
O Papa na missa de encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia. A proposta dos bispos mexicanos é agora valorizar os povos indígenas, assumindo-os como “sujeitos desta Igreja”. Foto © Shutterstock/Ponto SJ.
Os bispos mexicanos terão deixado, por estes dias, no Vaticano, uma proposta que prevê a inclusão na liturgia de elementos da cultura indígena, como danças, música e uso do incenso. Um maior protagonismo litúrgico das mulheres está também previsto.
A proposta foi anunciada já há algum tempo e trabalhada pelo episcopado do México, que a aprovou na sua assembleia ordinária, no mês passado. A intenção era entregá-la pessoalmente ao Papa, aquando da visita “ad limina”, que os bispos do México têm estado a fazer, desde a última semana de abril.
Os trabalhos foram coordenados pelo bispo emérito de San Cristóbal de las Casas e a proposta estava inicialmente pensada para ser aplicada nesta diocese, de cujos 2,2 milhões de habitantes 70 a 75 por cento são membros de comunidades indígenas. No decurso dos trabalhos preparatórios, porém, vários outros bispos entenderam haver razões para adotar as inovações.
Em declarações à revista Vida Nueva, um ex-bispo de San Cristóbal de las Casas esclareceu que não se trata de mudar o rito romano da missa e menos ainda de “inventar um novo rito indígena”. Trata-se antes de “adaptações” traduzidas em “três elementos: o serviço de guia de oração do ‘principal’; o ofício de incensário, principalmente das mulheres; e as danças de ação de graças como forma de oração”.
A preocupação foi a de valorizar os povos indígenas, assumindo-os como “sujeitos desta Igreja”, e não “objeto de uma evangelização que vem de fora”.
A diocese de San Cristóbal tem sido foco de um importante trabalho de preparação destas adaptações litúrgicas. Um empreendimento de fundo, segundo noticiava recentemente o site Religion Digital, considerado localmente “um salto importante”, foi a tradução da Bíblia para quatro línguas indígenas do país: tzeltal, tzotzil, chol e tojolabal. Por outro lado, no final de fevereiro deste ano, organizou um encontro de padres e catequistas indígenas, na qual participou também o bispo Aurelio García Macías, que é subsecretário do dicastério vaticano para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, um facto que certamente irá facilitar a aprovação das inovações em Roma.