
A atual situação na Nicarágua vista pelo cartoonista PxMolina. Imagem retirada do Twitter do autor.
“O balanço é assustador”, afirma a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em comunicado enviado às redações esta quarta-feira, 28 de dezembro. “Ao longo dos 12 meses de 2022, houve o assassinato de, pelo menos, 17 sacerdotes e irmãs” e “um total de 42 padres sequestrados em diferentes países”. Houve ainda “pelo menos, 32 casos de pessoas ligadas à igreja e que foram detidas, sob ameaça, ao longo do ano”, revela a AIS.
De acordo com dados recolhidos pelo Departamento de Comunicação da Fundação AIS Internacional, só na Nigéria foram mortos sete sacerdotes. Quatro, no desempenho das suas missões na Igreja, e mais três que acabariam assassinados após terem sido vítimas também de rapto.
Em outros dois países houve também mortes violentas a registar. No México, “três padres foram vítimas dos cartéis da droga que têm o país sequestrado pela crueldade e medo, enquanto na parte oriental da República Democrática do Congo dois sacerdotes foram baleados mortalmente também durante o corrente ano”, denuncia a fundação pontifícia.
África tem sido o palco principal

A irmã Mari de Coppi foi assassinada na missão de Chipene, em Moçambique, em setembro. Foto © Missionários Combonianos.
“O continente africano tem sido palco de muita desta violência contra a Igreja”, sublinha o comunicado. “Foi em África que perderam a vida quatro das cinco religiosas assassinadas em 2022 no desempenho das suas missões. (…) As Irmãs Mary Daniel Abut e Regina Roba estavam no Sudão do Sul, em agosto, quando foram mortas; a Irmã Mari de Coppi foi assassinada na missão de Chipene, em Moçambique, em setembro; e a Irmã Marie-Sylvie Vakatsuraki foi morta em outubro, na República Democrática do Congo.”
Quanto aos casos de rapto, a maioria registou-se na Nigéria. “Até ao momento registaram-se 28 casos ao longo de 2022, sendo que três ocorreram já em dezembro. No entanto, o pior mês foi mesmo julho, com sete situações”. Os Camarões e o Haiti surgem a seguir na lista de países com mais casos de raptos entre religiosos, com seis e cinco casos, respetivamente.
“Também irmãs foram vítimas de situações de sequestro ao longo de 2022. E também aqui a Nigéria surge em destaque, com sete ocorrências, seguindo-se o Burkina Faso, com um caso, tal como nos Camarões. Felizmente, todas foram libertadas”, assinala a AIS.
Rússia e Nicarágua preocupam

Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, está em prisão domiciliária desde 19 de agosto. Foto: Direitos reservados.
Além de assassinatos e sequestros “há ainda, pelo menos, 32 casos de pessoas ligadas à igreja e que foram detidas, sob ameaça, ao longo do ano”, acrescenta o comunicado. “Os casos mais recentes referem-se a quatro sacerdotes da Igreja Católica Grega Ucraniana que se encontravam a trabalhar em regiões ocupadas pela Rússia e que foram detidos no exercício das suas atividades pastorais. Dois foram, entretanto, libertados e ‘deportados’ para território ucraniano, enquanto os outros dois permanecem detidos. Ambos enfrentam acusações de terrorismo e há, por isso, o receio de que possam estar a ser torturados na prisão”, refere o balanço da fundação.
Outro país no centro das preocupações da Fundação AIS é a Nicarágua. Onze membros do clero foram detidos ao longo dos últimos meses em que se registou uma crescente hostilidade por parte das autoridades face à Igreja. Entre os detidos há, pelo menos, dois seminaristas, um diácono, um bispo e sete sacerdotes. Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, que está em prisão domiciliária desde 19 de agosto, deverá comparecer em tribunal no próximo dia 10 de janeiro onde vai enfrentar a acusação de “atentado à integridade nacional” [ver 7MARGENS].
“Também difícil ou mesmo quase impossível de apurar é o número de padres e bispos católicos detidos na China em 2022”, afirma a AIS. De acordo com informações recolhidas pela Fundação AIS Internacional, os clérigos da chamada Igreja Clandestina “são repetidamente detidos pelas autoridades durante algum tempo, como medida de pressão para aderirem antes à Igreja aprovada pelo Estado”. Só entre janeiro e maio deste ano, “pelo menos dez padres desapareceram de contacto e todos eles pertencem à comunidade de Baoding, na província de Hebei”.
A fundação deixa, por isso, um apelo “a todos os países envolvidos para que se empenhem em garantir a segurança e a liberdade dos padres, religiosas e outros agentes pastorais” e pede também “a todos os seus amigos e benfeitores em todo o mundo para que rezem por aqueles que permanecem em cativeiro, bem como pelas comunidades e famílias dos que perderam as suas vidas ao serviço da Igreja ao longo deste ano de 2022”.