
Foto de arquivo do cardeal Tolentino Mendonça em Fátima, quando da peregrinação de 13 de maio de 2021, ano em que publicaria o livro agora premiado. Foto © Arlindo Homem/Agência Ecclesia
O livro de poemas de José Tolentino Mendonça, Introdução à Pintura Rupestre, que pode descrever-se como a fixação da memória de uma infância, acaba de ser premiado com o Prémio Literário Francisco de Sá de Miranda.
Como notava Cristiana Vasconcelos Rodrigues, num texto no 7MARGENS, quando da edição do livro, “este exercício de fixação de uma memória é disposto, metaforicamente, como uma escavação arqueológica, presente desde logo no título do livro – a «pintura rupestre», designa o tempo antes da escrita, do verbo, o tempo das imagens, e remete-nos para o que depois, a cada poema, nos é dado ver: o exercício de leitura e de construção de uma narrativa da infância a partir de sinais, objectos, imagens por vezes fulgurantes, sensações soltas”.
Cristiana Vasconcelos Rodrigues apontava o facto de “o olhar que se vota a decifrar as imagens da «pintura rupestre»” ser “o de um estranho, feito de determinação e vulnerabilidade, que analisa, comenta, ensaia uma explicação a cada verso, adensando o sentido enquanto tacteia e se entrega ao «jogo de esconde-esconde» («Dos objetos») com os vestígios, «a presença subsistente de um resto» («Dos objetos»), firmando uma voz de pendor reflexivo, igualmente indiciado no título do livro: Introdução à…”
Instituído pela Câmara Municipal de Amares em parceria com o Centro de Estudos Mirandinos, o prémio é atribuído de dois em dois anos e tem um valor pecuniário de 7 500 euros. De acordo com o comunicado que deu nota do galardão, este prémio contempla a modalidade de poesia e destina-se a autores de língua portuguesa.
No caso de Tolentino Mendonça, cardeal e prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, no Vaticano, o júri deixou um extenso elogio: “Composto por poemas evocativos de memórias pessoais, não raramente através de imagens impressivas e de versos pautados por uma notável sensibilidade, os poemas do livro não deixam, em igual medida, de ser uma profunda revisitação da nossa memória coletiva enquanto povo.”

Para os jurados, Introdução à Pintura Rupestre é um “livro de grande maturidade literária”, que “afirma-se, em versos ora densos, ora pautados por uma simplicidade tocante, como um questionamento implícito da condição humana, norteado por um olhar inocente, embora longe de ingénuo, que só a memória da infância transmite na sua pureza primordial”.
O júri foi composto por Sérgio Guimarães de Sousa (diretor do Centro de Estudos Mirandinos e Professor da Universidade do Minho), Isabel Morán Cabanas (professora da Universidade de Santiago de Compostela) e Anabela de Figueiredo Costa (diretora da Biblioteca Municipal Francisco de Sá de Miranda).