Morreu João de Almeida, renovador da arquitectura religiosa em Portugal

João de Almeida. Foto: DIreitos reservados
Em Maio de 2015, manifestava-se, em entrevista ao Expresso um homem “cem por cento contente com a vida” (texto disponível apenas para assinantes). O arquitecto e pintor João de Almeida, fundador do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR) morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 92 anos, na sequência de vários problemas de saúde. Tinha sido internado na madrugada de domingo, no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. O seu funeral e cremação será esta quarta, 24 de Junho, às 17h, no cemitério do Alto de São João.
João Paiva Raposo de Almeida nasceu em Lisboa em 1927, dedicou a sua vida sobretudo à arquitectura e também à pintura. Na década de 1950, foi um dos fundadores do MRAR, com os colegas Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, um movimento essencial na renovação da linguagem das artes e da arquitectura em Portugal, no que à expressão religiosa diz respeito.
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, “lamenta profundamente” a morte de João de Almeida, de acordo com notícia da agência Lusa citada na Rádio Renascença.
No seu livro MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa – os anos de ouro da Arquitetura Religiosa em Portugal no século XX, o também arquitecto João Alves da Cunha recorda o início do curso na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi discípulo de Leopoldo de Almeida, Lagoa Henriques e Frederico George. Após ano e meio, João de Almeida decidiu mudar para arquitectura, interrompendo o novo curso para fazer três anos de estágios em Paris, Basileia e Trier.
Em Paris, João de Almeida esteve com os padres dominicanos Marie-Alain Couturier e Pie-Raymond Régamey, os responsáveis da revista L’Art Sacré, que nessa época era uma referência da renovação da arte contemporânea. Foi precisamente o padre Régamey que lhe sugeriu a ida para Basileia, onde se encontrou com Hermann Baur, figura incontornável da arquitectura sacra na Europa Central, que desenhou quase 30 projectos de igrejas em França, Suíça e Alemanha.
Num catálogo de uma exposição dedicada à sua obra, João Pedro Cunha recorda que pela casa de Baur passavam artistas como Albert Schilling, Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szènes e ainda o teólogo, futuro cardeal, Hans-Urs von Balthasar.

Interior da Igreja Santo António de Moscavide, uma das obras de João de Almeida. Foto © Rui Martins/SNPC
“Regressou a Portugal no final de 1952 para entrar no Seminário dos Olivais, em Lisboa, onde esteve até à sua ordenação sacerdotal em 1958”, recorda Alves da Cunha. Entretanto, com o material que trouxe, João de Almeida organizou, com colegas e amigos, a Exposição de Arquitectura Religiosa Contemporânea, em 1953, para a qual escreveu o texto “O sentido da moderna arquitectura religiosa na Suíça”. Da exposição nasceria o MRAR, que juntaria, além de arquitectos, outros artistas como José Escada, Manuel Cargaleiro, Eduardo Nery, Madalena Cabral, entre outros.
Terminou o curso de arquitectura no Porto, mas foi de novo em Lisboa que apresentou o seu projecto final: a igreja da Sagrada Família, em Paço de Arcos, com a qual recebeu a classificação de 20 valores. Nesse mesmo ano, deixaria o ministério de padre, indo para Barcelona estagiar com Oriol Bohigas.

Exterior da Igreja de Santo António de Moscavide. Foto © Joao.pimentel.ferreira/Wikimedia Commons
Entre a sua vastíssima obra, destacam-se, na arquitectura religiosa, a Igreja de Santo António, (Moscavide, com Freitas Leal), a Igreja do Seminário de Penafirme (remodelação, com Freitas Leal) e a Igreja da Sagrada Família, em Paço de Arcos. João Alves da Cunha sublinha também o enorme contributo de João de Almeida para a renovação da ourivesaria sacra, já que foi autor de “dezenas de cálices, várias píxides, sacrários, castiçais e uma belíssima custódia em prata”.
No campo civil, fundou, com Pedro Emauz Silva, o ateliê ArquiIII, responsável pela reabilitação dos Paços do Concelho de Lisboa, renovação do Museu Nacional de Arte Antiga e reconversão do Convento das Bernardas (Lisboa) e do Convento das Chagas (Vila Viçosa). O ateliê venceu um Prémio Valmor em 1990, com as Residências Príncipe Real (Rua do Século, em Lisboa) e uma menção honrosa do mesmo galardão com o Edifício Administrativo da Expo 98.
João de Almeida foi ainda o autor dos projectos museográficos de grandes exposições como Feitorias da Flandres (Museu Nacional de Arte Antiga, 1992) e Triunfo do Barroco (Centro Cultural de Belém, 1993).
No final de 2012, a Fundação Medeiros e Almeida, onde era um dos administradores, em Lisboa, organizou uma exposição retrospectiva da sua obra completa.
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