Manuela Silva evocada este sábado em Lisboa, na expectativa de condecoração póstuma pelo PR

Manuela Silva, no doutoramento honoris causa no ISEG, a 21 de Junho de 2013. Foto © António José Paulino
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, poderá atribuir uma condecoração póstuma à economista Manuela Silva, no final da evocação que dela se fará neste sábado, 7 de Março, no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), em Lisboa.
A decisão já estará obviamente tomada, mas Belém não confirma, mantendo-se por isso a expectativa até ao encerramento da iniciativa, que caberá a Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto, fontes que têm acompanhado a preparação da sessão dizem ao 7MARGENS que isso é provável.
Seria, a acontecer, “a expressão do reconhecimento de todos os portugueses pelo seu trabalho ímpar e incansável em prol da justiça, da paz e da solidariedade”, comenta Manuel Brandão Alves, um dos organizadores da sessão que, no entanto, não tem conhecimento de qualquer decisão do Presidente.
Mesmo sem condecoração, a sessão evocativa não deixa de fazer sentido, sublinha Brandão Alves, também economista e professor do ISEG. Trata-se de homenagear uma personalidade de referência, pioneira nos estudos sobre a pobreza em Portugal, economista preocupada com a justiça social e a luta contra as desigualdades e a exclusão, e activa militante católica que se bateu por uma maior participação das mulheres na vida da Igreja e por um maior conhecimento dos cristãos acerca do pensamento social católico.
A sessão, com o título genérico Evocação de Manuela Silva – Um desafio para o futuro, pretende exactamente não ficar pela memória do que fez a dinamizadora da rede Cuidar da Casa Comum, mas ser prospectiva. Entre as 9h30 e as 17h, no auditório CDG do ISEG, serão evocadas desse modo, por um conjunto de intervenientes, as diferentes facetas da mulher, académica, investigadora, cidadã e católica empenhada. E, em tudo isso, colocando as características da “pessoa rigorosa” que era.
“Manuela Silva não foi apenas uma académica intra-muros, apesar de ter sido aluna brilhante, a melhor do seu curso, e a primeira mulher economista, que deveria ter ficado no ISEG a leccionar”, diz Brandão Alves. Só não ficou porque, na época, uma mulher a ensinar na universidade, ainda para mais numa escola maioritariamente masculina, não era muito bem vista…
A economista, nascida em 1932, acabaria, no entanto, por voltar, no início da década de 1970, à escola onde se formara. Mais tarde, foi uma das impulsionadoras do Departamento de Pesquisa Social do Centro de Reflexão Cristã (CRC), no âmbito do qual coordenou, com Alfredo Bruto da Costa, os primeiros estudos sobre o fenómeno da pobreza em Portugal (e que depois daria origem ao Centro de Estudos para a Intervenção Social).
A Fundação Betânia, que procurava promover uma espiritualidade alternativa e, já nos últimos anos, a criação da rede Cuidar da Casa Comum, foram outras das suas iniciativas. No seu último “Escrito do mês”, na página da Fundação, escreveu, pouco antes de morrer, dia 7 de Outubro passado: “A ecologia de que fala a [encíclica do Papa Francisco] Laudato Si’ é, assim, simultaneamente, uma ecologia ambiental mas também económica, cultural, política, bem como uma referência para a ecologia na vida no quotidiano.”
Professora catedrática do ISEG, Manuela Silva já tinha recebido um doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa, em 2013. E a mesma escola pode vir ainda a organizar, depois desta “primeira iniciativa”, uma conferência mais vasta em torno das áreas em que Manuela Silva teve alguma reflexão, acção e contributo.
Na sessão de sábado, serão evocadas as actividades e pensamento de Manuela Silva nos campos da economia e desenvolvimento, ensino e educação e cidadania e empenhamento católico. Com quatro sessões dedicadas a estes temas, várias pessoas testemunharão o que aprenderam com Manuela Silva. Às 15h, antes do encerramento pelo Presidente da República (16h15), uma mesa redonda junta Guilherme de Oliveira Martins, João Cravinho e Viriato Soromenho-Marques, moderados por João Ferreira do Amaral, também professor do ISEG. O programa completo pode ser consultado na página da iniciativa.
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