
Fiéis de máscara numa missa numa igreja do Porto. Foto © João Lopes Cardoso/Diocese do Porto.
Os leitores do 7MARGENS são muito críticos do modo como a Igreja Católica em Portugal é conduzida, toma decisões e se apresenta em público. Mais de metade (54,73%) é de opinião que a forma como a Igreja o faz é um pouco, muito ou totalmente desadequada à sua missão. Regra geral, as respostas à consulta do 7MARGENS indicam que quando se trata de avaliar a situação presente, os leitores têm uma apreciação mais positiva da experiência eclesial pessoal em que estão envolvidos do que do conjunto da Igreja em Portugal.
Esta diferença de avaliação é evidente quando 17,08 por cento discorda muito, ou mesmo totalmente, que se possa caracterizar a Igreja como um espaço de acolhimento aberto a todos, enquanto apenas 11,65 por cento faz a mesma crítica à comunidade cristã concreta a que pertence. E se quase um terço (30,91%) discorda (pouco, muito ou frontalmente) das práticas que a sua comunidade adota para facilitar a participação de todos, igual opinião é partilhada por quase metade (46,38%) dos inquiridos quando se trata de avaliar as mesmas práticas na Igreja no seu todo.
As perguntas formuladas no inquérito aos leitores procuravam recolher a sua opinião sobre a comunidade cristã a que cada um se sente mais diretamente envolvido e sobre a Igreja Católica em Portugal a partir de três eixos (acolhimento, participação e governo adaptado à missão) que constituem os três temas centrais do Sínodo dos Bispos que o Papa Francisco abre este sábado dia 9 de outubro: comunhão, participação e missão.
Não há dúvidas, porém, que a questão do poder – condução da comunidade, processo de tomada de decisões e representação pública – é aquela que é mais criticada e menos aceite: há uma maioria que se pronuncia como estando algo, muito ou totalmente em desacordo com o atual estado de coisas a nível da igreja Católica em Portugal e um terço (35,01%) que partilha destas opiniões a propósito do mesmo tema na sua comunidade mais próxima. Igualmente sintomático é o facto de apenas 22,79 por cento dos inquiridos estarem muito ou totalmente de acordo com a caracterização da Igreja Católica como uma comunidade que adota práticas que facilitam a participação de todos.
Homens mais contestatários
Talvez por estarem mais envolvidas no serviço à Igreja, as mulheres surgem como menos contestatárias dos processos de decisão interna e do exercício do poder no interior da comunidade. Metade delas (49,60%) não concorda com a atual situação, enquanto a posição crítica roça os 60 por cento no que diz respeito aos homens.
Quanto aos grupos etários, os mais críticos são os mais jovens e os mais velhos. Quase 60 por cento dos jovens menores de 25 anos discordam da forma como a sua Igreja é conduzida. Numa percentagem não muito distante (56,70%), os com mais de 66 anos acompanham essa discordância. Entre os jovens adultos (25-34 anos) e os leitores com mais de 35 e menos de 67 anos, a percentagem é praticamente constante e supera em um ponto percentual a metade.
Em termos geográficos, os leitores residentes na Diocese de Leiria-Fátima apresentam-se como os mais desagradados com o modo como a Igreja é conduzida: exatamente 70 por cento não se reconhece nos processos de tomada de decisão existentes. Bem perto dali, em Coimbra, apenas 48,33 por cento são tão contestatários. Em Lisboa esta percentagem volta a subir para metade (49,57%), no Porto fixa-se nos 56,25 por cento e em Braga em 52,54 por cento.
1036 respostas
Este artigo foi escrito a partir da análise de 1036 respostas válidas ao questionário enviado aos assinantes do 7MARGENS e recebidas entre 24 de setembro e 4 de outubro de 2021. O questionário esteve também acessível a partir do próprio site do 7MARGENS. As percentagens nele referidas são sempre, a menos que se indique o contrário, calculadas sobre o total de respostas após a exclusão da resposta “não se aplica” que estava presente em todas as perguntas aqui objeto de tratamento. Aos inquiridos era proposto manifestarem a sua opinião sobre diversas questões, usando para cada uma delas – como se tornou clássico neste tipo de inquéritos – uma escala de seis níveis, variando entre “discordo totalmente” e “concordo totalmente”. Para simplificar a leitura desta primeira análise, pareceu-nos útil apresentar agrupados os resultados dos dois primeiros itens (grande ou total discordância) e os dos dois últimos (grande ou total concordância). Por vezes, agrupámos toda a discordância (itens de 1 a 3) e toda a concordância (itens de 4 a 6). A estrutura etária e de género, a distribuição espacial, a relação com a religião e os indicadores da participação na celebração da eucarística e em movimentos, ou estruturas eclesiais, foram objeto de análise em artigo publicado nesta quarta-feira no 7MARGENS.