1927-2022

Morreu Bento XVI, o papa “ortodoxo” que abdicou do ministério

| 31 Dez 2022

Já papa emérito, Bento XVI fotografado no jardim do Vaticano © Fondazione Vaticana Joseph Ratzinger-Benedetto XVI

Já papa emérito, Bento XVI fotografado no jardim do Vaticano © Fondazione Vaticana Joseph Ratzinger-Benedetto XVI

 

A notícia chegou no último dia do ano. O Vaticano, pelo seu porta-voz, Matteo Bruni, anunciou a morte do Papa emérito Bento XVI, 95 anos. “Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34 [8h34, hora de Lisboa], no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações”, referia a nota enviada aos jornalistas.

As novas informações foram entretanto reveladas: o velório de Bento XVI terá lugar a partir de segunda-feira, 2 de janeiro, na Basílica de São Pedro. O corpo de Ratzinger estará na basílica “para a saudação dos fiéis”. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

O estado de saúde do Papa emérito tinha agravado-se nos últimos dias. Na quarta-feira, o Papa Francisco tinha pedido orações pelo seu antecessor, referindo que este se encontrava “muito doente”.

Bento XVI, eleito em abril de 2005 para suceder a João Paulo II, tinha renunciado ao pontificado em fevereiro de 2013, mantendo uma vida reservada no Mosteiro Mater Eclesiae, do Vaticano, sem aparecer em público desde a viagem à Alemanha, para visitar o seu irmão mais velho, monsenhor Georg Ratzinger, em junho de 2020 – o padre viria a morrer a 1 de julho.

Joseph Aloisius Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, um Sábado Santo, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria. Nos últimos meses da II Guerra Mundial (1939-1945), foi arrolado nos serviços auxiliares antiaéreos pelo regime nazi.

Juntamente com o seu irmão Georg, foi ordenado padre a 29 de junho de 1951; dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como “perito”, após ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Frisinga; a 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal “Colaborador da verdade”. O mesmo Paulo VI criou-o cardeal, no consistório de 27 de junho de 1977.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado a 25 e 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guaiaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro; mo mês de outubro desse mesmo ano, participou em novo Conclave, que elegeu João Paulo IIdepois da morte súbita de Albino Luciani.

O Papa polaco nomeou o cardeal Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981.

No dia 19 de abril de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II; a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciaria a renúncia ao pontificado, com efeitos a partir do dia 28 do mesmo mês, uma decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja Católica.

“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino.”

Bento XVI realizou 24 viagens ao estrangeiro, incluindo uma visita a Portugal, entre 11 e 14 de maio de 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.

No total, as visitas apostólicas tiveram como destino prioritário a Europa (16), seguindo-se a América (3), o Médio Oriente (2), a África (2) e a Oceânia (1); a estas somam-se 30 deslocações em solo italiano.

O Papa, que agora morreu, assinou três encíclicas e presidiu a três Jornadas Mundiais da Juventude (Colónia, Sidney e Madrid), para além de ter convocado cinco Sínodos dos Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé.

As encíclicas de Ratzinger

papa bento XVI jmj madrid foto vatican news

O Papa Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude em Madrid, em 2011. Foto © Vatican News.

 

As encíclicas, textos mais importantes do pontificado, começaram a ser publicadas em 2006, com a Deus caritas est (Deus é amor), um texto breve que apresenta uma “fórmula sintética da existência cristã”: “Deus é amor e os cristãos acreditam nesse amor, fazendo dele a “opção fundamental” da sua vida. O texto é estruturado em duas partes: a primeira, mais teórica, unifica os conceitos de “eros” (amor entre homem e mulher) e “agape” (a caridade, o amor que se doa ao outro); na segunda, centra-se na ação caritativa da Igreja, que apresenta como mais do que uma mera forma de “assistência social”, mas como uma parte essencial da sua natureza.

Spe salvi (Salvos na esperança) é o título da segunda encíclica de Bento XVI, de 2007, dedicada ao tema da esperança cristã, num mundo dominado pela descrença e a desconfiança. “O homem tem necessidade de Deus, de contrário fica privado de esperança”, pode ler-se num texto que cita, entre outros, Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoievski, Engels e Marx – ao criticar o “materialismo” marxista.

Depois de negar que Jesus tenha trazido uma mensagem “socio-revolucionária”, Bento XVI abordou a questão da evolução para afirmar que “a vida não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como amor”.

A terceira encíclica, Caritas in Veritate (A Caridade na verdade), publicada em 2009, propõe uma nova ordem internacional, para governar a globalização e superar as sucessivas crises, apontando como prioridade a “reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitetura económica e financeira internacional”.

Bento XVI propôs “uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins, bem como uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento”.

Em 2012, Joseph Ratzinger encerrou a sua trilogia sobre Jesus de Nazaré com um livro sobre a infância de Cristo.

A 18 de abril, Bento XVI tornou-se o terceiro Papa a discursar na sede da ONU, depois de Paulo VI, em 1965, e João Paulo II, em 1979 e 1995.

A promoção dos direitos humanos continua a ser a estratégia mais eficaz para eliminar a desigualdade entre os países e os grupos sociais, como também para construir um maior sentimento de segurança”, afirmou, numa intervenção longamente aplaudida, em Nova Iorque.

Entre os temas centrais do pontificado estiveram as críticas ao relativismo e ao secularismo da sociedade ocidental, a preocupação com as questões ditas bioéticas – aborto, eutanásia, investigação em embriões – e da família, para além da crise financeira e das questões ecológicas.

Face à crise provocada pelos casos abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições católicas de vários países, Bento XVI encontrou-se com vítimas em várias viagens, demitiu bispos e reformou a legislação da Igreja, neste campo.

A 8 de fevereiro de 2022, o Papa emérito divulgou uma carta, após acusações de má gestão de casos de abusos sexuais, enquanto arcebispo de Munique, pedindo perdão a todas as vítimas destas situações.

Neste pontificado foram canonizados 44 santos em dez cerimónias, incluindo o português Nuno de Santa Maria, o condestável Nuno Álvares Pereira, a 26 de abril de 2009; Portugal passou a contar também com duas novas beatas: Rita Amada de Jesus (beatificada a 28 de maio de 2006, em Viseu) e a madre Maria Clara (21 de maio de 2011, Lisboa).

Nos 2872 dias do seu pontificado, Bento XVI escreveu 17 cartas apostólicas sob forma de motu proprio,116 constituições apostólicas e 144 cartas apostólicas, além de outras cartas e mensagens, discursos e homilias.

 

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