
“Na quinta-feira, apareceram vídeos nas redes sociais que denunciavam uma “política de ‘limpeza da cidade’ promovida pela Câmara Municipal.” Foto © Daniel Zgombic
A directora-geral da Comunidade Vida e Paz (CVP), Renata Alves, garantiu ao 7MARGENS que as supostas operações de retirada de pessoas sem-abrigo de algumas zonas de Lisboa – nomeadamente da Avenida Almirante Reis – são operações que pretendem “evitar problemas de saúde pública”, feitas periodicamente e que nada têm a ver com a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que começa daqui a 18 dias em Lisboa.
Na quinta-feira, apareceram vídeos nas redes sociais (como este no Instagram) que denunciavam uma “política de ‘limpeza da cidade’ promovida pela Câmara Municipal. “Neste momento pessoas sem abrigo estão sendo removidas da Avenida Almirante Reis”, como “parte da agenda” da CML “para receber a Jornada Mundial da Juventude e a visita do Papa a Portugal durante a primeira semana de Agosto”, denunciava o texto que acompanha o vídeo.
Não é verdade, garante Renata Alves. Estas operações pretendem apenas limpar as ruas e as tendas, não retirar as pessoas. Isto “não tem nada a ver com a JMJ; são acções que acontecem periodicamente em espaços urbanos, articuladas com o município”. Normalmente, as equipas da CVP tentam encaminhar as pessoas sem-abrigo para um alojamento temporário – no caso, o quartel de Santa Bárbara –, de modo a tentar-se que as pessoas tenham possibilidade de sair da rua, encontrando alojamento e um programa de reinserção, de modo que elas saiam “da situação em que se encontram”.
“Somos confrontados com pessoas que aceitam e com pessoas que não aceitam. As pessoas são livres de tomar as suas decisões” e muitas delas, além da falta do alojamento, enfrentam também problemas de saúde mental.
“Há também equipas de rua que são equipas médicas”, diz a directora-geral da Vida e Paz, que admite que “fazem falta mais alternativas do ponto de vista da habitação”. É notório que as situações de vulnerabilidade estão a aumentar” e a prioridade, além do apoio às pessoas que estão na rua, é a “prevenção”, para evitar que as “muitas famílias em situação de vulnerabilidade” não venham também a viver na rua.
“Tem havido um esforço no âmbito do plano municipal e da Estratégia Nacional para as Pessoas Sem-Abrigo”, diz ainda Renata Alves. Mas, paralelamente, o paradigma dos sem-abrigo tem mudado, diz a responsável: há mais migrantes, mais doença mental entre as pessoas que vivem na rua e há muitos consumos de álcool e heroína, por exemplo, que tão pouco facilitam a integração social.
“Fazem falta mais respostas”, tendo em conta esta alteração de paradigma, admite a responsável da CVP. “E o poder político tem de estar atento, também por causa da população migrante, pois a situação é “preocupante e pode agravar-se”.