Literatura e Poesia
Os Dias da Semana – Um mau poema suja o mundo
Bons espíritos sustentam que a poesia ocidental fala quase exclusivamente de amor e de morte. Não seria, também por isso, de estranhar o tema do poema inédito de Joan Margarit, que poderá ter sido escrito no período em que o autor teve de enfrentar o cancro que o vitimaria.
Encarnar a vida
Avanço entre os clamores do desespero e da esperança/ Sem olhar para trás como a mulher de Ló/ Levo o passado nos pés e o futuro na voz/ Com eles vou desenhando à mão o caminho.
“Menina e Moça”, os judeus sefarditas e a emanação feminina de Deus
Gritos de espanto e assombro do poeta judeu português, Samuel Usque, face à perseguição e tragédia do seu povo. Dor que transcende o Universo. Atracou em Sepharad – nome judaico dado à Península Ibérica – nos séculos II ou III, numerosa comunidade judaica que aqui se estabeleceu: artesãos, cientistas, comerciantes, escritores, filósofos, juristas, médicos, frequentadores das cortes e conselheiros de reis.
Palavra e Palavras
Durante as semanas de Advento li o novo livro de Valter Hugo Mãe (VHM), Contra Mim. Trata-se de um livro que revela quem é Valter Hugo Mãe. A sua leitura literalmente me encantou e fez emergir múltiplas epifanias. Um grande livro, um grande escritor. Uma prosa lindíssima e original. Uma profunda busca de Deus.
Uma peregrinação interior com “Triságia”
Ao percorrer as páginas do livro Triságia, fi-lo em diferentes modos, ritmos e olhares, numa cadência que passou pela curiosidade, atravessou a espessura do desconhecido e mergulhou na profundidade. Primeiro, o livro ficou à espera, à minha espera em cima da mesa, junto de outros livros não lidos. De vez em quando deitava de soslaio o olhar àquela capa manchada de tinta alilasada. O título Triságia empurrava-me para o dicionário, mas tinha preguiça de procurar. Aliás, quando falei do livro a uma amiga, a pergunta saltou: Que significa essa palavra?
Quando o Cristo-Rei voou
À luz das estrelas floriram-lhe as asas / E ao albor o Cristo-Rei lançou-se e voou… (um poema de Liomarevi)
Cardeal Tolentino: “Para quem não passou pela guerra, este talvez seja o momento de maior incerteza”
“Há um sentimento de uma certa desesperança ou de cansaço” que se abate sobre todos, diz o cardeal Tolentino Mendonça, a propósito da pandemia e da forma como as pessoas estão a reagir. E acrescenta: “Talvez, para muitos adultos que não passaram por uma experiência de guerra, este seja o momento da sua história de maior incerteza e de maior pessimismo em relação ao futuro.”
Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano
Fazer corresponder a cada dia do ano uma breve história ocorrida nesse dia em tempos mais ou menos recentes ou mais ou menos remotos é o propósito de Eduardo Galeano em “Os filhos dos dias”. Protagonizadas por todo o tipo de gente, anónima ou famosa, desprezível ou admirável, de múltiplos cantos do planeta (incluindo Portugal), as histórias oferecem um testemunho quotidiano, que pode ser também um ensinamento ou uma interrogação.
Todos os Santos
Todos os Santos/ Mesmo aqueles que não conhecemos/ Que viveram no silêncio e anonimato/ Com pequenos gestos e palavras/ Mas que nos cuidam em cada dia…
A resposta do cardeal Tolentino ao secretário-geral Guterres (e o livro como sonda apontada ao futuro)
“Os livros fizeram a Europa”, disse Tolentino Mendonça, ao receber o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva. Guterres interpelou o bibliotecário da Santa Sé através de vídeo e o cardeal respondeu com três palavras. E disse que os livros são “telescópios e sondas apontados...
