Sínodo da Alemanha

Mulheres diáconos, celibato opcional e bênçãos de recasados e casais gays

| 11 Mar 2023

Quarta Assembleia Sinodal do Caminho Sinodal, em Frankfurt. Foto © Synodaler Weg/Maximilian von Lachner.

Imagem da quarta Assembleia Sinodal do Caminho Sinodal, em Frankfurt. Foto © Synodaler Weg/Maximilian von Lachner.

 

O Caminho Sinodal da Igreja Católica da Alemanha terminou este sábado, 11 de março, em Frankfurt, depois de os participantes terem aprovado matérias como o acesso ao diaconado para as mulheres, o fim do celibato obrigatório para os ministérios ordenados e a instituição de uma cerimónia de bênção para casais homossexuais e para divorciados recasados, entre outros temas polémicos.

As questões relacionadas com a estrutura e poder na Igreja, como conselhos sinodais nacional e diocesanos com capacidade de tomar decisões, foram adiadas, depois de fortes pressões oriundas do Vaticano, nos últimos meses.

O Caminho Sinodal aprovou também a constituição de um comité sinodal que vai, ao longo dos próximos três anos, acompanhar a aplicação das decisões que foram sendo tomadas nas cinco sessões em que se desdobrou este processo, iniciado em dezembro de 2019. Este comité deverá, entre outras matérias, retomar o assunto do conselho sinodal nacional, desconhecendo-se se na base da proposta que estava desenhada ou de outra, de natureza diferente. 

Algumas das decisões tomadas, como o diaconado das mulheres ou as alterações na disciplina do celibato terão de aguardar, uma vez que ficam dependentes do diálogo com o Vaticano, dos debates no Sínodo dos Bispos (duas sessões, em outubro de 2023 e de 2024) e, em última análise, de decisão do Papa.

A partir de agora, nas matérias que dependem da Igreja universal, abre-se um novo processo que, segundo o bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal alemã, “levará o seu tempo”. Daí que, em declarações citadas pelo jornal francês La Croix, Bätzing apele à Cúria Romana “a não responder de forma burocrática”, mas através de um “processo aberto e sinodal”. “Os temas que aqui discutimos não são exclusivamente alemães, são igualmente da Igreja universal” e, consequentemente, do sínodo sobre a sinodalidade.

O ambiente era, apesar de tudo, de alívio contido e de contentamento relativo, na conferência de imprensa, no final dos trabalhos, em que participaram, enquanto co-presidentes do sínodo, o bispo Bätzing e Irme Stetter-Karp, a presidente do comité central dos católicos alemães (ZdK, na sigla em alemão).

“Um grande peso caiu do meu coração. O caminho sinodal funcionou. Não era um tigre de papel”, regozijou-se o bispo Bätzing. “E não conduziu a uma divisão da Igreja ou à criação de uma Igreja nacional”, acrescentou, chamando aos “ventos contrários” (opositores de fora e de dentro da Alemanha) uma “reação à força espiritual” desse processo.

Por sua vez, Irme Stetter-Karp congratulou-se pela cultura de debate aberto dentro da Igreja, que o Caminho Sinodal cultivou, em torno de um conjunto de tópicos que são a agenda da Igreja. Lamentou, no entanto, que não tenha sido possível “mudar efetivamente a estrutura” dessa Igreja. “Três anos e meio não foram suficientes”, disse ela, remetendo o trabalho para o comité sinodal “preparar um conselho sinodal no qual clérigos e leigos continuarão a tomar decisões juntos no futuro”, como aconteceu durante este Caminho Sinodal.

O documento sobre “a mulher nos ministérios sacramentais”, que defende o diaconado, foi apoiado por 177 membros com 12 votos contra e 13 abstenções. Dos bispos, 42 concordaram, dez votaram contra e seis abstiveram-se. 

Na altura foi igualmente votado um outro texto sobre a diversidade de género, que havia sido recusado na primeira leitura, na sessão sinodal do outono passado, devido à votação dos bispos presentes (sem uma maioria de dois terços deles os documentos não passam). Desta vez, os resultados foram claros: 170 dos 197 membros da assembleia presentes votaram a favor da declaração, oito contra e 19 abstenções. A votação dos bispos também foi clara: 38 votos a favor, sete contra e 13 abstenções.

Também o texto “Medidas contra o abuso de mulheres na Igreja” foi apresentado e discutido em primeira leitura, transitando agora para o comité sinodal.

Com uma grande maioria, a Assembleia Sinodal votou a favor da bênção de casais homossexuais e de divorciados recasados. Prevê-se que, em breve deverá ser formado um grupo para elaborar as diretrizes litúrgico-pastorais para as celebrações em que essa bênção ocorrerá.

Na parte final dos trabalhos, a Assembleia Sinodal elegeu os 20 membros que passam a integrar o Comité Sinodal, um órgão que continuará e implementará o trabalho do Caminho Sinodal nos próximos anos.  É constituído por um total de 74 membros, 27 dos quais são os bispos diocesanos alemães e 27 pertencem ao comité central dos católicos alemães. Entre os membros eleitos está a especialista em direito Charlotte Kreuter-Kirchhof, o chefe do escritório católico em Berlim, o bispo Karl Jüsten, e o canonista Thomas Schüller. 

Isto significa que o Caminho Sinodal alemão formalmente terminou mas … vai continuar.

 

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