
Cláudio Hummes nasceu Auri Afonso em 1934, mas mudou o seu nome para Cláudio, quando, em 1956, professou os votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores (franciscanos). Foto © Guilherme Cavali/site oficial da CNBB.
O cardeal que no último conclave (2013) segredou ao ouvido do seu colega Bergoglio, quando a contagem dos votos indicava que este seria o próximo Papa, “não te esqueças dos pobres”, morreu segunda-feira, dia 4 de julho, em São Paulo, Brasil. Chamava-se Cláudio Hummes, era franciscano e foi uma figura marcante da Igreja católica na América Latina e no mundo durante as últimas cinco décadas.
A nota de pesar emitida pela Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) relembra que “nos últimos anos, o seu empenho permitiu [dar] novo impulso à presença da Igreja na Amazónia, ao favorecer, por meio da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM), maior articulação, escuta às dores e alegrias dos povos e o protagonismo das comunidades.” Este envolvimento daquele que então já era arcebispo emérito de São Paulo “foi coroado com o Sínodo para Amazónia e a publicação da exortação apostólica Querida Amazónia”, escreve a CNBB, que conclui: “A criação da Conferência Eclesial da Amazónia, da qual dom Cláudio esteve à frente até quando sua saúde permitiu, também revela o esforço para realizar os sonhos apontados pelo Papa Francisco para a região amazónica.”
Enquanto arcebispo de São Paulo, como antes quando era bispo coadjutor na mesma arquidiocese, Hummes foi uma voz crítica da ditadura militar, acompanhou a pastoral operária durante os anos de maior repressão e tornou-se um símbolo da igreja que opta pelos pobres, o que o terá levado a segredar aos ouvidos de Bergoglio a frase que levaria este, apesar de jesuíta, a escolher o nome de Francisco.
O cardeal dos povos da Amazónia

Após ter deixado a sua diocese e os cargos que exercia no Vaticano, Cláudio Hummes, dedicou-se à causa dos povos da Amazónia. Hummes era cardeal e foi arcebispo de São Paulo. Foto do site oficial da CNBB.
Após ter deixado a sua diocese e os cargos que exercia no Vaticano, dedicou-se à causa dos povos da Amazónia, tendo presidido à celebração [ver 7MARGENS] que, em outubro de 2019, reeditou o “Pacto das Catacumbas”, celebrado na catacumba de Santa Domitília, em Roma, em 1965. Nesta data, Dom Hélder Câmara foi um dos organizadores da celebração realizada pouco antes da conclusão do Concílio Vaticano II e um dos redatores do pacto assinado por cerca de 40 bispos latino-americanos que se comprometiam na opção preferencial pelos pobres. Em 2019, durante o Sínodo para a Amazónia, foi o cardeal Hummes quem presidiu à celebração, na mesma catacumba da Santa Domitília, do “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum” no qual os prelados da América Latina reafirmam a opção das suas igrejas locais pelos pobres.
“Dom Cláudio nos instou a tornar possível essa Igreja em saída e a responder aos desafios da realidade territorial amazónica onde somos instrumento de trabalho sinodal como metodologia eclesial, onde estão presentes na qualidade de sujeitos, não somente os pastores, mas também as pessoas consagradas, as mulheres e os leigos”, lembram numa nota comum de despedida a Rede Eclesial Pan-Amazónica (Repam) e a Conferência Eclesial da Amazónia (Ceama), duas instituições que foram presididas pelo cardeal Hummes.
As duas instituições reafirmam o seu compromisso no “bioma amazónico” para continuar a missão de “cuidar da ecologia integral com muito amor, inspirados pelo Espírito Santo, em uma Igreja que escuta, honra, caminha e respeita as culturas, identidades e espiritualidades das comunidades locais, quilombolas, ribeirinhas e indígenas das áreas urbanas e rurais da região Pan-Amazónica”. Neste compromisso reafirmado esperam “tornar realidade uma pastoral missionária que busca renovar a formação e as práticas dos atores eclesiais, respondendo à realização dos sonhos da Querida Amazónia, através de uma Igreja Sinodal inspirada no Concílio Vaticano II”.
O cardeal Cláudio Hummes nasceu Auri Afonso em 1934, mas mudou o seu nome para Cláudio, quando, em 1956, professou os votos perpétuos na Ordem dos Frades Menores (franciscanos) em que entrara em 1952. Foi bispo coadjutor e bispo titular de Santo André, em São Paulo [1975-1996], e arcebispo das arquidioceses de Fortaleza, no Ceará, e de São Paulo [1998-2006], tendo também sido prefeito da Congregação para o Clero (Vaticano) entre 2006 e 2010. Foi nomeado presidente da Comissão Episcopal para a Amazónia da CNBB, cargo que exerceu até março de 2022. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazónica, da qual foi o primeiro presidente. Foi relator-geral do Sínodo para a Amazónia, em 2019, e, de julho de 2020 a março de 2022, presidiu a recém-criada Conferência Eclesial da Amazónia.