Uma simples prece
Nem todos somos chamados a um grande destino/ Mas cada um de nós faz parte de um mistério maior/ Mesmo que a nossa existência pareça irrelevante/ Tu recolhes-te em cada gesto e interrogação
Encontraremos juntos outras perguntas (poema)
Não me digas o que é a felicidade / Faz-me feliz! / Não me digas a quem devo amar, ou o que é o amor /Ama-me!
Um Poema sobre Deus
Nestes últimos dias, ao ler o livro de José Luís Peixoto, O Caminho Imperfeito – que descreve a sua experiência de viagens à Tailândia e a Las Vegas (Quetzal, 2017) –, emerge subitamente, saído do nada e sem quaisquer comentários do autor o poema muito belo que abaixo transcrevo, o único poema do livro (p. 106).
Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo: coração e renascimento
Ramalho Ortigão e Eça de Queirós estiveram em Notre-Dame, em Paris, no dia 10 de Agosto de 1883. O escritor encontra-se já na Alemanha quando recorda aquela que considera ser “a catedral do romantismo”. Notre-Dame, afirma Ramalho Ortigão, é, para ele e para os que, como ele, são “artistas latinos, latinos pela raça, latinos pela religião, latinos pela família literária”, “a igreja paroquial, a igreja da grande freguesia do espírito a que pertencemos”.
Hoje nasceu-nos uma menina (poema)
Já não esperávamos filhos, nem futuro/ mas entre nós o puro amor ainda ardia/ e assim nasceu a fonte eterna, de um deserto de um sonho e de um beijo na porta áurea.
O menino que não via o sol, mas que o tinha dentro de si
Mussa era o menino cego que não via o sol. Mas via o que não viam nenhum dos outros meninos e meninas da aldeia, nenhuma das mulheres grandes ou dos homens crescidos. O modo de Mussa ver era sentir. E foi a sentir, com uma luz que vinha do coração, que, um dia, Mussa salvou os outros meninos e meninas seus amigos. Mussa não via o sol, porque tinha o calor dentro dele.
A nuvem do não-saber: “Quanto mais o leres, melhor o compreenderás”
No Prólogo, o Autor anónimo desta obra enumera quem não deve ler o livro: “os bajuladores, os tagarelas carnais, os linguareiros, os detractores, os que espalham boatos, e toda a espécie de críticos e de curiosos”. Exceptuam-se “os activos (…) tocados pelo espírito de Deus”.
Do prazer da leitura como exercício espiritual – as comunidades de leitores como um outro modo de ser crente? (ensaio)
Por todo o lado se constituem comunidades de leitores de literatura universal, de pessoas que encontram nos livros o motivo para a hospitalidade da alteridade. Como é sabido, a prática da leitura comunitária e pública da Torah era fundamental para o judaísmo rabínico em torno do Talmude. A chamada lectio divina (meditação orante da Palavra), praticada primordialmente nos mosteiros, assume essa linha da tradição hebraica e amplia-a como modo de ser fundamental da experiência cristã do evento originário crístico.
“Cinco réis de gente”, um hino à Vida e à relação com a Natureza
Quando um escritor se inspira na infância – e se a esta não faltou afectividade – o mistério da vida que as crianças intuem profundamente, os instantes gravados na memória, sublimam-se e ficam para sempre. É disso que trata este “romancito”, expressão usada pelo autor na dedicatória.
Profecia aos cristãos (poema livremente inspirado nas palavras de Martin Niemöller)
Primeiro quiseram exterminar os cristãos da Arménia / Mas não nos importámos com isso / Nós não eramos arménios…
Aquilino e Bartolomeu dos Mártires: o “pai dos pobres e mártir sem desejos”
Aquilino Ribeiro, escritor de prosa escorreita, pujante, honrou a dignidade da língua portuguesa à altura de outros antigos prosadores de grande qualidade. Irmanado com a Natureza beirã: aves, árvores, animais e homens. Espirituoso e de fina ironia, é bem o Mestre da nossa Língua. Em “Dom Frei Bertolameu” faz uma espécie de hagiografia do arcebispo de Braga, D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), canonizado pelo Papa Francisco a 6 de Julho de 2019.
