Milton Ribeiro, política de armas e a ética cristã

| 14 Mai 2022

Criança com arma na mão. Foto © Michal Jarmoluk/Pixabay https://pixabay.com/images/id-424772/

Criança com arma na mão: há quem defenda o uso de armas invocando argumentos bíblicos. Foto © Michal Jarmoluk/Pixabay

O pastor presbiteriano e ex-ministro da Educação do Brasil, Milton Ribeiro, esteve de volta à cena pública em uma situação lamentável. No dia 25 de abril, uma arma de fogo de Ribeiro disparou, acidentalmente, no Aeroporto de Brasília, de onde ele embarcaria para São Paulo. Logo após o episódio, Ribeiro prestou esclarecimentos para a Polícia Federal e, em uma das suas falas, afirmou que se sentiu constrangido em expor sua arma no balcão da companhia aérea, decidindo separar a arma do carregador dentro de sua pasta de documentos, ocasião em que ocorreu o disparo e cujos estilhaços feriram um dos atendentes que estava próximo.

Milton Ribeiro obteve porte de arma de fogo cinco meses após sua posse no Ministério da Educação em um prazo de duas semanas, quando o tempo estimado para deferimento de pedidos dessa natureza é de 30 a 60 dias. Nesse sentido, Ribeiro não apenas foi favorecido em condição de cidadão pelo decreto assinado por Bolsonaro em 2019, flexibilizando a legislação sobre armas, mas também pelo cargo que ocupava no governo; esta é mais uma situação que dilacera a conduta ética que todos esperavam de um pastor e, sobretudo, daquele que havia assumido o papel de encabeçar a política educacional do país com seriedade e transparência.

Dos esclarecimentos prestados por Milton Ribeiro à Polícia Federal, chama atenção o motivo que o levou à duvidosa decisão de separar a arma do carregador em sua pasta, violando, inclusive, os protocolos da Agência Nacional de Aviação Civil para situações como essa. Ribeiro se sentiu constrangido, envergonhado de expor sua pistola Glock, calibre 9mm a outras pessoas, mesmo estando “em conformidade com a lei”; talvez porque, intimamente, ele saiba que aderir a uma política de armas contradiz teológica e empiricamente a ética cristã. Muitos pastores do seu círculo defendem o armamento; Yago Martins, por exemplo, pastor batista e adepto da teologia calvinista presente em igrejas presbiterianas, posta frequentemente em sua conta no Twitter argumentos armamentistas que, em sua interpretação, estão ancorados em ensinamentos bíblicos. Dias antes do disparo acidental de Ribeiro, Yago Martins escreveu em seu Twitter:

Yago Martins

Nesse sentido, o pastor batista relega para o tempo vindouro uma cultura de paz, revela seu descrédito nas instituições de segurança pública e, com uma construção retórica, tenta dissuadir-nos do objetivo central de uma arma de fogo: matar, e não defender. Para além disso, desconsidera a realidade empírica, onde reações desproporcionais e inesperadas acontecem, onde pessoas, como Ribeiro, disparam suas armas acidentalmente, oferecendo mais riscos aos cidadãos do que proteção. Também é problemática e impraticável a ideia dos cidadãos usufruírem de “igual condição de força” em um país em que 28 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Existem ainda muitas outras contradições, mas para um cristão deveria ser suficiente uma ética do amor e a sepultura da conhecida lei de talião: “olho por olho e dente por dente”.

 

Maria Angélica Martins é socióloga e mestra em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. Pesquisa a relação entre fenómeno religioso e política com ênfase para o protestantismo histórico e o neocalvinismo holandês.

 

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