respeito pela natureza, o serviço ao próximo e a espiritualidade.
A espiritualidade e a fé, em particular, são elementos de destaque no contexto da religião. São inerentes ao método escutista, que vai além do catolicismo e se tenta adaptar a várias crenças por todo o mundo. No CNE, esta fé apresenta uma grande componente espiritual com características cristãs, fruto da visão do então arcebispo de Braga, o fundador do Escutismo Católico em Portugal.
Não podia também deixar de realçar o papel que o sistema de patrulhas representa no método escutista. Através deste sistema, os jovens organizam-se em pequenos grupos, cada um com a sua identidade própria, e é dentro destes que criam a sua pequena sociedade. Aqui, cada um desempenha um papel e torna-se responsável pelo sucesso do grupo – seja no cargo de tesoureiro, de relações públicas ou de secretário. Seja qual for a tarefa, cada um consegue trazer as suas qualidades para a mesa e contribuir para algo maior que todos nós.
E o escutismo também é muito isto. É saber que fazemos parte de um movimento mundial de 57 milhões de jovens, onde todos somos agentes de mudança, com poder para mudar a nossa comunidade e, eventualmente, o mundo.
Quando penso nos momentos mais caricatos e divertidos que já vivi, chego sempre a momentos passados nos escuteiros. Penso nas noites que passei com os meus amigos a olhar para as estrelas, em longas tardes (e noites) perdidos no outro lado do monte, sem água e sem comida. Penso em momentos à volta da fogueira, a cantar e a partilhar histórias e vivências, e tantos outros em que tudo parecia perdido.
Ao fim do dia, os 100 anos do Escutismo Católico em Portugal representam algo diferente para cada um de nós. Para mim, são uma plataforma de lançamento para os próximos 100, mantendo-nos fiéis à nossa promessa e a tudo o que todos representamos.
Inês Rodrigues é estudante de Mestrado de Estudos Interculturais para Negócios e candidata a dirigente do CNE na Região do Porto.