Sedutora viagem no espaço e no tempo
O autor, arquitecto de formação universitária inicial – algo de relevante para entendermos esta obra fascinante – é sacerdote jesuíta, aspecto que, de imediato, identifica uma singularidade do olhar marcada pelos exercícios espirituais inacianos. Que lugar desempenhará, então, esse fragmento que interrompe o título – [Gráfico], onde uma outra convocação estética, de coabitação do textual e do visual se indicia?
Tolentino Mendonça vence Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2020
O cardeal José Tolentino Mendonça venceu a edição deste ano do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, por aquilo que o júri considerou o seu contributo excepcional na “divulgação da cultura e dos valores europeus”, anunciou no sábado, 13 de Junho, o Centro Nacional de Cultura (CNC), uma das entidades promotoras do galardão.
Exposição sobre Frei Agostinho da Cruz (re)abriu em Lisboa
A exposição Frei Agostinho da Cruz e a Espiritualidade Arrábida, patente no Museu do Oriente, em Lisboa, reabriu já, depois de ter sido encerrada poucos dias depois da sua inauguração, a 13 de Março, devido à pandemia.
Eugénio de Andrade: a mística do corpo
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, Fundão, 19 de Janeiro de 1923 – Porto, 13 de Junho de 2005), um dos mais prestigiados e traduzidos poetas portugueses; nasceu numa família de camponeses, prosseguiu os seus estudos em Castelo Branco, Lisboa e Coimbra. Integrado na Inspecção de Serviços Médico-Sociais, viveu os últimos 50 anos da sua vida no Porto. Morreu faz agora 15 anos.
Semana Laudato Si’(2): oxigénio, desafios e Jerusaquém (dois depoimentos e um poema)
Depoimentos de Irene Guia e Ivo Francisco, a propósito da Semana “Laudato Si'”, proposta pelo Papa Francisco para assinalar os cinco anos da publicação da encíclica sobre o “cuidado da casa comum”. E o poema “Jerusaquém”, de Limorevi.
Luis Sepúlveda (1949-2020): viajar para contar
“Eu estive aqui e ninguém contará a minha história”. A frase com que Luis Sepúlveda se confrontou no campo de concentração de Bergen Belsen marcou-o. Deparou-se com ela numa extremidade do campo e muito próximo do lugar onde se erguiam os infames fornos crematórios. Na superfície áspera de uma pedra, viu que “alguém (quem?) gravou, talvez com o auxílio de uma faca ou de um prego” esse que considerou como “o mais dramático dos apelos”.
Fr. Agostinho da Cruz, professor da liberdade (e o seu último poema, quase “inédito”)
Da leitura dos poemas de Frei Agostinho da Cruz, nascido no dia 3 de Maio de 1540 (faz 480 anos), na vila de Ponte da Barca, nunca saímos de mãos vazias. Ao lê-lo, esquecemos que a sua linguagem tem mais de quatrocentos anos. Trata-se de um poeta cuja actualidade se torna patente a cada hora de convívio. Não se limitou a revestir de beleza artificial os lugares comuns do seu tempo. Confrontamo-nos com um ser que se expôs em cada linha, na sua biografia tumultuosa, cheia de “guerras” e de desilusões.
Diários de quarentena (39): “A Verdadeira Liberdade”, de Álvaro de Campos, dito pelo TUT
A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
25 de Abril sempre! Mesmo (e sobretudo) em tempo de pandemia
Não fizemos um estudo científico, mas não estaríamos a mentir se disséssemos que nunca como este ano nos chegaram à redação tantas informações de iniciativas para celebrar o Dia da Liberdade. Dos municípios aos museus, passando por ONGs, companhias de teatro e IPSS – sem esquecer a Assembleia da República, cuja sessão terá provavelmente uma excelente audiência depois de toda a polémica que a envolveu, a lista é quase interminável. E original. Em tempo de pandemia, 46 anos depois da revolução, este será um 25 de abril em grande parte virtual, mas com uma vontade bem real de celebrarmos e estarmos juntos.
