
A maioria das denúncias refere-se a abusos de menores de 18 anos (42 casos), seguindo-se os abusos de adultos vulneráveis (com 17 situações registadas). Foto © doidam10.
Houve 61 denúncias de abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis no âmbito do Movimento dos Focolares entre 2014 e 2022, revela o relatório de uma comissão independente encarregue pelo próprio movimento de efetuar um estudo sobre as práticas de abusos pelos seus membros, a nível mundial. O documento, divulgado na passada sexta-feira, 31 de março, avança que, do total de 66 alegados abusadores (algumas das vítimas terão sido abusadas por mais de uma pessoa), 20 viram já ser-lhes retirados os votos e seis estão afastados enquanto decorrem as investigações.
A maioria das denúncias refere-se a abusos de menores de 18 anos (42 casos), seguindo-se os abusos de adultos vulneráveis (com 17 situações registadas). Foram ainda verificadas duas situações relativas a posse de pornografia infantil.
Dos 66 alegados abusadores, 53 são leigos (dos quais 32 com votos professados), cinco são padres, quatro são menores de idade e quatro não são membros dos Movimento dos Focolares, mas cometeram o alegado abuso dentro das estruturas ou em atividades do mesmo. O relatório refere ainda a distinção por género dos suspeitos: 63 são homens e três mulheres.
O Movimento avançou, até ao momento, com 20 “demissões”, ou seja, “a pessoa consagrada fica dispensada dos votos por condenação ou repreensão, devido a ter cometido um crime contra um menor ou adulto vulnerável”. Atualmente, há seis pessoas “suspensas”, a aguardar decisão de instância superior (na sua maioria, da parte da autoridade eclesiástica), e ainda nove casos “sujeitos a sanção”, 19 “pendentes”, e 12 arquivados, dos quais um falecido. Nestes casos, os indícios foram “insuficientes para proceder a investigação”. Do total de suspeitos, nove foram “assinalados às autoridades judiciais”.
Quanto à distribuição geográfica destas denúncias, mais de metade (39) foram registadas na Europa, 15 na América, quatro em África e três na Ásia/Oceania, revela o relatório.
A comissão refere ainda ter identificado 22 denúncias de “abusos sexuais, de consciência, espirituais e de autoridade relativamente a adultos”, entre 2018 e 2022. Estes abusos terão sido perpetrados por um total de 31 elementos do Movimento, dos quais 28 eram leigos consagrados e três padres, e na sua maioria mulheres (19).
Medidas recomendadas já em implementação
O estudo, encomendado pelo Movimento à GCPS Consulting (empresa independente especializada em ajudar organizações a garantir a segurança de crianças, grupos vulneráveis ou “em risco” e a melhorar os seus sistemas de prevenção e denúncia de casos de abusos), refere as medidas que a mesma aconselha implementar de modo urgente “para iniciar firmemente no Movimento um caminho de reparação e de recomeço positivo”.
De resto, algumas delas já se encontram em fase de implementação, como é o caso da criação de “linhas de apoio e reparação financeira“, que têm vindo a ser criadas nos diferentes países em que o Movimento está presente desde janeiro deste ano.
Outra das medidas recomendadas que já está ser colocada em prática é a “promoção de uma reflexão e mudança de cultura sobretudo na liderança do Movimento”, nomeadamente através da organização de diversas ações de formação lideradas por especialistas externos ao Movimento.
Foi ainda criada uma Comissão Central Independente, além das comissões locais, que ficará encarregue de publicar, anualmente, um relatório sobre o trabalho desenvolvido “relativo aos casos de abusos, às medidas de prevenção e proteção no Movimento dos Focolares e às atividades de formação dos seus membros em matéria de proteção da pessoa”.