
Trabalho escravo de crianças no Congo: “Parte da nossa santidade é sermos o rosto de Deus para estes sinais horríveis de pecado”. Foto © Amnesty International e Afrewatch
“A chamada à santidade chega-nos, hoje, em situações de ruptura como o tráfico humano, a escravatura, a exploração de pessoas. Parte da nossa santidade é olharmos para estes sinais horríveis de pecado, que percorrem a humanidade, e sermos o rosto de Deus para elas”, afirmou o cardeal Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, do Vaticano, no Simpósio Teológico-Pastoral Fátima, Hoje: Pensar a Santidade.
O cardeal falou sábado, 19 de Junho, em videoconferência a partir de Roma, naquele que foi o segundo de três dias de simpósio, que se concluiu neste domingo, 20, no Santuário de Fátima.
Taglie referiu-se ainda às notícias “sobre os abusos dentro da Igreja contra pessoas vulneráveis como as crianças, os problemas financeiros, mesmo os conflitos internos” como factos que colocam a santidade da Igreja “em questão”. Mas, “mesmo feridos, os cristãos devem ser os primeiros, os mais próximos e os mais disponíveis para ouvir, encaminhar e levar a esperança de Deus aos outros”, disse, citado na página do Santuário de Fátima, pois “é isso que nos torna santos”.
No mesmo dia, interveio também o bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, que afirmou que “tem de soar sempre como a pior das blasfémias falar de guerra santa, de santa inquisição e de monstros sagrados desse género”.
Perante os cerca de 300 participantes do simpósio – uma centena dos quais via videoconferência –, o bispo Ornelas acrescentou: “Infelizmente, o processo de violência em nome de Deus não se reduz ao tempo de Jesus. Também os seus discípulos, com o passar das gerações, esqueceram o tempo em que, como o Mestre foram perseguidos e martirizados, deixaram-se levar pelos mesmos processos violentos e tornaram-se perseguidores e promotores de exclusão, perseguição e morte.”
No caso dos cristãos, eles não podem ter como parâmetro “uma santidade de fechamento e de exclusões” mas, como Jesus, devem ir antes “à procura dos pecadores, dos que sofrem, dos que estão isolados e mesmo daqueles” que rejeitam a Igreja, disse.
Já na conclusão da iniciativa, neste domingo, o cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima, considerou que Fátima tem de ser “uma escola de santidade para o nosso tempo, para o nosso povo, sobretudo os mais simples e humildes, que são a grande maioria dos peregrinos”. E acrescentou: “Mostrar o caminho como podemos viver a santidade no quotidiano, na nossa vida concreta é a verdadeira reforma de fundo da Igreja.”
Na mesma ocasião, o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, afirmou que esta iniciativa marcou o recomeço de algumas das actividades regulares da instituição. Outras estão marcadas para breve, como sejam os Encontros da Basílica, de Julho a Outubro, ou o Curso de Verão, também já no próximo mês.

A intervenção do cardeal Tagle no Simpósio sobre a santidade. Foto © Santuário de Fátima.