mas as crianças, Senhor…

| 26 Dez 2020

Foto: Direitos reservados

 

O meu sogro contava que quando era pequenino e havia alarme aéreo na sua cidade, a família e os vizinhos corriam para a cave do prédio, e ali passavam boa parte das noites encostados uns aos outros a ouvir o ruído das bombas a cair e a explodir à sua volta. “A minha mãe dizia em tom decidido: a nós não vai acontecer nada!” – contava ele, com um sorriso – “e eu acreditava piamente, porque era a minha mãe, e o modo como o dizia não deixava margem para dúvidas.”

Uma quase contemporânea dele, também na Alemanha, aprendeu aos cinco anos que se estivesse a caminhar em espaços abertos e ouvisse aviões no ar tinha de largar tudo, atirar-se para o chão, e ficar imóvel à espera que passassem.

Já no Porto, em finais do século passado, reparei que a filha de uns amigos às vezes demorava muito tempo a ir comprar o pão, porque tinha de escolher os caminhos em função dos “moedinhas” que estivessem de serviço. Alguns gostavam de a assediar. A miúda ainda andava na escola primária, e falava disto a rir, muito orgulhosa de si própria por se saber defender tão bem.

Vem tudo isto a propósito de um artigo de opinião que li recentemente sobre a resiliência das crianças, que são capazes de conviver perfeitamente com as máscaras e outras dificuldades deste tempo, se – sublinho: se – os adultos souberem ocupar o seu lugar de adultos para lhes transmitir sem drama o que está em causa. Infelizmente, há muitos adultos que preferem usar as crianças como suporte para a sua própria ansiedade, aumentando o sofrimento destas em vez de as proteger, para depois virem apregoar no espaço público que as crianças estão a sofrer. É possível reagir de outra forma às dificuldades que a pandemia traz à vida dos nossos filhos. Há um exemplo muito interessante neste podcast (a partir de 1:14:00) – a resposta de uma turma da escola primária ao facto de um dos colegas estar obrigado a usar permanentemente máscara, por ser de altíssimo risco. Aqueles quatro minutos da entrevista são um sinal do melhor Portugal de que somos capazes.

Outro exemplo vem da costureira de que falei neste texto de há dias. Em plena primeira vaga da crise da covid, ela começou a fazer roupinhas para as bonecas das crianças da família. Conjuntos completos: vestido, cuecas, e máscara. Meio caminho andado para os miúdos começarem a aceitar o uso da máscara. O que é uma outra maneira de, no meio da incerteza e das dificuldades, dar alguma segurança às crianças: “a nós não vai acontecer nada!”

Foto: Direitos reservados

 

Helena Araújo é autora do blogue Dois Dedos de Conversaonde este texto foi inicialmente publicado.

 

 

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