Mãos à obra (3) – Sopa Para Todos: Combater a fome e apoiar a restauração

| 25 Mar 2021

“O que me motivou a criar o grupo do Facebook foi a procura de uma solução que respondesse e simplificasse a situação a que tinha assistido nesse dia de manhã.”

 

Nasceu da vontade recente de uma jovem empreendedora e ganhou corpo na espontaneidade das pessoas que foram aderindo ao grupo criado no Facebook. Ana Baião, 27 anos, formada em psicomotricidade e trabalhando sobretudo com uma população infanto-juvenil, e empreendedora, é também responsável por um projeto de promoção da criatividade e da sustentabilidade que organiza oficinas infantis sobre a temática. Faz ainda parte de um grupo no Facebook de mulheres empreendedoras, as “Mulheres à Obra”, que tem por objetivo incentivar a troca de ideias e opiniões sobre empreendedorismo, estabelecimento de parcerias, troca de contactos e de informações úteis à comunidade empreendedora.

Dia 2 de fevereiro, na zona de Benfica (Lisboa) Ana viu um senhor a pedir uma sopa para comer. Após várias recusas, uma senhora acabou por lhe pagar uma sopa num café que estava mesmo ali ao lado. “O que me motivou a criar o grupo do Facebook foi a procura de uma solução que respondesse e simplificasse a situação a que tinha assistido nesse dia de manhã. Como não encontrei uma aplicação ou um projeto a nível nacional que respondesse ao que tinha imaginado, acabei por sentir necessidade de o criar, dando assim apoio a quem mais precisa de bens alimentares e, ao mesmo tempo, ajudando a restauração, conta ela ao 7MARGENS.

Escreveu então no grupo “Mulheres à Obra”. A partir daí surgiu um número significativo de pessoas interessadas em aderir a um movimento deste tipo. Houve quem logo indicasse alguns restaurantes que já estavam a dar sopas, embora em moldes diferentes. Nessa mesma noite, Ana criou o grupo “Sopa para Todos”.  “Acredito e defendo desde sempre que se as pessoas se unirem conseguem chegar mais longe e produzir resultados incríveis. De todas as parcerias que tenho feito em projetos em que estou envolvida, bem como na minha vida pessoal, é isso que tenho sentido: quando nos unimos conseguimos chegar muito mais longe.”

Neste momento, a equipa compõe-se de oito voluntários: Ana Baião, Andreia Antunes, Marta Santos, Helena Vilarinho, Bárbara Nobre, Ricardo Rodrigues, Susana da Palma e Rute Lemos. “Aos poucos fomos formando a equipa. Cada um tem o seu trabalho, projetos e família, mas fazemos por conjugar da melhor forma o nosso tempo para responder da forma mais eficaz possível a este movimento. Somos pessoas comuns. Nenhum de nós é proprietário de um estabelecimento da restauração e temos todos valências e áreas de trabalho distintas, mas todos temos um foco comum: ajudar a reerguer a restauração ao mesmo tempo que ajudamos a combater a fome em Portugal.”

O nome do Grupo foi inspirado e retirado do quadro de ardósia do Café Paris, em Viana de Castelo, gerido pelo Sr. Vítor e que já estava a distribuir sopas aos mais necessitados.  “A escolha do nome merece um enorme agradecimento ao Sr. Vítor responsável do Café Paris em Viana de Castelo, com o qual tive oportunidade de falar. O Sr. Vítor é uma pessoa com um coração enorme que está a fazer um trabalho fantástico e que já distribuía sopas na sua zona. Foi no seu quadro de ardósia que me inspirei para dar nome a este movimento nacional que aqui temos hoje!!”

A ideia foi que cada pessoa pudesse, nos estabelecimentos aderentes, pagar uma sopa para que quem precise a possa levantar. O movimento de ajuda nacional ficou acessível a um grande leque de pessoas. “É uma forma de ajuda mútua, para apoiar a restauração ao mesmo tempo que ajuda a reduzir a fome em Portugal, diz Helena Vilarinho.

O processo é tão simples como a ideia: de gestão descentralizada, tendo como grande força a confiança nos estabelecimentos aderentes, na sua consciência social, na sua responsabilidade e no conhecimento que têm das necessidades locais.

Ana conta: “São os estabelecimentos aderentes que fazem a entrega das sopas conforme os pedidos de ajuda que lhes chegam. Essa gestão e seleção será feita pelo bom senso e pelo conhecimento das necessidades da comunidade local, bem como pelas redes de suporte desses estabelecimentos. Não existem garantias nesse sentido, nem se pretende que seja feita uma fiscalização de forma certificada ou com comprovativos.”

O grupo não se responsabiliza, por isso, por qualquer levantamento indevido de sopas. “Pretendemos chegar a todas as pessoas que precisem de ajuda, principalmente aos que entraram em situações mais precárias e que ainda têm muita vergonha em pedir ajuda.” Para quebrar essas barreiras, cafés ou restaurantes que aderem precisam da ajuda da comunidade para sinalizar com a devida privacidade e discrição estas situações para que seja ajudado realmente quem precisa.

“Uma coisa que podemos garantir e dar certezas é que já estamos a chegar a famílias que estavam realmente a precisar. Saber que estamos a fazer a diferença nesse sentido já faz tudo valer a pena. Vamos focar-nos na verdade de quem mais precisa e nas conquistas feitas neste sentido”, acrescenta.

Sopa para Todos: o cartaz oficial da iniciativa.