Diários de quarentena (35): Por quem os sinos dobram (e a foto de quando podíamos estar juntos)
Muitos europeus, quando tomaram consciência da pandemia do covid-19 e se preparavam para a quarentena, correram a comprar A Peste, de Albert Camus, e Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Os dois romances subiram nos tops de alguns países. Perante uma crise que atrai o adjetivo “inimaginável”, talvez algumas pessoas busquem na ficção, além de um refúgio, uma forma de, recorrendo à imaginação de outros, se prepararem para situações imprevisíveis.
Diários de quarentena (33): Registar o tempo que passa
Dizem os historiadores que a Guerra da Secessão (1861-64) é a primeira sobre a qual se sabe muito, se pode investigar e conhecer imenso. Porquê? Porque, ao contrário do que se passara em anteriores conflitos, nela muitos soldados e baixas patentes sabiam escrever. E escreveram. Diários, cartas e outros textos. Sobretudo cartas. Durante a guerra e nos anos posteriores. Um enorme registo de emoções, razões, expetativas, interpretações, sofrimentos e alegrias.
Diários de quarentena (32): O que fazemos para ultrapassar esta quarentena? (e um poema de Miguel Torga)
Joana Damasceno, Ana Carapina e Lara Martins, alunas de Educação Moral e Religiosa Católica do Agrupamento de Escolas José Estêvão (Aveiro): O que é a nossa quarentena. “Neste vídeo mostramos o que temos feito para ocupar a nossa quarentena. Pode também servir como ideias de atividades para outras pessoas, há muita coisa que se pode fazer! Em fundo, Joana Damasceno canta Andrà Tutto Bene (Tudo ficará bem), de Cristóvam.
Diários de quarentena (26): Se não te abrires, irei à tua procura; Esperança; e uma oração em tempo de pandemia
Não sei porque é que o faço desde domingo passado, a verdade é que acordo todos os dias, cedo, para a ver; para ter a certeza de que está viva. E esta manhã estava e voltei a bendizer a senhora que ma apanhou, fugira eu do fartanço da casa e fora beber um café.
“Ágora”: Inquietação de Deus, poesia que emerge da arte
Ágora, o novo livro de poemas de Ana Luísa Amaral, é uma combinação da bela poesia que lhe conhecemos com imagens de obras de arte. Melhor diria, são poemas que emergem da contemplação de obras de arte.
Diários de quarentena (23): Fonte de Vida e A Última Ceia
Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa./ Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram/ que apenas escondia as feridas do silêncio).
Diários de quarentena (22): Um cartaz em Sintra e um poema de Drummond
Obrigado como todos nós a ficar em casa, Luís mandou estendeu uma bandeirola na varanda do seu apartamento, em Sintra: “Separados mas juntos!” Quem passa pela pequena praceta onde ele mora, sorri ao abraço. Não sabe é que o autor do bom grito, um jovem técnico de iluminação, 28 anos, desempregado, mandou o seu recado ao mundo quando também perdia a namorada
Egito Gonçalves, poeta desaparecido, mas presente
Falo de Egito Gonçalves, que faz 100 anos neste 8 de Abril de 2020 (Matosinhos, 1920 – Porto, 2001). Editor, tradutor, poeta com vasta obra publicada e traduzida em francês, inglês, castelhano, catalão, búlgaro, polaco, turco.
Diários de quarentena (20): Coronam Vitae e Quando chovia em abril
Quando chovia em abril, o cheiro da terra molhada era tão forte como a cor da mimosa amarela, naqueles dias da Semana Santa, em que eu corria a abrigar-me debaixo do seu tronco, a chorar a Paixão de Cristo e os pecados do mundo.
