
Jornadas da Conferência Episcopal sobre sinodalidade, em Fátima: participantes pediram a revisão da formação nos seminários. Foto © Agência Ecclesia
“Tornar a nomeação de novos bispos mais célere, a acontecer num espírito de sinodalidade e com a participação da comunidade” e “promover o papel da mulher na Igreja” são dois dos pedidos dos cerca de 100 participantes nas jornadas pastorais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
“Repensar a formação nos seminários e a formação permanente dos sacerdotes, em chave sinodal” foi outra das sugestões apresentadas nas jornadas que, desta vez, para lá de três dezenas de bispos, abriram as portas a mais 40 padres e 20 leigos das 21 dioceses do país, além de várias pessoas que trabalham nos serviços nacionais da CEP.
O trabalho das várias dioceses apresentado nas jornadas aponta várias “preocupações comuns”, resume o comunicado enviado ao 7MARGENS sobre o que se passou em Fátima segunda e terça-feira, dias 20 e 21 de Junho: “desvalorização da condição baptismal e excessivo clericalismo de sacerdotes, consagrados e leigos; dívida de escuta das pessoas mais frágeis e excluídas; maior proximidade em relação a quem é diferente e a pessoas com deficiência; dificuldade em acolher e dialogar, em escutar e estar com os jovens, em promover a corresponsabilidade nos processos de decisão e de escolha de lideranças, em discernir e regulamentar os ministérios ordenados e na definição de estratégias de comunicação que permitam o anúncio do Evangelho na atualidade.”
Estas jornadas debateram a sinodalidade na Igreja – ou seja, a participação e corresponsabilidade, na relação entre as dioceses e o âmbito nacional, através da CEP [ver 7MARGENS]. E o processo em curso, com a participação de grupos, paróquias, movimentos e outras estruturas é “um ponto sem retorno, antecipando-se o desejo de lhe dar continuidade”, diz ainda o comunicado.
Os participantes propuseram ainda o exercício contínuo da escuta, “nomeadamente junto dos jovens”, a criação de grupos de acolhimento, a definição de um plano de comunicação, a promoção da formação do clero e dos leigos católicos, o trabalho em rede, a limitação de mandatos ou a obrigatoriedade dos conselhos pastorais.
Este foi precisamente um dos pontos defendidos por José Eduardo Borges de Pinho, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), na intervenção que fez sobre o tema. De acordo com vários participantes contactados pelo 7MARGENS, o antigo vice-reitor da UCP criticou o “clericalismo” e uma cultura de autoridade de tipo monárquico e autoritária que ainda dominam na Igreja em Portugal. E defendeu também que é importante rever o papel da mulher na Igreja.
Apesar de várias destas ideias terem ficado consignadas no comunicado final das jornadas, o bispo do Porto, Manuel Linda, contestou a análise do professor de Teologia, considerando-a demasiado pessimista, de acordo com os relatos feitos ao 7MARGENS.
Um plano de comunicação para a Igreja
No que respeita ao âmbito nacional e à Conferência Episcopal, os participantes sugeriram também a melhoria da comunicação “interna e externa” bem como a definição de um plano de comunicação para a Igreja Católica em Portugal. Outras ideias são o estudo da possibilidade de criar ministérios laicais, nomeadamente da caridade e do acolhimento, ou repensar a sustentabilidade económica das estruturas da Igreja em Portugal, lê-se no comunicado final (aqui na íntegra).
Já na manhã desta quarta-feira, os bispos reuniram apenas entre eles, na sua 203ª assembleia plenária da Conferência Episcopal, que contou com a presença do núncio apostólico. Neste momento, é Ivo Scapolo, embaixador do Vaticano em Portugal, o principal responsável pelos atrasos nas nomeações de novos bispos para Angra do Heroísmo, Bragança-Miranda e Setúbal, de que os participantes se queixaram implicitamente quando pediram nomeações mais “céleres”.
Uma das decisões da CEP, na continuação das jornadas dos dois dias anteriores, foi a nomeação dos membros da Equipa Sinodal da Conferência, que irá elaborar a síntese nacional a partir das sínteses diocesanas e ficará com a missão de acompanhar o processo sinodal a nível da CEP. O grupo é constituído por Carmo Rodeia, responsável da comunicação do Santuário de Fátima; Anabela Sousa, com igual cargo na Diocese de Setúbal; Isabel Figueiredo, directora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja; Paulo Rocha, director da Agência Ecclesia; Pedro Gil, responsável pela Comunicação da Opus Dei; padre Eduardo Duque, director nacional da Pastoral do Ensino Superior; e o padre Manuel Barbosa, secretário da CEP, que coordena.
Os abusos sexuais estiveram também na mesa de debate dos bispos: a assembleia definiu “procedimentos comuns” para o acesso aos arquivos diocesanos por parte do Grupo de Investigação Histórica (GIH) da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Ao mesmo tempo, a CEP divulgou um texto com “doze perguntas e respostas sobre os arquivos das dioceses, segundo o direito da Igreja”, que pretende ser pedagógico. E foi igualmente informada acerca do documento “Base comum de actuação das Comissões Diocesanas para Protecção de Menores e Adultos Vulneráveis”, aprovado pela equipa de coordenação das comissões diocesanas e homologado pelo conselho permanente da CEP.
Numa manhã de várias decisões, os bispos aprovaram ainda a versão final do documento sobre Ministérios Laicais para uma Igreja Ministerial, que respeita aos ministérios já instituídos de leitor, acólito e catequista.
“Sobre os outros ministérios, é um processo a continuar”, diz o comunicado, que remete para uma citação do documento agora aprovado: “A Conferência Episcopal Portuguesa propõe que, no âmbito do processo sinodal em marcha e depois de consolidada a prática dos ministérios oficialmente já instituídos, se abra um caminho de diálogo e de reflexão pastorais, com propostas bem concretas, em ordem ao reconhecimento e/ou à instituição de novos ministérios laicais.”