
Foto de arquivo de refugiados cristãos na Índia. Foto © EU 2012 – photo credits: EC/ECHO Arjun Claire
Os episódios de violência contra cristãos na Índia continuam a crescer e, de acordo com o Forum Cristão Unido (UCF, da sigla em inglês), que reúne diversas entidades religiosas da Índia, só desde o início do ano já se registaram mais de duas centenas de incidentes.
No total, diz a organização, até ao final de Maio foram contabilizados 207 casos, especialmente nos estados de Uttar Pradesh, Chhattisgarh, Jharkhand, Madhya Pradesh e Karnataka. Uma situação que reclama uma intervenção urgente por parte das autoridades judiciais e de segurança, diz o UCF, citado pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Os dados foram obtidos através de uma linha telefónica gratuita “de ajuda”, a nível nacional, que permitiu dar voz a pessoas que, provavelmente, nunca denunciariam situações de abuso e de violência.
Estes casos, considera o UCF, representam um padrão cada vez mais comum na Índia depois de 2014, quando o actual primeiro-ministro, Narendra Modi, e o seu partido BJP, nacionalista hindu, conquistaram o poder. A.C. Michael, coordenador nacional do UCF, diz que no ano passado foram documentados 505 casos de violência – no Natal houve 16 actos violentos, incluindo a profanação e danos de estátuas de Jesus Cristo numa igreja histórica no estado de Haryana.
“Estes dados vão contra as declarações de funcionários do governo federal e dos vários Estados, segundo os quais não há nenhuma perseguição e são apenas alguns incidentes isolados, por parte de elementos marginais”, diz o mesmo responsável.
O Fórum denuncia ainda a inoperância das autoridades que, muitas vezes, assistem passivamente à violência sem nada fazerem. De acordo com os dados coligidos, há situações que incluem brutalidade contra mulheres, encerramento forçado de igrejas, interrupção de momentos de oração e o ostracismo social, visível especialmente nos meios rurais.
“Muçulmanos já não são cidadãos iguais”
Também os muçulmanos – cerca de 14 por cento da população de 1,4 mil milhões de pessoas – são vítimas crescentes de violência por parte de grupos que se reclamam do nacionalismo hindu radical. Em Abril, por exemplo, uma festividade religiosa deu origem a actos de violência contra muçulmanos, como contava na altura a Associated Press.
No The Muslim News, jornal sediado em Londres e dedicado ao noticiário do mundo muçulmano, um artigo de opinião de Shauqueen Mizaj observava, em Abril, que “o sentimento anti-muçulmano intensificou-se e é agora ainda mais evidente”.
E acrescentava: “Os muçulmanos já não são vistos como cidadãos iguais, com ataques físicos e verbais à sua subsistência, rituais religiosos, locais de culto e hábitos alimentares. Tem havido apelos abertos ao genocídio de muçulmanos e à violação em massa de mulheres muçulmanas. Em Karnataka, o Governo proibiu hijabs em instituições educacionais em todo o Estado, obrigando as mulheres muçulmanas a escolher entre a sua fé e a educação.”
Mizaj acrescentava outro exemplo: “Os grupos de direita no estado também tinham iniciado uma campanha de combate à carne, que recebeu o apoio dos principais ministros do governo Modi, incluindo o ministro do Interior, Araga Jnanendra.”
Em Janeiro, outro jornal, The Muslim Times, noticiava que numa conferência no mês anterior, Pooja Shakun Pandey, um dos responsáveis do partido Mahasabha, de extrema-direita, afirmara: “Se 100 de nós se tornassem soldados e estivessem preparados para matar dois milhões [de muçulmanos], iríamos vencer (…) proteger a Índia e fazer dela uma nação hindu.”
No caso dos cristãos (perto de 28 milhões, pouco mais que 2% da população do país) e dos católicos, especificamente, a AIS aprovou, em 2021, um pacote de mais de cinco milhões de euros para apoiar as comunidades daquele país. A ajuda permitiu ajudar à subsistência de padres e religiosas, bem como de catequistas e suas famílias, em mais de 140 dioceses da Índia que estavam numa situação de particular dificuldade por causa das consequências da crise pandémica.