
Jean-François Chiron, teólogo francês, coloca na mesa uma nova forma de tomar decisões na Igreja que pode resultar deste Sínodo. Foto © Direitos Reservados
“Na Igreja, a tomada de decisão resume-se a ‘uma só pessoa’. Essa é uma estrutura que encontramos a três níveis: o Papa na Igreja [universal], o bispo na diocese e o padre na paróquia.” A análise vem de Jean-François Chiron, teólogo especialista em Eclesiologia, atualmente professor na Universidade de Lyon, França.
Em entrevista ao La Croix International, o académico pronuncia-se sobre o impacto do atual sínodo sobre a sinodalidade na organização da Igreja Católica, focando de modo particular o delicado tema do exercício da autoridade, tema que – importa referir – o documento preparatório difundido pelo secretariado geral inscreve na agenda das questões acerca as quais convida os membros da Igreja a refletir.
O entrevistado começa por desenhar dois cenários que poderão sair do atual processo sinodal. Um aponta para a manutenção do status quo atual, ainda que apelando ao reforço e aproveitamento dos espaços existentes para aprofundar a participação, nomeadamente dos leigos. Outro seria conferir aos conselhos pastorais das paróquias (que os têm) e diocesanos poder deliberativo.
Contudo, observa Chiron, se se rompesse com a situação atual, conferindo esse poder num nível (paroquial, diocesano ou central), “teríamos que fazê-lo também nos outros níveis, o que seria uma verdadeira revolução”. “Não seria honesto”, em sua opinião, enveredar por um processo mais democrático num nível, deixando os outros de fora.
No quadro atual, o Papa consulta o povo de Deus, mas é ele que tem a “última palavra”. A tradição católica valoriza o “um que decide”: conforme o nível, o Papa, o bispo e o pároco. “A sinodalidade consiste em dar maior valor aos outros dois níveis, começando pelo segundo (‘alguns’), composto pelos bispos e cardeais no nível da Igreja universal; os sacerdotes, diáconos e conselhos a nível diocesano; e os conselhos e equipas pastorais ao nível paroquial. “A Igreja não é uma democracia, mas os ‘alguns’ podem ser representantes de ‘todos’”, acrescenta ainda.
Sobre a questão de um funcionamento de tipo democrático, o teólogo de Lyon diz-se surpreendido por declarações do Papa, críticas da via consensual. Isto porque, nos conselhos pastorais, é aos consensos que a vida eclesial aspira. Coisa bem diferente ocorre nas assembleias políticas, em que “é a maioria que prevalece”.
Apesar de tudo, o teólogo Jean-François Chiron acha que a grande maioria dos católicos “não aspira necessariamente a grandes mudanças”. “Já ficam satisfeitos se o seu pároco ou bispo é capaz de os ouvir” e reagem negativamente quando estes se recusam a ouvi-los. “Na verdade, mais do que estruturas, muitas vezes é uma questão de pessoas (…). Acredito na reforma das instituições, mas o que conta é a conversão das pessoas”, remata.
(Atualização dia 21, às 16h30: a entrevista de Jean-François Chiron foi entretanto traduzida na íntegra no portal da arquidiocese de Braga, onde pode ser lida na íntegra, em português.)