Manuela Silva: professora “brilhante”, de um “profundo amor à humanidade e à causa pública”
CRC homenageou a sua fundadora e antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Igreja Católica, pioneira nos estudos sobre a pobreza e a desigualdade em Portugal.

Manuela Silva, no doutoramento honoris causa no ISEG, a 21 de Junho de 2013. Foto © António José Paulino (Foto de capa © Maria do Céu Tostão)
O Centro de Reflexão Cristã (CRC) promoveu sábado, 11 de Janeiro, uma homenagem à a sua fundadora Manuela Silva, uma professora “brilhante”, que tinha “um profundo amor à humanidade e à causa pública, à causa dos outros”, como disse Carlos Farinha Rodrigues, economista, professor no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) e perito em questões de desigualdades e pobreza, que foi orientado por Manuela Silva nas teses de mestrado e doutoramento.
“Pioneira em muitas áreas, em Portugal”, como disse ainda Farinha Rodrigues, a economista morreu dia 7 Outubro de 2019. “O que ela nos ensina é que não podemos ficar por palavras: as palavras, os pensamentos” têm de transformar a realidade, disse o actual presidente do CRC, José Leitão, à agência Ecclesia.
Com esta sessão de homenagem, o CRC deu início à celebração dos 45 anos da sua fundação.
José Leitão afirma que a homenageada deve ser “uma inspiração” para a acção do CRC, nas várias causas a que dedicou a sua vida, “sempre motivada pela sua condição de militante cristã” e de “grande pensadora económica”. “Há uma linha comum a todo o pensamento: é uma militante cristã que leva a sério essa condição”, acrescenta José Leitão.
Foi no CRC, recordou, que a antiga presidente criou um Departamento de Pesquisa Social para “os estudos sobre a inclusão social e o combate à pobreza”, com atenção ao trabalho pela igualdade entre homens e mulheres. E, já nos últimos anos da sua vida, criou a Rede Cuidar da Casa Comum, inspirada na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.
Carlos Farinha Rodrigues destaca ainda o legado de “uma vida dedica à sociedade”, uma sociedade mais justa, “onde a pobreza e as desigualdades não façam sentido” daquela que foi também presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica.
“Era essencialmente uma cristã empenhada, que seguia claramente os fundamentos da doutrina social” católica, procurando, como o Papa Francisco, “uma economia ao serviço dos homens e mulheres da sociedade”, acrescenta.
Na sessão, interveio ainda Isabel Allegro de Magalhães, professora catedrática de Literatura Comparada, que conviveu com a homenageada desde 1959, falando de uma vida marcada pela “simplicidade e a alegria nessa frugalidade”.
“O que acho absolutamente marcante na personalidade de Manuela Silva, além da sua competência, da sua preocupação com a pobreza na nossa sociedade e no mundo, é a sua coerência, o facto de as suas escolhas de vida terem sido absolutamente de acordo com aquilo que ela pensava que devia ser o estilo de vida de toda a gente”, disse à Ecclesia.
Isabel Allegro sublinha ainda a acção de Manuela Silva na promoção da “igualdade a todos os níveis, igualdade de oportunidades, igualdade de responsabilidades e de funções, na Igreja”.
O CRC foi criado em 1975 por um conjunto de cristãos “empenhados numa evangelização libertadora e na libertação do povo português”, que procura “prosseguir hoje de forma renovada a sua acção”.
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