
Na casa de repouso onde viveu os últimos anos, já cega e numa cadeira de rodas, os seus dias eram marcados pelas orações, visitas de residentes e trabalhadores de cuidados paliativos. Recebia inúmeras cartas, e quase todas foram respondidas. Foto reproduzida a partir da Wikipedia.
A freira francesa Lucile Randon, conhecida como irmã Andre, que desde abril de 2022 era a decana da humanidade, morreu na madrugada desta terça-feira, 17 de janeiro, na casa de repouso onde residia, em Toulon, França.
Lucile nasceu a 11 de fevereiro de 1904, em Alès (sul de França), no seio de uma família protestante não praticante. Tinha dois irmãos mais velhos e costumava dizer que uma das suas melhores memórias era a de quando ambos regressaram a casa no final da Primeira Guerra Mundial. “Era raro, nas famílias. Geralmente, havia dois mortos em vez de dois vivos. Ambos voltaram”, contou em entrevista à AFP, quando fez 116 anos.
Trabalhou como governanta em Paris – um período que dizia ter sido “o mais feliz de sua vida” – cuidando dos filhos de famílias ricas. Converteu-se ao catolicismo e foi batizada aos 26 anos. Impulsionada pelo desejo de “ir mais longe”, decidiu integrar a congregação das Filhas da Caridade quando tinha 41 anos.
A irmã Andre foi então enviada para um hospital em Vichy, onde trabalhou durante 31 anos. Depois de se ter reformado, continuou a cuidar de outros idosos, mais novos e com menos saúde do que ela. “Dizem que o trabalho mata, mas é o trabalho que me faz viver, pois trabalhei até aos 108 anos”, afirmou na entrevista, citada pela cadeia televisiva France 24.
Na casa de repouso onde viveu os últimos anos, já cega e numa cadeira de rodas, os seus dias eram marcados pelas orações, visitas de residentes e trabalhadores de cuidados paliativos. Recebia inúmeras cartas, e quase todas foram respondidas.
“As pessoas deveriam ajudar-se e amar-se umas às outras em vez de se odiarem. Se partilhássemos isso, as coisas seriam muito melhores”, disse ela aos jornalistas.
Na madrugada de terça-feira, morreu enquanto dormia, segundo informou o porta-voz da casa de repouso, David Tavella. “Há uma grande tristeza, mas… era o desejo dela juntar-se ao seu amado irmão. Para ela, é uma libertação”, afirmou à AFP.
A irmã Andre foi por muito tempo celebrada como a pessoa mais velha da Europa. Desde a morte do japonês Kane Tanaka, com 119 anos, no ano passado, tinha passado a ser a pessoa mais velha do mundo. O título passou agora para María Branyas Morera, uma norte-americana a residir em Espanha, de 115 anos.