
Migrantes resgatados no passado sábado, 17 de junho, pelo navio da ONG Open Arms, no Mediterrâneo Central. Foto © Open Arms.
Nos primeiros cinco meses de 2023, o número de travessias irregulares para a União Europeia através da rota do Mediterrâneo Central aumentou 160% face ao mesmo período do ano passado. Nas vésperas do Dia Mundial do Refugiado, que se assinala esta terça-feira, 20 de junho, e poucos dias após aquele que pode ter sido o segundo pior naufrágio de migrantes no Mediterrâneo, sabe-se que, ao todo, foram 50.318 os migrantes identificados pela agência europeia de controlo de fronteiras Frontex a chegar por essa via, o maior número registado desde 2017.
Este número corresponde a cerca de metade do total de migrantes que chegaram à União Europeia só este ano. Entre janeiro e maio, “o número de deteções de passagens irregulares nas fronteiras externas da UE atingiu 102 mil, mais 12% do que no ano anterior, de acordo com cálculos preliminares”, avança a Frontex num comunicado divulgado no final da semana passada.
As outras rotas migratórias registaram quedas que variaram entre 6% (no caso do Mediterrâneo Ocidental) e 47% (África Ocidental). Esses decréscimos deveram-se sobretudo a longos períodos de más condições meteorológicas, que tornaram ainda mais arriscadas as já perigosas viagens a bordo de embarcações que não estão preparadas para enfrentar o mar.
“No entanto, a pressão migratória na região continua alta e podemos esperar um aumento na atividade de contrabandistas na região nos próximos meses”, alerta a Frontex no mesmo comunicado.
Mais de 800 migrantes em três dias

Só nos últimos três dias, foram pelo menos 876 os migrantes resgatados no Mediterrâneo Central. Esta segunda-feira, 19 de junho, a Guarda Costeira Grega anunciou ter resgatado 68 migrantes ao largo da ilha grega de Leros, junto à Turquia, não havendo relatos de feridos ou desaparecidos.
Já na noite de domingo, pelo menos 12 barcos foram intercetados, com um total de 691 migrantes a bordo, que partiram dos portos de Zuwarah, na Líbia, e Sfax, na Tunísia, juntando-se a outras embarcações que chegaram nas horas anteriores, de acordo com os meios de comunicação locais.
Estes migrantes foram recebidos no centro de acolhimento da ilha de Lambedusa, que se encontra atualmente sobrelotado com cerca de 1.300 pessoas (tendo capacidade para apenas 400), estando prevista a sua transferência para outras localidades.
Simultaneamente, um navio da organização não governamental espanhola Open Arms dirige-se neste momento para o porto de Livorno, no norte de Itália, onde deverá desembarcar 117 migrantes resgatados no sábado, 17 de junho, no Mediterrâneo central, procedentes do Sudão, Eritreia e Líbia.
Esse porto, denuncia a Ooen Arms, fica “três vezes mais longe do porto seguro mais próximo”, mas devido à opção do governo italiano de designar portos distantes para o desembarque dos migrantes resgatados para amenizar a situação dos centros de acolhimento do sul, “o sofrimento recai sobre os mais vulneráveis”.
JRS assinala dia com campanha, documentário e exposição

“Com a guerra na Ucrânia, a solidariedade não conheceu fronteiras. O mundo uniu-se para desconstruir as barreiras e garantir que as pessoas que fugiam das atrocidades do conflito conseguiam encontrar na Europa a paz e segurança que tanto merecem. Mas não nos podemos esquecer que tantas outras nacionalidades vindas de países como o Sudão, a Síria, ou a Eritreia, que também fogem de guerras, conflitos e crises humanitárias, são forçados a arriscar a sua vida na travessia do Mediterrâneo, a viver em condições deploráveis, bloqueadas às portas da Europa, sem dignidade ou direitos. Acreditamos que todas as pessoas merecem ser acolhidas e protegidas, independentemente da sua nacionalidade ou proveniência”, refere André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) Portugal e coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).
Para assinalar o Dia Mundial do Refugiado, o JRS lança esta terça-feira, 20, a campanha de sensibilização “Solidariedade sem fronteiras, um mundo sem barreiras”, para que as políticas de acolhimento dos refugiados sejam mais justas.
Também esta terça-feira, pelas 18 horas, a instituição apresenta o documentário “A última fronteira”, da autoria de André Carvalho Ramos (jornalista da CNN Portugal), no Salão Nobre do Colégio Almada Negreiros no Campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa, que pretende revelar a desigualdade das políticas da Europa para os refugiados.
Segue-se, às 19 horas, um debate, que contará com a participação da secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Isabel Rodrigues, da jornalista Ana França, e de alguns refugiados acolhidos em Portugal. A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia online.
De 22 a 25 de junho, estará ainda patente, no Lardo do Cabeço de Bola, em Lisboa, a exposição “Vizinhos do Lado“, que reúne 21 retratos de famílias afegãs. As fotografias registaram o início de “21 projetos de vida” em Portugal, mais concretamente nos centros de acolhimento em Fátima e Ericeira, e que hoje “estão a ser construídos já em residências próprias, em diferentes cidades portuguesas, do centro ao norte do país – um trabalho de proximidade e inclusão na comunidade local que tem contado com o apoio de equipas de voluntários, “Comunidades de Hospitalidade”, e dos técnicos sociais do JRS Portugal, que juntos trabalham para o processo de autonomização deste grupo de requerentes de asilo afegãos”, que chegaram em setembro e novembro de 2021.