Tagore: Em busca de Deus
Rabindranath Tagore (1861-1941), Nobel de Literatura em 1913, é um grande poeta universal. Indiano, de família principesca, estudou Direito e Literatura, em Inglaterra, em 1877, não chegando a acabar o curso devido à secura do ensino superior ministrado. Tal como o seu amigo Gandhi, que sabia de cor e recitava todos os dias as Bem-aventuranças, foi atraído pelo cristianismo e
Diários de quarentena (19): Confinamento, Domingo de Ramos e a beleza do grupo (um poema e duas fotos)
Sim, há medo./ Sim, há isolamento./ Sim, há compras de pânico./ Sim, há a doença./ Sim, há mesmo a morte./ Mas, dizem que em Wuhan depois de tantos anos de barulho,/ Se podem agora ouvir os pássaros.
Editora francesa oferece “panfletos” sobre a crise
Sendo certo que as doações essenciais neste período de pandemia dizem respeito a tudo o que nos pode tratar da saúde física, não há razão para negligenciar outras dádivas. É o caso de uma das mais famosas editoras francesas, a Gallimard, que diariamente oferece textos que pretendem ser uma terceira via entre a solenidade da escrita de um livro e o anódino da informação de um ecrã.
Diários de quarentena (16): Labirinto sem saída
Por estes dias em que se começam a ouvir algumas queixas por este confinamento a que estamos sujeitos, tenho pensado no que será estar preso “a sério”.
Nick Cave e o espanto de Maria Madalena defronte do túmulo
É um assombro que espanta Nick Cave, aquele em que Maria Madalena e Maria permanecem junto à sepultura. Para o músico australiano, este é provavelmente o seu momento preferido da Bíblia. Jesus tinha sido retirado da cruz, o seu corpo depositado num túmulo novo, mandado talhar na rocha, e uma pesada pedra rolou para fazer a porta da sepultura. Os doze discípulos fugiram, só Maria Madalena e “a outra Maria” ali ficaram diante do túmulo.
Apesar de tudo, a liberdade
Sinto a doença à minha volta e à volta dos meus. E, nesta reclusão involuntária, lembro-me de Trujillo e de suas altas torres. Não de todas, mas de uma que, na sua delgada altivez, se assumiu como mirante.
Diários de quarentena (11): Quando vier a Primavera, poema de Alberto Caeiro
Quando vier a Primavera – um poema de Alberto Caeiro, escolhido por J. Lopes Morgado
Diários de quarentena (9): Corvida 20 e um vírus discriminatório
De repente o dia acordou sem cor / O olhar fechou-se entre o chão e o tecto / O som da rua é o da gota de água da torneira da cozinha / E a Terra encolheu-se num simples quadro…
Diários de quarentena (8): Viver confinado – (Part)Ida, poema de Daniel Faria e música de Alfredo Teixeira
Viver confinado é, também, uma experiência simbólica. Os primeiros cientistas socias, que estudaram o fenómeno urbano moderno, explicaram como nós, os humanos, usamos estratégias de distanciamento psíquico quando nos falta espaço.
“Louvor da Terra”, um jardim para cuidar
O filósofo sul-coreano (radicado na Alemanha) Byung-Chul Han é já conhecido do público português através da publicação de numerosos dos seus diretos e incisivos ensaios, onde a presença da pessoa numa sociedade híper-digitalizada é refletida e colocada em questão. Agora, em “Louvor da Terra”, possibilita-nos uma abordagem diferente e original, fruto da experiência do autor com o trabalho de jardinagem.
“A Banda Que Tocou fora da Graça de Deus”
Ao completar trinta anos de vida literária (1989-2019), António Breda Carvalho brinda-nos com um novo romance, que abre com um importante prefácio de Silas Granjo, neto do fundador da Banda, onde se enumeram as peripécias de um conflito que a opôs aos representantes da Igreja Católica entre 1922 (início da excomunhão) e 1939 (fim do interdito).
