
O Movimento Russo de Objetores de Consciência diz-se empenhado em “apoiar aqueles que resistem à guerra e ao recrutamento forçado”. Foto © Patty_C.
A vida dos objetores de consciência na Rússia e na Ucrânia tornou-se muito complicada, sobretudo a partir do momento da invasão e do início da guerra, segundo testemunhos que vão chegando dos dois países.
Neste quadro, a medida anunciada pelas autoridades russas, no passado dia 23 de junho, de classificar o Movimento Russo de Objetores de Consciência (MOC) como “agente estrangeiro” veio agravar as dificuldades.
Entre os motivos para essa classificação, o Ministério russo da Justiça acusa o Movimento de alegadamente divulgar informações falsas sobre as ações, decisões e políticas do governo, e de se opor às ações militares da Rússia na Ucrânia.
Numa declaração sobre a matéria, publicada na última segunda-feira, o MOC afirma que a medida oficial demonstra “a eficácia” do trabalho que tem vindo a desenvolver”, mas que é “fundamentalmente uma aplicação discriminatória da lei que contradiz os direitos humanos e as liberdades universalmente aceites”.
Além de ter tomado medidas para acautelar a segurança dos seus membros sediados na Rússia, perante “um risco acrescido de pressão e perseguição por parte do Estado”, o MOC diz-se empenhado em “apoiar aqueles que resistem à guerra e ao recrutamento forçado” e “formar os indivíduos sobre o seu direito à objeção de consciência ao serviço militar”.
Entretanto, tem estado a decorrer num tribunal eclesiástico ortodoxo o julgamento do padre Ioann Burdin, pároco na região russa, por ter rezado pelo fim da guerra. O padre da Igreja Ortodoxa Russa, explicita e assertivamente alinhada com a política de Vladimir Putin, foi um dos primeiros a ser afetado pela nova lei, que criminaliza os apelos ao fim da guerra.
Entendendo que é insuportável ver cristãos russos a matar cristãos ucranianos, Burdin anunciou, num sermão, em outubro de 2022, a intenção de rezar pelo fim da guerra. Isto custou-lhe a suspensão e ter sido já condenado por um tribunal administrativo ao pagamento do valor de um salário médio de um mês, na região russa de Kostroma.
No plano do direito eclesiástico, as objeções à guerra por parte deste presbítero são vistas como forma de “minar a confiança dos crentes no patriarca e nos bispos” e de prejudicar a unidade da Igreja.
Na documentação do processo, alguma da qual divulgada na internet, afirma-se que a posição pacifista pode ser considerada utópica e herética por estar próxima da ideia de estabelecer o “céu na terra”, em vez de esperar pelo mundo que há de vir.
Além disso, a Igreja Ortodoxa Russa, que tem historicamente “abençoado os guerreiros que defendem a Pátria”, considera tal posição anti-russa e, por isso, mesmo, “inaceitável”.