Brasil incerto

Lula da Silva quer pacificar a sociedade e combater a pobreza

| 31 Out 2022

lula da silva comemora vitoria nas presidenciais do Brasil a 30 out 2022, foto Roberto Nunes via Wikimedia Commons

“As pessoas têm que saber: embora eu vá governar para todos, são os mais necessitados que irão receber a política mais influente do meu governo”, disse Lula da Silva no seu discurso de vitória. Foto © Roberto Nunes via Wikimedia Commons.

 

Foram mais 2,1 milhões de pessoas que votaram em Lula da Silva do que no seu adversário. É muita gente, mas, à escala do Brasil, representam menos de um por cento dos votos. Vitória apertada, ainda não reconhecida por Jair Bolsonaro, mas, de qualquer modo, uma vitória. De um resistente que invocou este domingo, 30, “a bênção de Deus” para todos os brasileiros.

De resto, as palavras emocionadas de Lula da Silva estiveram marcadas por um referencial cristão. Desde logo, o apelo à reconciliação e à convivência – a ideia de que deve acabar essa realidade de “dois Brasis”, em que até dentro da mesma família se instalou o ódio por razões políticas. Mas também na preferência pelos mais pobres, como linha de ação governativa.

“Eu volto a prometer para vocês – vincou ele no discurso de vitória, em São Paulo –  eu tenho muitos compromissos, muitas tarefas, mas a mais essencial é garantir que cada criança, cada mulher, cada adolescente, cada homem, possam todo dia tomar o café [da manhã], almoçar e jantar as calorias e as proteínas necessárias!”

 

Prioridade aos mais necessitados

Referindo-se aos milhões de pobres que o país tem conhecido nos últimos anos, o presidente eleito confessou o quanto o surpreendeu o regresso e a dimensão da pobreza, num país que, fez notar, é o terceiro produtor mundial de alimentos. “Eu jamais imaginei voltar a ver nesse país mães e pais carregando criança no colo e pedindo comida porque não têm o que comer”, afirmou.

Ao longo do discurso, foi anunciando o regresso de alguns dos programas que abriram horizontes aos segmentos mais pobres da sociedade brasileira nos dois mandatos em que presidiu aos destinos do país. Anunciou a restauração do Ministério da Cultura (“porque o povo quer livros em vez de armas” e “a cultura também alimenta a nossa alma”) e prometeu criar igualmente de novo Ministério dos Povos Originários, para cuidar dos assuntos dos povos indígenas, que tantos problemas e conflitos tiveram de enfrentar com Bolsonaro. “Deus nos fez iguais, e não é possível que alguém seja tratado como inferior só porque não tem a cor branca”, verberou Lula da Silva.

Referindo-se aos 215 milhões de habitantes que tem o Brasil, o presidente eleito prometeu “governar para todos sem distinção, sem olhar se é rico ou se é pobre, sem olhar se é de esquerda ou de direita”. Mas, reiterou, “as pessoas têm que saber: embora eu vá governar para todos, são os mais necessitados que irão receber a política mais influente do meu governo”.

Considerando que, ao longo da sua vida, Deus foi generoso com ele, Lula referiu que a ação política que pretende desenvolver, em diálogo com todos os setores da sociedade, decorre da sua fé: “eu não posso faltar com vocês, não posso faltar com a minha fé”, assumiu.

 

Lula, um “Biden à brasileira”?

Que condições terá Luiz Inácio para levantar a economia, desenvolver as políticas sociais que promete e criar um clima de mais unidade?

Todos os observadores reconhecem que os órgãos legislativos não lhe vão fazer a vida fácil. Uma grande parte dos governos dos estados também não lhe são favoráveis. A força e as caraterísticas do movimento gerado em torno de Bolsonaro, conjugadas com a estreita margem do resultado da eleição são outros tantos fatores que complicarão a ação do novo poder, a que haveria que somar as reticências e mesmo animosidade que o nome de Lula continua a despertar em setores da esquerda política que, noutros tempos foram seus apoiantes.

O risco de algum tipo de ação dos militares parece estar posto de parte, com a garantia das lideranças de que respeitarão o vencedor das urnas.

Num texto do ensaísta brasileiro Bruno Cava, publicado pelo site da Al Jazeera este domingo, 30 de outubro, o autor defende que Lula muito dificilmente será protagonista capaz da definição e aplicação de mudanças estruturais que enfrentem a profunda crise económica do Brasil na última década.

Comparando-o a Biden no período (ou “interlúdio”?) pós-Trump, o autor entende que ele “pode, pelo menos, oferecer uma oportunidade de buscar a reconciliação e reconstruir pontes entre segmentos polarizados da sociedade”, abrindo, por essa via, “caminho para a construção de alternativas políticas muito necessárias”.

Já será motivo de esperança se estas próximas semanas forem ultrapassadas sem violência.

 

Bispos do Brasil apelam à reconciliação

bispos brasileiros participam na assembleia geral da cnbb em 2 set 2022, foto CNBB

Os bispos brasileiros convidaram “todos, indistintamente” a “acompanhar, exigir e fiscalizar aqueles que alcançaram êxito nas urnas”. Foto © CNBB.

 

A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil afirma que “o exercício da cidadania não se esgota com o fim do processo eleitoral” e que a reconciliação é, agora, “ainda mais essencial ao novo ciclo que se abre”.

Numa mensagem difundida pela presidência do órgão, a CNBB convida “todos, indistintamente” a “acompanhar, exigir e fiscalizar aqueles que alcançaram êxito nas urnas”.

“Todos possam caminhar unidos para a construção da política melhor, aquela que está a serviço do bem comum, conforme define o nosso amado Papa Francisco” são os votos da Conferência dos Bispos do país.

A mensagem termina pedindo a bênção da Senhora de Aparecida para todos os brasileiros.

Recorde-se que uma oração análoga do Papa, na audiência geral do passado dia 26 de outubro, em que pediu a “Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência” foi objeto de contestação entre setores apoiantes de Bolsonaro.

 

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