Al-Mutamid, poeta do Gharb al-Andalus, celebrado na Biblioteca Nacional
Al-Muʿtamid: poeta do Gharb al-Andalus é o título da mostra bibliográfica que será inaugurada às 18h desta segunda-feira, 3 de Fevereiro, na Biblioteca Nacional, em Lisboa. A mostra, que permanece aberta até 9 de Maio, pretende celebrar os 980 anos do nascimento de Al-Muʿtamid ibn ʿAbbād (Beja, 1040 – Agmate, 1095), poeta árabe do al-Andalus e rei de Sevilha durante o período islâmico medieval da Península Ibérica.
Ler para crescer espiritualmente: católicos descobrem livros e autores
A sensibilização para o gosto pela leitura, contribuindo para o enriquecimento espiritual, o amadurecimento psíquico e a intervenção na sociedade, são algumas das motivações presentes nas iniciativas de comunidades cristãs que, através do livro, por vezes não especificamente religioso, cruzam fé e cultura.
“Quatro Contos Dispersos”, de Sophia: a desordem da ordem estabelecida
Todos os contos que se seguem neste livro, apresentados como memórias autobiográficas, são exemplos dessa desordem da ordem estabelecida.
“Os Ciganos”: um invisível imperativo de liberdade
Com “Os Ciganos”, conto inédito de Sophia completado pelo neto, fica feito o convite a seguir um invisível imperativo de verdade e de liberdade, de forma a sermos capazes de saltar os muros dos preconceitos, que nos separam e impedem de participar na festa da fraternidade, preparada pelo diálogo respeitador e amistoso entre diferentes.
Sophia lida pelos mais novos (6) – A Floresta
Uma floresta onde se esconde um tesouro – e o que fazer com ele? Um convento de frades e um bando de bandidos, uma menina que acredita em anões e um anão que guarda a floresta há 200 anos. E ainda um músico que só precisa de 20 moedas e um cientista olhado como louco. Ingredientes de “A Floresta”, um dos contos infantis de Sophia de Mello Breyner, hoje aqui relido em textos e ilustrações de alunos do 4º ano, turma C, da Escola Básica Bom Pastor (Porto) – e ainda numa placa de pasta de modelar dos alunos do 6º ano do Externato da Luz (Lisboa).
Sophia lida pelos mais novos (5) – A Árvore
Uma árvore de que as pessoas gostam, que se transforma em sombra demasiada, que é cortada e partilhada, que se transforma em memória e cantiga, num barco grande ou em cerejeiras… A Árvore, um dos contos infantis de Sophia de Mello Breyner, é hoje aqui recontada com textos e ilustrações de alunos do 4º ano, turma C, da Escola Básica Bom Pastor (Porto).
A primeira poetisa da Europa
Comparada a Homero; segundo Platão, a décima Musa. Era «a Poetisa», tal como Homero era «o Poeta». Manuscritos, nunca os vimos. Provavelmente, queimados, devido ao fanatismo de eclesiásticos bizantinos. Só alguns poemas inteiros chegaram até nós; o resto são fragmentos. Porque nos fascina ainda, uma frase, um verso, passado 2600 anos?…
O pensamento nómada do poema de Deus
Uma leitura de “Uma Beleza que Nos Pertence”, de José Tolentino de Mendonça.
O aforismo, afirma Milan Kundera na sua Arte do romance (Gallimard, 1986), é “a forma poética da definição” (p. 144). Esta, prossegue o grande autor checo, envolvendo-se reflexivamente numa definição da definição, é o esforço, provisório, “fugitivo”, aberto, de dar carne de visibilidade àquelas palavras abstratas em que a nossa experiência do mundo se condensa como compreensão.
