Morreu aos 81 anos

George Pell, o cardeal que esteve 404 dias preso e que o Papa diz ter sido “um servo fiel”

| 11 Jan 2023

papa francisco com cardeal george pell, foto vatican media

Francisco recordou o “testemunho coerente e comprometido” de George Pell, “a sua dedicação ao Evangelho e à Igreja, sobretudo a sua diligente cooperação com a Santa Sé” na recente reforma económica. Foto © Vatican Media.

 

Chegou a ser uma das figuras mais importantes do Vaticano, escolhido por Francisco para o cargo de prefeito da Secretaria para a Economia. Foi o clérigo católico mais velho condenado por abuso sexual de menores. Passou 404 dias preso no seu país natal, a Austrália, até ser absolvido. O cardeal George Pell, que esteve no funeral de Bento XVI na passada quinta-feira, acabou por morrer esta terça-feira, 10 de janeiro, em Roma, aos 81 anos, na sequência de complicações cardíacas resultantes de uma cirurgia à anca, avança o Vatican News.

“Esta notícia é um grande choque para todos nós”, disse o arcebispo católico de Sydney, Anthony Fisher, numa publicação na sua página de Facebook pouco antes da meia-noite. “Por favor, rezem pelo repouso da alma do cardeal Pell, pelo conforto e consolo para sua família e para todos aqueles que o amaram e estão a sofrer neste momento.”

Já na manhã desta quarta-feira, o arcebispo publicava um “comunicado completo”, juntamente com o vídeo que pode ser visto abaixo (em inglês), onde descreve Pell como “um excelente padre, uma boa alma cristã”, e um “homem de coragem e com um grande coração, que confiava na Divina Providência”.

Em simultâneo, o Papa Francisco fazia chegar um telegrama de pesar pela sua morte ao cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício. Francisco exprimia a sua tristeza e proximidade a todos os cardeais citando também o irmão do cardeal Pell, David, e os membros da sua família.

Francisco recordou com o coração agradecido o “seu testemunho coerente e comprometido, a sua dedicação ao Evangelho e à Igreja, sobretudo a sua diligente cooperação com a Santa Sé” na recente reforma económica, para a qual “ele lançou as bases com determinação e sabedoria”.

“Elevo orações de sufrágio para que este servo fiel, que sem vacilar seguiu o seu Senhor com perseverança mesmo na hora das provações, seja acolhido na alegria do Céu e receba a recompensa da paz eterna”, escreveu ainda o Papa.

 

A reputação manchada pelo escândalo

George Pell estava em Roma desde setembro de 2020, depois de ter passado três anos na Austrália devido a um processo de acusação por abusos sexuais de menores nos anos 1990.

Em 2013, o Papa Francisco tinha-o nomeado para o restrito Conselho dos Cardeais, organismo de aconselhamento do líder da Igreja Católica para a reforma da Cúria Romana, e para o cargo de prefeito da Secretaria para a Economia – na prática, o ministro das finanças do Vaticano.

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Durante o tempo que passou detido, Pell manteve um diário documentando tudo, que deu origem a uma trilogia.

Em junho de 2017, foi para a Austrália para ser julgado. O Papa concedeu-lhe um período de licença para poder defender-se das acusações de abuso de menores de que era alvo. Depois de um longo debate judicial, o Tribunal do Condado de Victoria ordenou a prisão do cardeal, revogando a liberdade sob fiança concedida em dezembro de 2018. Em março de 2019, foi condenado a uma pena de seis anos, por abusos a dois adolescentes que cantavam no coro da Catedral de St. Patrick, quando George Pell era arcebispo de Melbourne, em 1996. O clérigo afirmou sempre que estava inocente e o Supremo Tribunal da Austrália, à luz de numerosas falhas formais nos procedimentos processuais apontados pelo juiz Mark Weinberg, admitiu o pedido de recurso apresentado pelos advogados de Pell, que acabou por ser completamente absolvido por uma decisão do Supremo Tribunal em abril de 2020.

Durante o tempo que passou detido, Pell manteve um diário documentando tudo, desde as suas orações e leituras diárias das Escrituras até às conversas que mantinha com os capelães e os guardas da prisão. Estes registos dariam origem à trilogia “Diário da Prisão“, cuja receita serviria para pagar as suas substanciais contas legais, recorda o National Catholic Reporter, afirmando que “mesmo após ser absolvido, a reputação de Pell permaneceu manchada pelo escândalo”.

De resto, as famílias das alegadas vítimas já informaram que não vão desistir dos processos, com Lisa Flynn, diretora do escritório de advogados que representa o pai de uma delas, a garantir que irá manter “o processo contra a Igreja”, nomeadamente pela procura de possíveis compensações. “Há ainda uma grande quantidade de provas que sustentam a acusação”, acrescentou. No ano passado, o Supremo Tribunal da região de Victoria tinha recusado um pedido da Igreja Católica para suspender o processo.

 

Trocou o futebol pelo seminário

Nascido em 1941 em Ballarat, na Austrália, Pell era o mais velho de três irmãos. O seu pai, também chamado George Pell, era lutador de boxe e anglicano. A sua mãe, Margaret Lillian, era oriunda de uma família católica irlandesa.

Com 1,93 m de altura, Pell foi um talentoso jogador de futebol australiano na sua juventude e chegou a receber uma proposta para jogar profissionalmente pelo Richmond, mas acabou por optar por ir para o seminário. Ordenado padre em 1966, tornou-se bispo em 1987 e cardeal em 2003, tendo sido arcebispo de Sydney e Melbourne no final da década de 1990 e no início dos anos de 2000.

Na entrevista que concedeu antes do Natal à TV Mediaset, o Papa Francisco recordou o trabalho feito  pelo cardeal no âmbito da reforma económica, sublinhando que devido a uma “calúnia” – referindo-se às acusações de abusos na Austrália – ele teve que se “distanciar desta administração”. “Foi Pell quem fez o esboço de como poderíamos seguir em frente”, disse o Papa. “Ele é um grande homem e nós devemos-lhe tanto.”

 

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