Livro de Ernst Jünger reeditado

Memórias da Grande Guerra: Cem Anos de Actualidade

| 17 Jul 2023

Feridos canadianos e alemães ajudam-se mutuamente a atravessar a lama durante a tomada de Passchendaele, em novembro de 1917. Foto da Biblioteca e Arquivos do Canadá/ PA-003737 (modificada a partir do original). Colorizada pela Fundação Vimy e pela Canadian Colour of Canada.

 

Nas trincheiras da Grande Guerra 1914-18, um soldado podia ser morto por uma bala, uma baioneta ou um estilhaço de granada. Também podia sufocar se não tivesse tempo de pôr a máscara antigás, ou ser desfeito pelo rebentamento e onda de choque de um projétil de artilharia.

No intervalo dos ataques, tinha de suportar as noites ao frio e à chuva, dormir o que pudesse nos túneis de abrigo até ser chamado para render outro que voltava da terra-de-ninguém, e sempre num estado de prontidão em que cada homem pudesse estar no seu posto de atirador poucos segundos depois de um alarme. Tinha de contar com a presença constante das ratazanas, “profanadoras de cadáveres”, que vinham procurar as latas de conserva da ração de combate.

E tinha de aguentar o estrondo ensurdecedor do fogo de barragem que antecede cada grande vaga de assalto de infantaria. Dias seguidos, sem parar, com o céu coberto de granadas de todos os calibres, e aprendendo a distinguir pelo som do assobio a gravidade e o destino das que nos podem atingir.

Ernst Jünger, então um jovem oficial alemão que mantinha um diário de bolso e combateu na Flandres e no norte de França, descreve esse ambiente como “tempestade de fogo” e, falando da última batalha em que participou e onde quase morreu, em Julho de 1918, como “tempestades de aço” – a expressão exacta que escolheu para título deste seu livro.

Neste clássico da literatura de guerra escrita por quem lá esteve, publicado em 1920, Ernst Jünger conta como era a vida quotidiana do soldado de infantaria neste novo campo de batalha, a lógica da construção de trincheiras em linhas sinuosas, a necessidade de as manter sólidas e de conhecer os seus pontos vulneráveis. Ele foi alferes e, depois de promovido a tenente, comandou companhias de mais de cem homens, que em alguns combates foram severamente dizimadas.

Esteve nos sítios piores: participou na batalha do rio Somme, que durou vários meses entre o verão e o outono de 1916 e causou mais de um milhão de baixas, entre mortos e estropiados; e na de Passchendaele, onde o solo lamacento, ensopado por chuvas torrenciais, engolia tudo – homens, cavalos e material de guerra.

Nessa última batalha de onde foi retirado para um hospital militar, a própria artilharia alemã fustigava amigos e inimigos. Havia uma contra-ofensiva dos dois lados, e ingleses e alemães encontravam-se frente a frente na mesma trincheira, lutando com pistolas e granadas de mão ou rendendo-se. Como conta Ernst Jünger: “A única circunstância a meu favor era talvez a confusão que ali reinava; enquanto alguns homens já trocavam cigarros, outros continuavam a matar-se uns aos outros.”

Foi há cem anos. Pleno de atualidade.

 

Ernst Jünger, Tempestades de Aço
Guerra e Paz, 2023

 

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