Trazer Sophia para o espanto da luz
Concretizar a possibilidade de uma perspectiva não necessariamente ortodoxa sobre os “lugares da interrogação de Deus” na poesia, na arte e na literatura é a ideia principal do colóquio internacional Trazida ao Espanto da Luz, que decorre esta sexta e sábado, 8 e 9 de Novembro, no polo do Porto da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
“No tempo dividido” – Mistagogia da temporalidade na poesia de Sophia
Sophia chegou cedo. Tinha dez ou onze anos quando li O Cavaleiro da Dinamarca, cuja primeira edição data de 1964. É difícil explicar o que nos ensina cada livro que lemos. Se fechar os olhos, passados mais de 30 anos, recordo ainda que ali aprendi a condição de pe-regrino, uma qualquer deriva que não só nos conduz de Jerusalém a Veneza, como – mais profundamente – nos possibilita uma iniciação ao testemunho mudo das pedras de uma e às águas trémulas dos canais da outra, onde se refletem as leves colunas dos palácios cor-de-rosa.
Cada manhã o alvoroço da luz – um (quase) inédito de Sophia
Em 1990, Henrique Manuel Pereira, seminarista e responsável editorial da Atrium – Revista dos Alunos do Seminário Maior do Porto pediu a Sophia de Mello Breyner um poema para aquela publicação. Sophia respondeu com este poema, publicado no nº 8 (ano IV) da revista. O...
Nobel para Olga Tokarczuk, uma “mística na busca perpétua da verdade”
Uma das suas amigas, Kinga Dunin, explica sobre a vencedora do Nobel da Literatura, Olga Tokarczuk: “É uma mística na busca perpétua da verdade, verdade que só pode ser alcançada em movimento, transgredindo as fronteiras. Todas as formas, instituições e idiomas concertados são a morte.”
A beleza num livro de aforismos de Tolentino Mendonça
Um novo livro do novo cardeal português foi ontem posto à venda. Uma Beleza Que nos Pertence é uma colecção de aforismos e citações, retirados dos seus outros livros de ensaio e crónicas, “acerca do sentido da vida, a beleza das coisas, a presença de Deus, as dúvidas e as incertezas espirituais dos nossos dias”, segundo a nota de imprensa da editora Quetzal.
O que há neste lugar? – Guia de exploração, livro de espiritualidade
Poderá um guia de exploração da paisagem, para crianças e jovens, ser um livro de espiritualidade?
Penso que sim, e não apenas para crianças.
Frei Agostinho da Cruz, um poeta da liberdade em tempos de Inquisição
“Poeta da liberdade”, que “obriga a pensar o que somos”, viveu em tempos de Inquisição, quando as pessoas com uma visão demasiado autónoma “não eram muito bem vistas”. Uma Antologia Poética de frei Agostinho da Cruz, que morreu há 400 anos, será apresentada esta sexta, 14 de Junho, numa sessão em que Teresa Salgueiro interpretará músicas com poemas do frade arrábido.
Daniel Faria, “último poeta místico do século XX”, da “dimensão dos grandes”
“É o último poeta místico do século XX”, com uma “dimensão que o coloca na linha de uma Teresa d‘Ávila e dos grandes”, diz o bispo Carlos Azevedo, a propósito de Daniel Faria (10-04-1971 a 09-06-1999), autor de Explicação das árvores e de outros animais, que morreu na sequência de um acidente. Neste domingo, 9 de Junho, completam-se 20 anos sobre a morte de Daniel, pouco depois de festejar 28 de idade.
Agustina Bessa-Luís: Relembrar a Voz
Elevadas figuras públicas julgaram e acharam e opinaram e qualificaram a sua pessoa. Agustina dispensaria adjetivos elogiosos, artifícios de oratória, distinções de circunstância. A compensar o vazio da voz ao vivo, ficam as lembranças, folheiam-se as páginas, retoma-se o embalo do texto, saboreiam-se as personagens, guardam-se as suas reflexões. A surpresa acontece, sempre.
Laranjeiras em Atenas
Há Laranjeiras em Atenas, de Leonor Xavier (Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2019) reúne um conjunto diversificado de textos, a um tempo divertidos e sérios, livro de memórias e de viagens, de anotações e comentários… O gosto e a surpresa têm a ver com pequenos pormenores, mas absolutamente marcantes.
