ONU aquém das metas

Mil e duzentos milhões de pessoas vivem ainda na pobreza

| 22 Set 2023

assembleia geral da ONU, 18 e 19 setembro 2023, Foto UN PhotoManuel Elias

Os dados revelados esta semana pelo presidente da Assembleia Geral da ONU estão bastante aquém das metas definidas nos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). Foto © UN Photo / Manuel Elias.

 

Eleva-se a 1,2 mil milhões o número de pessoas que ainda viviam na pobreza em 2022, e calcula-se em 680 milhões, ou seja, cerca de 8 por cento da população mundial, aquelas que ainda enfrentarão a fome até ao final da década. Isto apesar dos compromissos assumidos pela ONU, em 2015, de combater a pobreza e a fome no mundo, e apostar decididamente no desenvolvimento sustentável.

Os dados, revelados esta semana pelo presidente da Assembleia Geral da ONU, estão bastante aquém das metas definidas nos assim chamados Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados na mesma altura. Mas fatores como a pandemia de covid-19, a crise climática e, mais recentemente, a guerra desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, entre outros fatores, vieram atrasar significativamente as metas definidas.

Foi para acelerar a ação dos Estados-membros que esta semana decorreu em Nova Iorque uma cimeira, no decurso da qual os líderes mundiais adotaram uma declaração política na qual se comprometem a atuar “com urgência” para concretizar a Agenda 2030, assumindo-a como “um plano de ação para as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria, sem deixar ninguém para trás”. “Esforçar-nos-emos por chegar primeiro aos que estão mais atrasados”, sublinharam, no documento.

O secretário-geral da organização, António Guterres, interveio na abertura da cimeira para acentuar a gravidade do problema. A seu ver, trata-se agora de “resgatar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, os quais “descarrilaram a meio do caminho”. Cada um dos 17 objetivos contém metas, 169 no total, mas, segundo Guterres, atualmente apenas 15 por cento estão a andar bem, enquanto muitas estão a andar para trás.

Acresce, alertou o secretário-geral, que os ODS “não são apenas uma lista de objetivos. Eles carregam as esperanças, os sonhos, os direitos e as expetativas das pessoas em todos os lugares”. Exprimiu, por isso, a expetativa de que a vontade das partes e as verbas consignadas à declaração política aprovada possam contribuir para inverter o caminho que tem vindo a ser percorrido.

O chefe da ONU destacou que a ação mais urgente deve começar pela área crítica da luta contra a fome, que disse ser “uma mancha chocante na humanidade e uma violação épica dos direitos humanos”.

“É uma acusação para cada um de nós que milhões de pessoas estejam a passar fome nos dias de hoje”, acrescentou.

O secretário-geral apontou a transição para as energias renováveis, que “​​não está a acontecer com a rapidez suficiente” como outra área crítica, tal como a aposta nos benefícios e oportunidades da digitalização.

Santa Sé: “Basta de palavras”

 

arcebispo Richard Gallagher na assembleia geral da ONU, 18 e 19 setembro 2023, Foto Vatican Media

O arcebispo Richard Gallagher afirmou que é fundamental ir além de “declarações abstratas que apenas apaziguam as nossas consciências. Foto © Vatican Media.

 

António Guterres apontou ainda a educação de qualidade, o trabalho digno e a proteção social como outras tantas áreas em que urge agir com celeridade. Por último, apelou ao fim da guerra contra a natureza e da “tripla crise planetária” caracterizada pelas alterações climáticas, a poluição e perda de biodiversidade.

Intervindo nesta cimeira, o secretário da Santa Sé para as relações com os estados e as organizações internacionais, o arcebispo Richard Gallagher, afirmou que é fundamental ir além de “declarações abstratas que apenas apaziguam as nossas consciências” para passar à intensificação de esforços que “coloquem o mundo num caminho sustentável.”

As “medidas voltadas para o futuro”, que preconizou, devem contar com financiamento e investimento adequados, bem como meios de implementação de medidas concretas para enfrentar “os grandes desafios do nosso tempo, em particular a guerra e os conflitos, a pobreza e a fome, a violência, a exclusão social, as alterações climáticas e a degradação ambiental”, em nome do qual “as pessoas deixam de ser consideradas um valor primário a ser cuidado e respeitado, especialmente se são pobres ou deficientes”, e são descartadas como “ainda não úteis”, como os nascituros, ou “já não necessárias, como os idosos”.

Isso passa por aplicar ”um novo modelo de desenvolvimento que tenha a pessoa humana no centro, seja orientado para o bem comum e se baseie em princípios éticos de justiça, solidariedade e responsabilidade”, acrescentou o arcebispo.

A verdade é que o que se passou em Nova Iorque revelou que, apesar das boas vontades que convergiram na Declaração sobre a aceleração no cumprimento dos ODS, multiplicam-se os sinais de que as prioridades de vários países importantes, incluindo membros do Conselho de Segurança da ONU, estão concentradas noutras frentes e alguns, ainda que por palavras afirmem a sintonia com o desenvolvimento sustentável global, na prática tomam medidas (orçamentais, energéticas e outras) que contradizem o que é apregoado.

 

Atos que contradizem as palavras

No caso da Alemanha, o chanceler Olaf Scholz alertava, durante o seu discurso, que “o tempo está a esgotar-se” e que os ODS “devem ser mantidos no topo da agenda internacional”.  Mas muitos veem este país como responsável pela falta de progressos.  A organização católica de ajuda Misereor, citada pela Deutsche Welle, salienta que “não é um sinal encorajador” o facto de o próximo orçamento federal reduzir em 15 por cento o orçamento da ajuda ao desenvolvimento, ao mesmo tempo que a organização protestante Brot für die Welt (Pão para o Mundo) também criticou os planos alemães de redução do orçamento da ajuda ao desenvolvimento.

No Reino Unido também originaram reações vivas as medidas anunciadas na última quarta feira, dia 20, pelo primeiro ministro Rishi Sunak, interpretadas como um recuo quanto ao desenvolvimento sustentável e, em particular, no setor das energias. “Não compreendo por que razão o nosso Primeiro-Ministro não tem consciência das decisões egoístas de curto prazo que ajudam a destruir o futuro dos nossos filhos”, escreveu ele nas redes sociais.

 

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