
Manuel Braga da Cruz (segundo a contar da esquerda), durante a cerimónia de entrega do Prémio Árvore da Vida, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, esta quarta-feira. Foto: Direitos reservados / SNPC.
O professor, investigador e ex-reitor da Universidade Católica Portuguesa Manuel Braga da Cruz recebeu esta quarta-feira, 8 de março, o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes 2022. Perante a centena e meia de pessoas que encheram a sala da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde decorreu a cerimónia, Braga da Cruz destacou a importância da Fé na descoberta da verdade.
No seu discurso de agradecimento pela atribuição do galardão, Braga da Cruz manifestou que “a decisão de atribuir este prémio a um cientista social vem sublinhar a importância da cultura nas ciências sociais, na vida das sociedades e na análise social”, destacando depois que “a preocupação maior do cientista social é a descoberta da verdade na realidade social e nas suas interpretações, contra o empirismo facial, contra o relativismo subjetivista, contra as leituras ideológicas deturpadoras”.
E é nessa busca da verdade “que ganha importância a fé”, explicou o sociólogo. “A fé constitui uma iluminação prioritária para o cientista social, que inunda com claridade a obscuridade do real obnubilado”. E continuou: “A fé é como o sol que levanta a neblina, uma espécie de ‘luz de nevoeiro’ que permite penetrar no invisível, tornando perceptível o encoberto. A fé é, por isso, um suplemento da razão”.
Citando o Papa Bento XVI, no seu discurso na Universidade de Ratisbona, Manuel Braga da Cruz acrescentou que “a cientificidade da razão fundada apenas na experiência e na verificação empírica, reduz a amplitude do conhecimento” e “o porquê da existência dos factos empíricos ultrapassa a simples razão científica”.

Escolhido pelos jurados do Prémio devido às “altas qualidades” do seu “marcante trajeto intelectual” e do “testemunho convicto de humanismo cristão”, o antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa fez questão de recordar a personalidade que dá nome ao galardão, o padre Manuel Antunes. “Foi dele que recebi o primeiro convite para publicar na Brotéria, convite que me seria redobrado, anos depois, pelos seus sucessores”, recordou. “Sem o saber, o padre Manuel Antunes influenciou a minha vida intelectual e a minha vida académica, o meu percurso de sociólogo. Não fui seu aluno, mas ele foi seguramente meu Mestre. Tornámo-nos amigos, mais tarde”, contou ainda.
Manuel Braga da Cruz concluiu o discurso, partilhando o prémio com a sua mulher, que “foi sempre a primeira leitora” dos seus textos, e deixando-o aos filhos e netos, “para que o guardem e se lembrem que a vida é, de facto, como uma árvore, com raízes que sustêm o tronco, raízes que precisam de se reavivar como fundamento e memória, e com ramos que crescem para além do tronco, que precisam de ser podados, para darem flor e fruto”.
Instituído em 2005, o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes (constituído pela escultura “Árvore da Vida”, de Alberto Carneiro, e 2 500 euros) destaca a excelência de personalidades, percursos e obras que refletem o humanismo e a experiência cristã no mundo contemporâneo, tendo já galardoado o teólogo João Manuel Duque, o poeta Fernando Echevarría, o cientista Luís Archer, o cineasta Manoel de Oliveira, entre outros.