
Mais de 50 instituições religiosas, representando cerca de 1.500 milhões de pessoas em todo o mundo, subscreveram a missiva. Foto © Mat McDermott.
Enquanto os líderes mundiais se preparam para a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 27), que terá lugar nos próximos dias 6 a 18 de novembro no Egito, os representantes das principais religiões assinaram esta terça-feira, 2, uma carta onde fazem um apelo conjunto à adoção de um tratado internacional pela não proliferação dos combustíveis fósseis.
Mais de 50 instituições religiosas, representando cerca de 1.500 milhões de pessoas em todo o mundo, subscreveram a missiva, dinamizada pelo movimento católico Laudato Si’ e pela rede inter-religiosa GreenFaith.
Entre os grupos religiosos que assinaram a carta de apoio ao tratado incluem-se o Conselho Mundial de Igrejas, e duas dezenas de instituições católicas, como a Confederação Latino-Americana de Religiosos (CLAR), a Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM), ou o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
Representantes do budismo, judaísmo e islamismo também assinaram o documento, incluindo a Soka Gakkai, uma organização budista com 12 milhões de membros em 150 países, a Islamic Relief Worldwide, e o grupo climático judaico Dayenu.
A carta multiconfessional, que neste momento pode ainda ser assinada online, será entregue aos governantes das nações durante a COP 27.
Estas instituições unem-se assim a 70 cidades, 101 prémios Nobel, 3.000 investigadores científicos, 1.750 organizações da sociedade civil e 500 parlamentares da África, Ásia, Europa e América, que também apelam ao fim imediato dos novos projetos de combustíveis fósseis, a uma eliminação equitativa da produção atual de carbono, petróleo e gás, e a uma transição justa que assegure “100% de acesso a energia renovável globalmente” e que permita que “todas as pessoas e comunidades, em particular o Sul Global, floresçam”.
“A ação dos governos tem sido penosamente lenta e atendido demasiado às temerárias e enganosas empresas de combustíveis fósseis, impedindo uma legislação climática significativa e oportuna”, pode ler-se na carta assinada pelos líderes religiosos, que apelam a mudanças urgentes.
Ao longo das últimas semanas, a rede internacional GreenFaith realizou ações públicas na Europa, África, Estados Unidos, América latina, Indonésia e Austrália para protestar contra os novos projetos de combustíveis fósseis. O movimento Laudato Si’, por seu lado, estreou a 4 de outubro o documentário “A Carta”, que conta com a participação do Papa Francisco e mostra como a fé, a amizade e a ciência podem combater a crise climática e ecológica. O filme já foi visto por mais de seis milhões de pessoas no último mês.
Estudo sugere que Papa instaure uma “Quaresma permanente”

Um estudo da Universidade de Cambridge afirma que, se o Papa pedisse aos católicos do mundo inteiro para não comerem carne às sextas-feiras (adotando permanentemente uma tradição associada à Quaresma), a emissão de carbono seria reduzida em milhões de toneladas, noticiou esta segunda-feira o jornal The Tablet.
O estudo revela que um em cada quatro católicos em Inglaterra e no País de Gales alteraram os seus hábitos alimentares depois de os bispos católicos terem feito esse mesmo apelo, poupando 55 mil toneladas de carbono por ano.
“A Igreja Católica está muito bem posicionada para mitigar as alterações climáticas, com mais de um bilião de seguidores em todo o mundo”, sublinhou o professor Shaun Larcom, que liderou a investigação.
“A produção de carne é um dos principais impulsionadores das emissões de gases de efeito estufa. Se o Papa estabelecer a obrigação das sextas-feiras sem carne para todos os católicos em todo o mundo, isso poderia ser uma importante fonte de redução de emissões de baixo custo. Mesmo que apenas uma minoria de católicos opte por cumprir, como vimos no nosso caso”, referiu Larcom.
De acordo com um outro estudo publicado na semana passada pela revista científica Lancet, a queima de carvão, petróleo e gás natural mata 1,2 milhões de pessoas por ano, em todo mundo. Esta dependência, dizem os especialistas, é a causa de inúmeras doenças cardiovasculares e respiratórias, enquanto as alterações climáticas são responsáveis por um aumento das mortes relacionadas com o calor e a fome.
Também na semana passada, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, mostrava que, para manter o aquecimento global em 1,5°C, as emissões devem cair 45% em relação às previstas nas políticas atuais até 2030. Para a meta de 2°C, é necessário um corte de 30% [ver 7MARGENS].
“Temos que aprender com o passado. Os investimentos em energias renováveis são absolutamente vitais”, afirmou a esse propósito o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelando a uma tributação sobre os lucros extraordinários do setor de combustíveis fósseis.