“Sombra Silêncio” – poesia para vigiar o Mistério
Assim descreve Carlos Poças Falcão, numa breve nota final, os poemas reunidos em Sombra Silêncio: «Cançonetas de um Verão que logo passam, mas que para sempre ficam ligadas à memória mítica de um rosto, de um clima, de um lugar – assim estes poemas. Em caso algum me biografei. Mas em todos eles me vejo e me estranho.»
“Rezar no Coração” – o discípulo pergunta, o mestre responde
Em Rezar no Coração, Tomáš Špidlík, jesuíta checo, utiliza o método dos antigos mestres da espiritualidade com os seus discípulos – o discípulo pergunta e o mestre vai respondendo, sendo cada resposta um convite a nova pergunta. É este cenário de proximidade que...
Clarice Lispector e Deus
Clarice Lispector, grande escritora brasileira, nascida de uma família que teve de abandonar a Ucrânia devido às perseguições aos judeus, é considerada uma das grandes escritoras do século XX, a maior escritora judia depois de Kafka.
Adélia Prado: Espírito em Corpo de Mulher
Nestes últimos tempos de violência contra as mulheres, pela onda crescente de notícias sobre horror, tortura e morte, sofremos sinais de tragédia, de prantos e lutos, a ensombrecer-nos os dias.
Atrevo-me, neste contexto, a dizer que a escritora brasileira Adélia Prado inspirou este meu pequeno texto, no sentimento divino das mais comuns circunstâncias da nossa humana condição.
cummings e a responsabilidade do humano
Dois sonetos de e.e. cummings (1894-1962), ambos publicados em Xaipe (1950), dão-nos duas possibilidades de pensarmos a responsabilidade humana na terra, para a qual o Papa Francisco apela na sua carta encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum, de 2015. Ambos os poemas surgem numa pequena antologia bilingue organizada por Jorge Fazenda Lourenço (Assírio & Alvim, 1991; col. Gato Maltês), e focam dois modos de ver esta mesma responsabilidade
Que fizeste do teu irmão?
Acabei de ler há dias o último livro de Hélia Correia (HC) Um Bailarino na Batalha(Relógio de Água, 2018). O livro descreve uma espécie de “peregrinação” de um grupo de refugiados africanos em direção à “terra prometida” – neste caso a Europa – onde nunca chegarão:...
Escândalo em Jerusalém: A banda desenhada cristã
Escândalo em Jerusalém refere que o álbum “ilustra com humor a vida em Jerusalém no tempo da Paixão de Jesus”.
Clarice há 50 anos
Todas as Crónicas colige a colaboração da escritora brasileira Clarice Lispector em jornais e revistas entre os anos 40 e 70 do século XX.
Uma carga preciosa
No início do mês de Setembro de 2015, uma criança aparecia morta numa praia da Turquia. Ficou depois a saber-se que era um menino sírio. Tinha três anos e chamava-se Alan Kurdi. As imagens terríveis que o mostravam só, deitado na orla do mar, como que adormecido, ou...
As questões “ambientais, económicas e éticas” do desperdício alimentar
É possível que o livro Desperdício alimentar, de Iva Pires, professora da Universidade de Lisboa, não seja para muitos um livro oportuno para a quadra natalícia. Os que pouco se apoquentam em multiplicar o esbanjamento de comida nesta altura do ano acharão, com...
O fanatismo como “inflexibilidade, sentimentalismo e falta de imaginação”
O romancista israelita Sami Michael descreveu uma viagem de táxi em que o motorista se pôs a predicar sobre quão importante era para os judeus, como ele próprio e o seu passageiro, que se matassem todos os árabes. Sami Michael escutava-o com enorme paciência e, em...
Pecadores impenitentes e pequenas epifanias
É a fotografia que empresta o título ao mais recente livro editado em Portugaldo escritor italiano Claudio Magris. Ele socorre-se, aliás, do Grande Dicionário da Língua Italiana para, logo no início de Instantâneos, explicar que o instantâneo é “obtido com um tempo de...