
Militares pedem capelães presentes no quotidiano, não apenas em missões. Imagem de arquivo de exercícios das Forças Armadas Portuguesas no Campo Militar de Santa Margarida, Constância, em 2015. Foto © Allied Joint Force Command Brunssum, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons.
Os militares e membros na Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança criticam a “prepotência, indiferença e hierarquização da Igreja” e defendem que os capelães deviam ter um trabalho mais “quotidiano” e não apenas nas “missões de serviço”.
Segundo um documento de reflexão produzido pelos militares e membros das forças de seguranças para o Sínodo 2021-23, convocado pelo Papa Francisco, “a capelania tem de ser mais um lugar de partilha não só nas dificuldades, mas também em encontros de partilha de alegrias e sucessos”. E acrescenta o texto, divulgado pela agência Ecclesia: a capelania é o local “onde o capelão tem de ter uma presença constante, próxima e amiga, sem o qual não é possível gerar comunidade de comunhão, participação na missão que a todos lhe é atribuída aquando da sua nomeação. As suas intervenções devem ser simples, acessíveis e traduzir uma proximidade”.
O resultado do inquérito realizado pela equipa sinodal do Ordinariato Castrense, que recolheu 958 respostas, fala também na importância de “acolher todos, independentemente de quem seja, todos devem sentir-se acolhidos, como numa família sem olhar à sua condição”.
“O capelão deve ter um horário para atendimento de acordo com as necessidades das pessoas que serve. Devem ainda estar dedicado ao conhecimento das pessoas, acompanhamento das suas famílias, gerando um dinamismo espiritual certo e constante”, solicitam, sublinhando ainda a importância da realização de “ações de formação, atividades de voluntariado e outros eventos que sejam importantes para criar um espírito solidário”.
A Equipa Sinodal da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança lançou um inquérito, em fevereiro, para ser respondido por todos os militares, com vista a uma reflexão alargada sobre o Sínodo 2021-2023, sobre o tema ‘Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, cujos resultados manifestaram a necessidade de “rejuvenescer o grupo de participantes nas atividades da capelania”.
Os militares desejam fazer do espaço da capelania, um local de “maior acolhimento”, “sem excluir ninguém”, em especial entre os mais novos e dinamizar “encontros de famílias”.
“Para uma Igreja mais acolhedora, (os militares querem), criar um espaço de espiritualidade através de uma maior dedicação à solidariedade; encontrar e dinamizar os encontros de famílias onde se promova o convívio, atrair às nossas celebrações os militares para descobrirem a fé, valorizando a lugar religioso através das celebrações, criar e incentivar a participação dos mais jovens no serviço de Igreja.”
O documento sublinha que os crentes são chamados a ser “faróis de esperança e não profetas da desgraça”, devendo, por isso, “encorajar a criar um processo local que inspire as pessoas, sem excluir ninguém”.
As conclusões apresentadas dão conta de um reconhecimento de uma “desilusão implícita” sobre o “papel da Igreja hoje na sociedade”, também de “escândalos” que “proporcionam esta desilusão” e registam uma “apatia” entre a comunidade militar, um grande número de “não praticantes” sem participação nos sacramentos.
“Vemos que grande número de pessoas que respondeu são na grande maioria cristãos, mas que metade das pessoas que respondem dizem não ser praticantes”, pode ler-se no documento.
Os militares reconhecem a existência de “canais onde as pessoas na capelania se possam expressar sobre a Igreja e de se sentirem acolhidas”, mas recomendam “um maior esforço no acolhimento das pessoas especialmente os que vivem com problemas”.