Todos os restaurantes podem participar. Para que sejam considerados estabelecimentos oficialmente aderentes devem estar presentes no mapa que é atualizado quando necessário e estar devidamente identificados com o cartaz ou o logótipo oficial do movimento “Sopa Para Todos “em local visível nos seus espaços físicos e/ou nas suas redes sociais.

Neste momento são mais de 120 os que já aderiram, distribuídos por 13 distritos, 47 concelhos e 71 cidades de norte a sul do país. Em apenas 47 dias, o movimento atingiu o número de 14 mil sopas pagas, mais de 15 mil entregues e mais de mil famílias apoiadas.

Há ainda muitas zonas que carecem de um maior apoio e da adesão de novos estabelecimentos. Quanto ao número de sopas diariamente distribuídas, Ana Baião esclarece que o levantamento estatístico é semanal, mas nos primeiros 18 dias houve mais de seis mil sopas pagas e mais de cinco mil sopas. Mas estes números não refletem a totalidade do trabalho realizado, apenas os que são partilhados pelos estabelecimentos aderentes.

Na semana de 8 de março a 14 de março, houve uma quebra nas sopas pagas (1484) em relação ao número de sopas entregues (2928).

Por isso, o grupo apela a que quem possa ajudar dê apoio aos estabelecimentos mais próximos de si ou aos que mais precisem de suporte para ajudar as famílias que os procuram.

Para os estabelecimentos aderirem basta enviarem um e-mail para geral@sopaparatodos.pt  com indicação no assunto “Estabelecimento Aderente“, sendo a utilização do cartaz ou do logótipo que disponibilizamos de utilização opcional.

Para quem pretende ajudar os mais necessitados da sua comunidade, do seu bairro, basta consultar o mapa e ver qual o estabelecimento aderente mais próximo, deixando aí uma sopa paga. Se na zona não existirem estabelecimentos aderentes, os interessados podem ousar desafiá-los a aderirem.

“O objetivo do Movimento consiste em contagiar mais e mais pessoas a fazerem este tipo de ações que ajudam o mercado local, ao mesmo tempo que ajudam a combater a fome das famílias que mais perto de nós vivem”, diz Ana Baião. “Tem que haver soluções para reduzir o impacto que esta crise está a ter nas pessoas. Juntos vamos encontrar.

 

José Centeio 

 

O 7MARGENS agradece a disponibilidade e colaboração de Helena Vilarinho e Ana Baião.

 

Amnistia pede a líderes africanos na COP28 que se unam em defesa dos direitos humanos

Alertando para "erros" do passado

Amnistia pede a líderes africanos na COP28 que se unam em defesa dos direitos humanos novidade

Os líderes africanos que vão participar na cimeira sobre o clima das Nações Unidas, COP28, “devem evitar os erros cometidos durante a Cimeira Africana do Clima”, que decorreu no passado mês de setembro, e na qual adotaram a Declaração de Nairobi sobre as Alterações Climáticas e Apelo à Ação. Porque esta, “em muitos aspetos, não deu prioridade efetiva aos direitos humanos e à justiça climática para o continente”, alertou a Amnistia Internacional.

Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023

Iniciativa da Assembleia da República

Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023 novidade

Duas organizações que têm trabalhado na área da proteção das crianças foram as escolhidas pela Assembleia da República para receber o Prémio Direitos Humanos 2023: a P.A.J.E. – Plataforma de Apoio a Jovens ex-Acolhidos e o ProChild – Laboratório Colaborativo. Será ainda atribuída a Medalha de Ouro Comemorativa do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos membros da extinta Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, adianta um comunicado divulgado pelo Parlamento.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

“Em cada oportunidade, estás tu”

Ajuda em Ação lança campanha para promover projetos de educação e emprego

“Em cada oportunidade, estás tu” é o mote da nova campanha de Natal da fundação Ajuda em Ação, que apela a que todos os portugueses ofereçam “de presente” uma oportunidade a quem, devido ao seu contexto de vulnerabilidade social, nunca a alcançou. Os donativos recebidos revertem para apoiar os programas de educação, empregabilidade jovem e empreendedorismo feminino da organização.

A freira que quer mobilizar 100 mil religiosas na luta contra o tráfico humano

Irmã Seli Thomas

A freira que quer mobilizar 100 mil religiosas na luta contra o tráfico humano novidade

“Mais de 100 mil religiosas estão na Índia. (…) Se todas trabalhássemos juntas no combate ao tráfico através do nosso próprio ministério, poderíamos salvar muitas vidas”. O apelo foi lançado pela irmã Seli Thomas (religiosa indiana das Irmãs Catequistas de Maria Imaculada Auxiliadora), durante o encontro da AMRAT – Talitha Kum, aliança internacional de religiosas contra o tráfico, que decorreu no passado fim de semana na Índia.

Igreja: não nos serve uma simples administração

Igreja: não nos serve uma simples administração novidade

Falemos claro, sem personalizar ou localizar, mas pelo que acontece, quase sempre e em toda a parte, nos mesmos cargos, e nas mesmas circunstâncias. Intervenhamos numa atitude conventual, numa expressão que hoje praticamente não se usa e nem sei se se pratica, a chamada “correcção fraterna”. Quero referir-me aos últimos acontecimentos, particularmente, na Igreja; novos Bispos sagrados e novos cardeais purpurados ou investidos e também novas colocações de Párocos. (Serafim Falcão)

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This