
Foto © Clara Raimundo/7MARGENS
Criar grupos interconfessionais de leitores do 7MARGENS, com focos temáticos, para pensar temas de actualidade e do quotidiano, fazendo disso informação, notícia ou opinião no próprio jornal – esta foi uma das propostas saídas do encontro de leitores e colaboradores do 7MARGENS, que decorreu este sábado, 23 de Setembro, em Lisboa, no auditório da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
As quase nove dezenas de participantes dedicaram a parte da tarde a debater, em grupos, “a experiência intelectual, emocional e espiritual” provocada pela leitura deste jornal, bem como eventuais formas de colaboração para o futuro. De manhã, o encontro abriu com uma intervenção de fundo do historiador e professor universitário António Matos Ferreira, sobre as “Religiões na actualidade: desafios e ambiguidades; reptos às vivências espirituais”.
Dois dos grupos de trabalho coincidiram na proposta referida. Num dos casos, concretizava-se que a ideia poderia abranger o debate de temas como a espiritualidade, a cultura ou a inteligência artificial, quer com grupos de leitores constituídos para o efeito, quer sugerindo temas semanais ou mensais que pudessem servir de mote a textos de opinião, eventualmente confrontando diferentes perspectivas ou dando lugar a respostas de uns a outros.
O 7MARGENS na Antena 1

Dilatar a presença de jovens e de pessoas de minorias religiosas (ou que, não ligadas a uma confissão concreta, expressem a busca espiritual), dar mais atenção ao tema dos migrantes, aprofundar a dimensão cultural, criar espaços para perguntas dos leitores, o aprofundamento do pluralismo e diversidade que o 7MARGENS já inclui (incluindo na perspectiva ecuménica e inter-religiosa) – foram outras propostas saídas dos diferentes grupos de trabalho constituídos.
Outras ideias sugeridas foram as notícias sobre as comunidades locais, dar mais espaço às entrevistas, divulgar histórias de vida das pessoas, promover a memória histórica (incluindo sobre as diferentes confissões religiosas) ou renovar o grafismo.
Várias das intervenções, quer nos grupos quer no plenário, sublinharam a liberdade, a diversidade, o pluralismo e o sopro de ar fresco que o 7MARGENS traduz, a importância do trabalho benévolo e voluntário (bem como do contributo financeiro, garante da sustentabilidade do jornal) e que leva tantos leitores a sentirem-se reconhecidos na originalidade da informação que é veiculada. Aliás, o encontro de Lisboa foi preparado por uma equipa de leitoras e leitores (Ana Cordovil, Helena Valentim, Lucy Wainwright, Margarida Belchior, Margarida Cordo, Silas Oliveira) – e já em Guimarães tinha havido o apoio de Sílvia Lemos e Teresa Castro.
Na mesma linha do contributo dos leitores, e tal como aconteceu no encontro da semana anterior em Guimarães, foram mostrados vários quadros que resultaram do inquérito feito pelo 7MARGENS a quem nos lê. Para que todas as pessoas os possam ficar a conhecer, iremos divulgar esses resultados durante os próximos dias. Os participantes ficaram também a saber que, durante o mês de Outubro, a Antena 1 passará a ter um programa semanal (a emitir em princípio à meia-noite, de sexta para sábado) com a marca do 7MARGENS, cujos pormenores também divulgaremos assim que haja elementos definitivos.
“Deus não pode estar fora do real”

Na intervenção que deu início aos trabalhos, ainda de manhã, António Matos Ferreira começou por referir que o cristianismo nunca foi tão completo como é hoje e que a diversidade social e religiosa introduziu um horizonte de cosmopolitismo na realidade.
Destacando a ideia de mobilidade que marca também as sociedade contemporâneas como já marcou no passado, o professor universitário referiu: “Há um futuro que se constrói a partir da mobilidade – muitas vezes na dor e no sofrimento, mas constrói-se.”
A importância da espiritualidade – na sua projecção exterior, na sua dimensão de interioridade pessoal e na importância que o corpo nela desempenha – foi outro aspecto sublinhado. “A mística é o exercício de fazer expressar no corpo, enquanto mediação, aquilo que é central”, disse Matos Ferreira na sua intervenção, cujo texto integral publicaremos também nos próximos dias.
Referindo-se a Portugal, o historiador apontou a fragilidade de uma sociedade que está encoberta pela ideia de se considerar a melhor. Do mesmo modo, o catolicismo português viu-se sempre como garante da nação – uma ideia que hoje já não funciona, pois a nação já não se reduz aos católicos.
Defendendo ainda a ideia da interioridade como a introdução do espaço “para o silêncio, a meditação e o estudo”, sugeriu a importância de criar grupos de vivência espiritual e dinâmicas de reflexão sobre temas como o trabalho, a pobreza, as vulnerabilidades, a paz, a não-violência, o armamento, a sexualidade e muitos outros. “Deus não pode estar fora do real”, disse, terminando com uma referência à importância da dimensão ecuménica e inter-religiosa e à liberdade como “dimensão basilar da espiritualidade”.