Luís Moita, um amigo grande que partiu

| 30 Jan 2023

Luís Moita

Luís Moita na sua “Última Lição”, na Universidade Autónoma de Lisboa, em Julho de 2019. Foto © Departamento de Comunicaçao da UAL

 

Sinto dentro de mim o impulso para falar dele; de qualquer vazio que sentimos com a sua morte?

Nem por sombras. Falar do positivo duma vida, valor que não se perdeu, mas que fica como uma pedra grande e consistente nos alicerces do futuro que vamos construindo.

Não esqueço de modo nenhum o tempo de companheirismo de ano e de turma, desde a idade dos 14/15 anos, no seminário de Almada prolongando-se depois pelo dos Olivais, ao todo num período de nove anos. O Luís evidenciava-se pela inteligência, sem nunca fazer disso pedestal para sobressair; sempre a cumplicidade alegre, brincalhona e solidária com todos os colegas. E assim foi crescendo, evidenciando-se sempre sem nunca deixar de ser o mesmo. Ah! só mais uma notazinha: um dia, numa conversa sobre Jesus, o Luís dispara: “Jesus Cristo é tão humano, tão humano que até é Deus.” Isto dá para um livro sobre cristologia.

No final do curso nos Olivais foi para Roma, doutorar-se em Moral. Era tão mal vista essa disciplina então lecionada. A obra de Bernhard Häring, A Lei de Cristo, que nos chegou na versão francesa, representou uma revolução nesse campo. O Luís foi, portanto, para Roma, doutorar-se em Moral, mas sob a orientação de Bernhard Häring.

Vindo de Roma foi para professor no seminário dos Olivais. Tudo bem até à altura em que, devido a uma nova maneira de encarar o cristianismo e a Igreja (estava-se em pleno Concílio Vaticano II) rebentou o conflito entre as perspetivas do Cardeal Cerejeira e as da nova equipa de professores do Seminário. Deu-se a demissão de professores.

O Luís foi, entretanto, nomeado pároco de Marvila, tinha contacto profundo com muitos colegas que procuravam, não outra Igreja mas uma Igreja que fosse outra. E foi em espaço da paróquia que passou a haver reuniões de um razoável grupo de padres, não para conviver mas para refletir. O Luís estava à frente; a PIDE [polícia política da ditadura] também lá foi!

Aí nasceu a ideia do encontro de padres no Entroncamento, não sei se vinda do Luís se do José Magalhães. Esse encontro extraordinário teve a liderança do Luís Moita. Ficou na História.

O Luís avançou para novo campo de luta: veio a questão da PAZ, com as vigílias de São Domingos e da Capela do Rato, estadia em Caxias e a seguir um empenhamento a sério em publicação de documentação sobre a guerra colonial – o BAC, Boletim Anti Colonial. Sempre em ligação com católicos progressistas, Nuno Teotónio Pereira, etc. etc. etc. Esse caminho levou-o de novo a Caxias até chegar o 25 de Abril.

A seguir, veio o seu percurso, brilhante também, pelo que fui seguindo, no ensino universitário.

Um amigo grande que partiu. Apesar de tudo o que se diz a dar uma ideia menos negativa da morte, ela continua a fazer nascer lágrimas e a embargar a voz dos amigos com fortes raízes, apanhados de surpresa.

 

António Correia foi pároco de Palmela

(A missa do funeral de Luís Moita realiza-se esta terça-feira, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, às 15h.)

 

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