Muçulmanos também são vítimas

Mais de 200 casos de violência contra os cristãos desde Janeiro na Índia

| 21 Jun 2022

Refugiados cristãos na Índia. Foto © EU 2012 - photo credits: EC/ECHO Arjun Claire

Foto de arquivo de refugiados cristãos na Índia. Foto © EU 2012 – photo credits: EC/ECHO Arjun Claire

 

Os episódios de violência contra cristãos na Índia continuam a crescer e, de acordo com o Forum Cristão Unido (UCF, da sigla em inglês), que reúne diversas entidades religiosas da Índia, só desde o início do ano já se registaram mais de duas centenas de incidentes. 

No total, diz a organização, até ao final de Maio foram contabilizados 207 casos, especialmente nos estados de Uttar Pradesh, Chhattisgarh, Jharkhand, Madhya Pradesh e Karnataka. Uma situação que reclama uma intervenção urgente por parte das autoridades judiciais e de segurança, diz o UCF, citado pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). 

Os dados foram obtidos através de uma linha telefónica gratuita “de ajuda”, a nível nacional, que permitiu dar voz a pessoas que, provavelmente, nunca denunciariam situações de abuso e de violência.

Estes casos, considera o UCF, representam um padrão cada vez mais comum na Índia depois de 2014, quando o actual primeiro-ministro, Narendra Modi, e o seu partido BJP, nacionalista hindu, conquistaram o poder. A.C. Michael, coordenador nacional do UCF, diz que no ano passado foram documentados 505 casos de violência – no Natal houve 16 actos violentos, incluindo a profanação e danos de estátuas de Jesus Cristo numa igreja histórica no estado de Haryana.

“Estes dados vão contra as declarações de funcionários do governo federal e dos vários Estados, segundo os quais não há nenhuma perseguição e são apenas alguns incidentes isolados, por parte de elementos marginais”, diz o mesmo responsável. 

O Fórum denuncia ainda a inoperância das autoridades que, muitas vezes, assistem passivamente à violência sem nada fazerem. De acordo com os dados coligidos, há situações que incluem brutalidade contra mulheres, encerramento forçado de igrejas, interrupção de momentos de oração e o ostracismo social, visível especialmente nos meios rurais.

“Muçulmanos já não são cidadãos iguais”

Também os muçulmanos – cerca de 14 por cento da população de 1,4 mil milhões de pessoas – são vítimas crescentes de violência por parte de grupos que se reclamam do nacionalismo hindu radical. Em Abril, por exemplo, uma festividade religiosa deu origem a actos de violência contra muçulmanos, como contava na altura a Associated Press. 

No The Muslim News, jornal sediado em Londres e dedicado ao noticiário do mundo muçulmano, um artigo de opinião de Shauqueen Mizaj observava, em Abril, que “o sentimento anti-muçulmano intensificou-se e é agora ainda mais evidente”. 

E acrescentava: “Os muçulmanos já não são vistos como cidadãos iguais, com ataques físicos e verbais à sua subsistência, rituais religiosos, locais de culto e hábitos alimentares. Tem havido apelos abertos ao genocídio de muçulmanos e à violação em massa de mulheres muçulmanas. Em Karnataka, o Governo proibiu hijabs em instituições educacionais em todo o Estado, obrigando as mulheres muçulmanas a escolher entre a sua fé e a educação.”

Mizaj acrescentava outro exemplo: “Os grupos de direita no estado também tinham iniciado uma campanha de combate à carne, que recebeu o apoio dos principais ministros do governo Modi, incluindo o ministro do Interior, Araga Jnanendra.”

Em Janeiro, outro jornal, The Muslim Times, noticiava que numa conferência no mês anterior, Pooja Shakun Pandey, um dos responsáveis do partido Mahasabha, de extrema-direita, afirmara: “Se 100 de nós se tornassem soldados e estivessem preparados para matar dois milhões [de muçulmanos], iríamos vencer (…) proteger a Índia e fazer dela uma nação hindu.”

No caso dos cristãos (perto de 28 milhões, pouco mais que 2% da população do país) e dos católicos, especificamente, a AIS aprovou, em 2021, um pacote de mais de cinco milhões de euros para apoiar as comunidades daquele país. A ajuda permitiu ajudar à subsistência de padres e religiosas, bem como de catequistas e suas famílias, em mais de 140 dioceses da Índia que estavam numa situação de particular dificuldade por causa das consequências da crise pandémica.

 

A freira que quer mobilizar 100 mil religiosas na luta contra o tráfico humano

Irmã Seli Thomas

A freira que quer mobilizar 100 mil religiosas na luta contra o tráfico humano novidade

“Mais de 100 mil religiosas estão na Índia. (…) Se todas trabalhássemos juntas no combate ao tráfico através do nosso próprio ministério, poderíamos salvar muitas vidas”. O apelo foi lançado pela irmã Seli Thomas (religiosa indiana das Irmãs Catequistas de Maria Imaculada Auxiliadora), durante o encontro da AMRAT – Talitha Kum, aliança internacional de religiosas contra o tráfico, que decorreu no passado fim de semana na Índia.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

“Em cada oportunidade, estás tu”

Ajuda em Ação lança campanha para promover projetos de educação e emprego

“Em cada oportunidade, estás tu” é o mote da nova campanha de Natal da fundação Ajuda em Ação, que apela a que todos os portugueses ofereçam “de presente” uma oportunidade a quem, devido ao seu contexto de vulnerabilidade social, nunca a alcançou. Os donativos recebidos revertem para apoiar os programas de educação, empregabilidade jovem e empreendedorismo feminino da organização.

Amnistia pede a líderes africanos na COP28 que se unam em defesa dos direitos humanos

Alertando para "erros" do passado

Amnistia pede a líderes africanos na COP28 que se unam em defesa dos direitos humanos novidade

Os líderes africanos que vão participar na cimeira sobre o clima das Nações Unidas, COP28, “devem evitar os erros cometidos durante a Cimeira Africana do Clima”, que decorreu no passado mês de setembro, e na qual adotaram a Declaração de Nairobi sobre as Alterações Climáticas e Apelo à Ação. Porque esta, “em muitos aspetos, não deu prioridade efetiva aos direitos humanos e à justiça climática para o continente”, alertou a Amnistia Internacional.

Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023

Iniciativa da Assembleia da República

Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023 novidade

Duas organizações que têm trabalhado na área da proteção das crianças foram as escolhidas pela Assembleia da República para receber o Prémio Direitos Humanos 2023: a P.A.J.E. – Plataforma de Apoio a Jovens ex-Acolhidos e o ProChild – Laboratório Colaborativo. Será ainda atribuída a Medalha de Ouro Comemorativa do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos membros da extinta Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, adianta um comunicado divulgado pelo Parlamento.

Igreja: não nos serve uma simples administração

Igreja: não nos serve uma simples administração novidade

Falemos claro, sem personalizar ou localizar, mas pelo que acontece, quase sempre e em toda a parte, nos mesmos cargos, e nas mesmas circunstâncias. Intervenhamos numa atitude conventual, numa expressão que hoje praticamente não se usa e nem sei se se pratica, a chamada “correcção fraterna”. Quero referir-me aos últimos acontecimentos, particularmente, na Igreja; novos Bispos sagrados e novos cardeais purpurados ou investidos e também novas colocações de Párocos. (Serafim Falcão)

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This